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Registro de 1956 do encontro entre os presidentes Alfredo Stroessner e Juscelino Kubitschek, em Foz do Iguaçu | Reprodução Christian RIZZI/Gazeta do Povo
Registro de 1956 do encontro entre os presidentes Alfredo Stroessner e Juscelino Kubitschek, em Foz do Iguaçu| Foto: Reprodução Christian RIZZI/Gazeta do Povo

Perseguidos pelo regime se refugiaram em Foz

Durante os anos de ditadura, para fugir da violência e da repressão no próprio país, milhares de paraguaios cruzaram a fronteira para se refugiar na região de Foz do Iguaçu.

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Na última terça-feira (dia 3), o Paraguai rompeu 20 anos de silêncio com atos oficiais que lembraram, em Assunção, a queda de um dos mais precoces e longos regimes autoritários da América Latina que deixou sequelas na política do país até os dias atuais.

O general Alfredo Stroessner assumiu o poder à força em 1954 e, 35 anos depois, foi deposto por um movimento comandado pelo próprio genro, Andrés Rodrigues. O ditador morreu em Brasília, em 2006, após 17 anos de exílio concedido pelo Brasil.

Durante quase quatro décadas, a vida dos paraguaios foi marcada por traços comuns dos regimes ditatoriais latino-americanos: perseguições, mortes, torturas, prisões injustas que contrastavam com discursos desenvolvimentistas.

Para o sociólogo e professor da Universidade Católica do Paraguai (UCA) José Nicolás Morínigo, a era Stroessner só chegou ao fim após quebra da hegemonia de 60 anos do Partido Colorado no poder a partir da eleição do presidente Fernando Lugo, no ano passado. Apesar disso, o país ainda não conseguiu extirpar as sequelas do pensamento ditatorial.

O professor ainda diz que as dificuldades de o poder legislativo em receber propostas do executivo ou de partidos vinculados ao presidente Fernando Lugo também são traços da ditadura. "Estamos iniciando um processo democrático e não há uma experiência nisso", salienta.

As políticas que o ditador adotou em relação ao Brasil chamam a atenção. Ele foi conhecido por estimular a colonização da fronteira, criando vantagens e atraindo os imigrantes brasileiros ao Paraguai, em meados da década de 1970, oferecendo terras baratas. Hoje, essa política é responsável em parte pelos conflitos de terra envolvendo os brasileiros no país.

Quem foi perseguido pelo regime stroesnista lembra da época da censura. "O lema era não pensar, se pensar não fale, se falar não escreva e se escrever apague tudo", recorda o advogado Eduardo Ramon Morales, 58 anos, preso durante quatro meses por participar de uma concentração em frente a uma igreja de Ciudad del Este, fronteira com Foz do Iguaçu.

Mesmo com todo o histórico de atrocidades, não é difícil encontrar quem tenha saudades da ditadura, segundo Morales. "As pessoas dizem que antes podiam dormir com as portas abertas. Eu mesmo não podia, porque tinha medo da polícia", diz.

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