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Duas imagens da região do Chaco: homem cuida de gado (à esq.) e estrada de terra (à dir.) em território paraguaio onde os norte-americanos poderiam criar uma base militar | Fotos: Noah Friedman Rudovsky
Duas imagens da região do Chaco: homem cuida de gado (à esq.) e estrada de terra (à dir.) em território paraguaio onde os norte-americanos poderiam criar uma base militar| Foto: Fotos: Noah Friedman Rudovsky

Outro lado

Embaixada americana critica "desinformação" e nega "rumores"

A suposta pretensão americana de instalar uma base militar no Paraguai é alardeada pela imprensa internacional há quase uma década e, em alguns casos, tratada como teoria da conspiração. A embaixada dos EUA em Assunção chegou a criar uma seção em sua página na internet sob o título "Rumores e Desinformação", desmentindo o interesse em se firmar em terras guarani.

O informe afirma que "os Estados Unidos não têm planos para uma base militar no Paraguai", não têm interesse no Aquífero Guarani e desmentem a informação de que o Aeroporto Internacional de Mariscal Estigarriba teria sido construído e é operado por norte-americanos. Ao mesmo tempo que não confirma as intenções norte-americanas, a Embaixada mantém uma série de programas e convênios com o Paraguai. Missões humanitárias feitas por militares para prestar atendimentos médicos à população são comuns e realizadas periodicamente no país.

Uma das mais recentes foi realizada na região do Chaco. Por meio do Programa da Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), a embaixada fornece ao país apoio às comunidades carentes, serviços de saúde, capacitação profissional entre outros benefícios.

Outro programa, o Umbral, em prática desde 2006, é voltado para o combate à corrupção e o fortalecimento do Estado de Direito, segundo a embaixada. Forças de segurança de Ciudad del Este já receberam caminhonetes e lanchas por meio do programa.

A historiadora paraguaia Milda Rivarola diz que a relação amistosa entre os EUA e o Paraguai foi estabelecida principalmente no período ditatorial e se continuou depois dele. No entanto, ela descarta a possibilidade de Federico Franco levar adiante o projeto da base militar porque ele tem menos de um ano de governo. "É pouco tempo e pouca legitimidade", afirma.

A intensificação de atividades dos Estados Unidos no Paraguai rotuladas como "humanitárias" e a presença de militares norte-americanos de alta patente no país após a destituição do ex-presidente Fernando Lugo estreitam as relações entre os dois países e ressuscita a possibilidade da instalação de uma base militar norte-americana no Paraguai.

Discurso recorrente, as pretensões de ter uma base militar no Paraguai é oficialmente negada pelo atual governo do presidente liberal Federico Franco. No entanto, analistas geopolíticos consultados pela Gazeta do Povo não descartam a possibilidade até porque há uma animosidade entre o Paraguai e os países do Mercosul, criada após o país ter sido suspenso do bloco até abril de 2013, data da próxima eleição presidencial.

Primeiro país a reconhecer o novo governo após a queda de Lugo, os Estados Unidos, na visão de analistas, teria interesse na manutenção de sua hegemonia na região em detrimento de uma integração latino-americana. O estabelecimento da suposta base militar, no vilarejo de Mariscal Estigarriba, na região do Chaco paraguaio, permitirá maior proximidade com os países sul-americanos e respostas imediatas na hipótese de confrontos.

Outras justificativas seriam a de permitir o acesso estadunidense ao Aquífero Guarani, uma das maiores reservas de água potável do mundo, e facilitar as ações de órgãos de segurança dos EUA na área da Tríplice Fron­­teira – apontada como reduto de células terroristas do Hezbollah, Hamas e Al-Qaeda, de acordo com relatórios de militares americanos, apesar da ausência de provas concretas.

Especialista em geopolítica sul-americana, Carlos Pereyra Mele, de Córdoba, na Argentina, diz que o posicionamento do Paraguai atende um interesse estratégico dos EUA. "As atitudes do governo Franco estão incentivando situações extremas que podem originar conflitos em uma zona que estava em paz e em desenvolvimento".

No Brasil, o ministro da Defesa, Celso Amorim, classificou como "esdrúxula" a hipótese e afirmou que, caso se concretizasse a instalação, "resultaria no isolamento de longo prazo do Pa­­raguai."

Evidências

Apesar da negativa do go­­verno paraguaio, o depu­­tado José López Chávez, pre­­sidente da Comissão de De­­fesa Nacional, Segurança e Ordem Interna da Câmara dos Deputados do Paraguai, manteve conversas no fim de junho com generais norte-americanos para negociar a instalação da base militar no Chaco, região ocidental do Paraguai.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Lopéz Chávez admite que até agora o assunto foi tratado informalmente com líderes militares e políticos. No entanto, ele disse que pretende abrir um debate no parlamento para discutir o assunto e fazer um pedido formal ao presidente Federico Franco para instalar a base.

Para López Chávez, a pre­­sença norte-americana no­­ Paraguai é uma forma de­­ proteger o país, desprovido de tecnologia e recursos para combater o narcotráfico. Os EUA, segundo ele, poderiam ser aliados na luta contra o Exército do Povo Paraguaio (EPP) e contribuir para o desenvolvimento da região do Chaco, área cobiçada por empresas norte-americanas, incluindo as petrolíferas. "Nós não temos outra intenção a não ser lutar contra a guerrilha e o narcotráfico e sabemos que um país grande como os EUA pode nos ajudar nisso", afirma.

O deputado diz que o Paraguai tem o direito de se aliar aos EUA porque a Bolívia hoje recebe ajuda da Venezuela.

Sem Lugo, países se reaproximaram

Fatos ocorridos nos últimos meses mostram o estreitamento das relações entre os EUA e o Paraguai após a queda de Fernando Lugo, no dia 22 de junho.

Em agosto, oficiais das forças armadas americanas teriam se deslocado até a fronteira com o Brasil, em companhia de militares paraguaios, para registrar a movimentação de tropas brasileiras na Operação Ágata 5.

Um graduado militar brasileiro, que participou da operação, encerrada nesta semana, relatou que os americanos teriam permanecido em solo paraguaio.

A presença deles teria sido detectada entre Foz do Iguaçu e Guaíra. Em nota, o Ministério da Defesa do Brasil informou que não recebeu comunicação oficial sobre o fato.

No mesmo período, soldados paraguaios participaram de exercícios militares no Canal do Panamá, em uma operação liderada pelo Comando Sul das Forças Navais e pela 4.ª Frota dos EUA. O Paraguai esteve afastado do Panamax desde 2009, época em que Lugo presidiu o país.

Encontro

Em julho, o embaixador norte-americano no Pa­raguai, James Thessin, esteve em Ciudad Del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu, para se encontrar com o governador de Alto Paraná, Nelson Aguinagalde.

Após uma reunião fecha­­da em um hotel, Agui­­na­­galde disse a jornalistas que Thessin solicitou detalhes sobre a comunidade árabe local e informações sobre o tráfico de drogas na fronteira.

Parlamentares

Cerca de 15 dias depois da passagem de Thassin, a Tríplice Fronteira recebeu a visita de cinco membros da Câmara de Representantes do Parlamento Norte-Ame­ricano.

Eles estiveram na região para levantar informações sobre crimes transnacionais.

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