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Raúl Castro, presidente cubano, visitou o papa Francisco no domingo (10). O pontífice teve papel crucial para a reaproximação diplomática entre Cuba e os EUA. | Gregorio Borgia/
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Raúl Castro, presidente cubano, visitou o papa Francisco no domingo (10). O pontífice teve papel crucial para a reaproximação diplomática entre Cuba e os EUA.| Foto: Gregorio Borgia/ Efe

O papa Francisco acompanha de perto o dia a dia dos argentinos e envia cartas e mensagens aos compatriotas cada vez que algum acontecimento desperta sua preocupação.

Nos últimos dias, o sumo pontífice solidarizou-se com a família de duas crianças, de 7 e 10 anos, que morreram sufocadas por um vazamento de gás numa das cerca de 3 mil fábricas têxteis clandestinas que, de acordo com a ONG La Alameda, funcionam na capital argentina, em regime semelhante ao de escravidão.

Em denúncias apresentadas à Justiça, a ONG comandada pelo vereador Gustavo Vera, amigo do papa, assegurou que os trabalhadores das fábricas clandestinas, a grande maioria imigrantes ilegais bolivianos, peruanos e paraguaios, são obrigados a cumprir jornadas de até 16 horas diárias e morar no local com a família.

O que aconteceu me causa muita dor. Peço ao Senhor que nos ajude para que este tipo de coisas, fruto da injustiça, nunca mais aconteçam.

Papa Francisco, sobre a morte de crianças numa fábrica têxtil da Argentina.

3 mil

fábricas têxteis clandestinas operam na capital e na província de Buenos Aires. Os bairros de Flores e Floresta concentram a maioria das fábricas, segundo a ONG La Alameda.

Trata-se de um drama que Francisco acompanhou e denunciou quando era arcebispo de Buenos Aires e colaborava com Vera, a quem enviou uma carta lamentando a trágica morte das crianças.

“A fábrica onde morreram as duas crianças tinha sido denunciada por nossa ONG em 2014, mas o governo portenho não fez nada. Apesar de nossas denúncias, cada vez temos mais fábricas clandestinas, na capital e na província de Buenos Aires”, diz Vera.

Chefe do governo portenho rebate acusações de ONG

  • Buenos Aires

As investigações e acusações da ONG La Alameda contra os empresários e contra o governo da província de Buenos Aires foram rebatidas por Maurício Macri, chefe do governo portenho, que evitou falar sobre o envolvimento de sua mulher no escândalo, e limitou-se a dizer que “diante da falta de trabalho, em muitos casos combinada com a imigração ilegal, existe gente que abusa”. O governo local informou já ter realizado mais de 600 inspeções.

“As declarações do chefe de governo foram absurdas, ele fala como se fosse um mero espectador”, diz o vereador Gustavo Vera, que confirmou ter recebido um e-mail do papa Francisco após a tragédia.

No texto, o pontífice afirmou: “O que aconteceu me causa muita dor. Estou junto a vocês e peço ao Senhor que nos ajude para que este tipo de coisas, fruto da injustiça, nunca mais aconteçam.”

”A corrupção é grande, a cada ano que passa vemos mais fábricas. Existe um sistema de cumplicidades entre a polícia, as grandes marcas de roupa e as autoridades portenhas”, diz o vereador portenho.

Semana passada, La Alameda organizou marchas em repúdio à morte das crianças e uma intensa campanha para denunciar a falta de inspeção às fábricas denunciadas.

Segundo a ONG, que já conseguiu várias condenações na Justiça, agências argentinas trazem trabalhadores ilegais de países limítrofes, que chegam ao país com a esperança de um futuro melhor. Esse foi o caso dos pais de Orlando e Rodrigo Camacho, as crianças que morreram.

De acordo com o pai dos meninos, o boliviano Esteban Mur, a família decidiu mudar-se para a Argentina porque não tinha como viver na Bolívia. Mas a realidade portenha foi muito pior do que imaginavam: entre 14 e 16 horas de trabalho todos os dias, sem documentos e morando em condições extremamente precárias, que terminaram matando seus dois filhos.

“As crianças estavam num sótão, onde dormiam, e não conseguiram escapar. Este é o drama de centenas de famílias de imigrantes ilegais, que trabalham para grandes grifes argentinas”, diz o vereador, que já denunciou marcas de prestígio nacional, entre elas Awada e Cheeky, que pertencem à família da empresária Juliana Awada, mulher do chefe de governo portenho, Maurício Macri, um dos candidatos para as eleições presidenciais de outubro.

De acordo com a ONG, existem mais de 3 mil fábricas clandestinas na capital e na província de Buenos Aires. Os bairros de Flores e Floresta concentram a maioria das fábricas da cidade, entre elas a que sofreu a fuga de gás no final de abril. Semana passada, a mesma fábrica pegou fogo, segundo o vereador, “um incidente que teria sido provocado para queimar provas”.

Papa recebe Raúl Castro no Vaticano

  • Vaticano

O ditador cubano Raúl Castro foi recebido neste domingo (10) pelo papa Francisco, no Vaticano. Castro esteve na Europa para participar na Rússia das celebrações dos 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial.

No ano passado, o papa teve papel crucial para mediar a reaproximação diplomática entre Cuba e os Estados Unidos, após mais de 50 anos de tensão.

Castro chegou às 7h30 da manhã locais e cumprimentou o papa em espanhol. Baixou a cabeça, segurou a mão do papa com suas duas mãos e os dois partiram para uma conversa reservada por quase uma hora – tempo generoso para os padrões do Vaticano.

O cubano já havia agradecido publicamente a Francisco por seu papel na negociação com os EUA. Após a reunião, ele disse aos jornalistas que fez pessoalmente o agradecimento.

Mais tarde, em entrevista coletiva com o primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, Castro disse que saiu do encontro com o papa “realmente impressionado com sua sabedoria e sua modéstia” e prometeu ir a todas as missas quando Francisco visitar Cuba, em setembro.

Castro afirmou que lê todos os discursos do primeiro papa da América Latina, que faz da defesa dos pobres uma prioridade de seu papado.

Agrados

Os dois trocaram presentes. O papa deu a Castro uma medalha de São Martinho de Tours, conhecido na tradição cristã por compartilhar seu abrigo com um mendigo.

Já Castro deu ao papa um quadro do artista cubano Alexis Leiva Machado, conhecido como Kcho, retratando uma cruz feita com barcos de náufragos clandestinos que chegam à ilha italiana de Lampedusa.

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