Paradeiro
Refugiados podem estar em Curitiba
Helena Carnieri e Denise Paro
O pedido feito pelo governo paraguaio para a extradição de três paraguaios refugiados no Brasil levanta uma dúvida: onde exatamente estão eles? O Ministério da Justiça brasileiro informa apenas que a legislação não permite divulgar o paradeiro.
Segundo a Embaixada do Brasil em Assunção e jornalistas do La Nación, eles estariam em Curitiba, mas o consulado na capital paranaense e a associação Casa Paraguaia nunca ouviram falar deles. Já a Policia Nacional, do Paraguai, acredita que eles estejam em Foz, de onde fariam entradas clandestinas no território paraguaio.
Se for verdade, o grupo pode perder a condição de refugiado político concedida pelo Brasil. "Se a pessoa recebe o status de refugiado, deve prestar informações (de seu paradeiro). Se não fizer, o governo pode achar que a pessoa não merece ou não precisa de proteção", explica o juiz federal Friedman Wendpap.
Origem
Guerrilha quer "pulverizar classe política" e tomar poder
Da Redação
"Frente à mentira reacionária, a verdade revolucionária." O lema do Exército do Povo Paraguaio (EPP) demonstra o impulso ativista do grupo guerrilheiro. Segundo documentos encontrados em um acampamento abandonado, no ano passado, o grupo tem inspiração marxista-leninista e pretende "pulverizar a classe política" paraguaia para tomar o poder.
Conforme os documentos, o EPP foi instituído oficialmente em 1º de março de 2008, após romper com o Partido Pátria Livre, efêmera sigla de extrema-esquerda paraguaia. Os documentos encontrados no acampamento relacionam 60 membros, alguns deles provenientes do Pátria Livre. O líder declarado é o ex-marceneiro Osvaldo Villalba, que foi introduzido na guerrilha pela irmã mais velha.
Para financiar suas operações, o EPP realiza sequestros e assaltos a banco. "Necessitamos de US$ 500 mil para iniciar nossa decolagem", calcula o grupo em um dos documentos.
A Procuradoria-Geral da República do Paraguai afirma ter provas de que o EPP mantém relações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
O governo paraguaio pressiona o Brasil para extraditar três paraguaios acusados de sequestro e ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Juan Arrom, Anuncio Martí e Victor Colmán estariam comandando, do Paraná, o Exército do Povo Paraguaio (EPP), grupo caçado pelo governo do esquerdista Fernando Lugo, que o acusa de inúmeros crimes cometidos a partir de 2001.
Após sua prisão e com o argumento de que teriam sofrido tortura para confessar os crimes, Arrom, Martí e Colmán receberam refúgio político do Brasil, concedido pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare).
O Paraguai alega ter provas contundentes da ligação dos três com as Farcs e novas evidências que relacionam o grupo ao sequestro da esposa de um rico empresário em 2002 (leia mais, ao lado) e quer que o Brasil reconsidere a concessão de refúgio. No início do mês, o Ministério das Relações Exteriores do Paraguai enviou um novo documento ao Conare solicitando a extradição. Até ontem, o Brasil ainda não havia se manifestado sobre o assunto, segundo a chancelaria paraguaia.
No documento, os paraguaios sustentam ter evidências materiais, como a troca de e-mails entre chefes das Farcs e membros do Partido Pátria Livre (PPL), braço político do EPP, dirigido por Arrom e criado em 2002 sob inspiração ideológica de extrema esquerda.
Alguns dos e-mails teriam sido localizados no computador de Raul Reyes, um dos líderes das Farcs morto há dois anos durante uma ação do Exército Colombiano.
Hoje, o PPL praticamente se desintegrou depois que muitos dos membros migraram para o EPP, segundo a imprensa paraguaia. Mesmo após o refúgio no Brasil, o trio continuaria dando ordens para o EPP agir no país vizinho.
Prisão
Enquanto o impasse com o Brasil não chega ao fim, as investigações sobre o paradeiro dos demais membros do EPP prosseguem no Paraguai. No último sábado, a Polícia Nacional prendeu Alcio Alcides Soria Riveiros, apontado como suposto colaborador logístico do EPP. Ele foi detido em uma rua do distrito de Horqueta, departamento de Concepción, no momento que iria a um campo de futebol.
O comissário chefe do Departamento da Polícia Nacional em Assunção, Oscar Laroza, diz que Riveiros é acusado de dar apoio logístico ao grupo. "Ele carregava os celulares e providenciava alimentação para o grupo", diz. Riveiros foi levado para Assunção de helicóptero e está detido na penitenciária de Tacumbu. Ele era procurado por suspeita de participação nos sequestros dos fazendeiros Luis Lindstron, em 2008, e Fidel Zavala, no ano passado.
Laroza diz que, há duas semanas, a Polícia Nacional montou 17 barreiras policiais em pontos de entrada e saída de Assunção. A medida foi adotada porque um manual apreendido, que seria do EPP, afirma que o grupo poderá atuar na cidade e promover novos sequestros.
Desde que iniciou sua cruzada contra os guerrilheiros, a polícia paraguaia capturou nove pessoas. Todas, porém, são consideradas integrantes da logística do grupo, colaborando com veículos, telefones e alimentação.
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