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Milhares de moradores da cidade de Alphen aan den Rijn fizeram uma vigília em memória das vítimas ontem | Michael Kooren / Reuters
Milhares de moradores da cidade de Alphen aan den Rijn fizeram uma vigília em memória das vítimas ontem| Foto: Michael Kooren / Reuters

Vigília reúne milhares de pessoas

Os holandeses encaram a tragédia com sobriedade – o que, para um observador brasileiro, pode às vezes confundir-se com frieza. Mas o luto e o sofrimento nacionais existem. A tristeza estava no rosto das poucas pessoas que visitavam o local do tiroteio ontem à tarde. Por volta das 21h30, no entanto, milhares de pessoas carregando velas e flores reuniram-se no local para uma vigília em homenagem às vítimas. A cerimônia contou com a participação do primeiro-ministro Mark Rutte. "Alguns acontecimentos não podem ser descritos em palavras, e esse é um deles", disse Rutte. "Essa tragédia abre profundas feridas na comunidade de Alphen. A Holanda foi baleada e chora unida pelo ato incompreensível de um solitário."

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País tem histórico de tragédias

O índice de homicídios nos Países Baixos é de 0,93 por 100 mil habitantes ao ano, uma taxa baixíssima se comparada à brasileira (22 assassinatos por 100 mil habitantes ao ano) e exemplar mesmo ante os números de vizinhos europeus como Reino Unido (1,28) e França (1,35). Os dados fazem parte de uma coletânea do Escritório da ONU para o Combate às Drogas e ao Crime. Em todo o ano de 2010, ocorreram 170 homicídios na Holanda, país com 16,5 milhões de habitantes, de acordo com estatísticas oficiais. Apesar de morarem numa das nações menos violentas do mundo, os holandeses contam em seu passado recente ataques semelhantes ao do último sábado.

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  • Tristan van der Vlis, o assassino

São várias as semelhanças entre o massacre da escola no bairro do Realengo, na última quinta-feira, e a chacina promovida no último sábado na cidade holandesa de Alphen aan den Rijn, 40 quilômetros ao sul de Amsterdã. A comoção nacional em torno do assunto, a carta de despedida deixada pelo autor do crime, que também cometeu suicídio, e a juventude do assassino são apenas alguns dos paralelos que podem ser estabelecidos entre as duas tragédias. A maior analogia, no entanto, parece estar na falta de explicações sobre o que leva um indivíduo a abrir fogo contra adultos e crianças, de forma aleatória, e num local público.

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"Por quê? Por que aqui? Ouvimos falar dessas coisas acontecendo nos Estados Unidos, mas não aqui na Holanda. Talvez numa cidade maior, como Haia ou Amsterdã, mas nunca em Alphen", diz o taxista Kevin Mahieu, que mora a apenas cinco minutos do shopping De Ridderhof, local do tiroteio.

Por volta das 12h15 (horário local) do último sábado, um homem loiro, de cabelos compridos, identificado como Tristan van der Vlis, 24 anos, entrou no centro de compras, sacou uma pistola automática e começou a atirar, matando seis pessoas e ferindo outras 17 – sete delas em estado grave. Poucos minutos depois, na entrada de um supermercado localizado dentro do shopping, apontou o revólver para a própria cabeça e se matou.

De acordo com a promotora de Justiça Kitty Nooy, uma carta de suicídio, cujo teor ainda não foi divulgado, havia sido encontrada na casa da mãe do assassino. Van der Vlis estava desempregado e morava com o pai a apenas 150 metros do local do crime. O prefeito de Alphen aan den Rijn, Bas Eenhoorn, disse que o atirador escreveu uma espécie de despedida à família, mas não fez referências ao ataque nessas anotações. "Havia famílias no local, pais e filhos. É terrível demais. É um choque para todos nós", declarou o prefeito.

A rainha Beatriz e o primeiro-ministro Mark Rutte ofereceram condolências às famílias das vítimas. Na madrugada de ontem, os corpos do assassino e das seis vítimas (três homens de 42, 49 e 80 anos, e três mulheres de 45, 68 e 91 anos) terminaram de ser retirados do shopping center. Ontem, o clima na cidade era de luto. Exceto pelo homem mais novo, de origem síria, todos os demais mortos eram holandeses de Alphen. Flores foram deixadas em frente do local do crime, onde, à noite, uma vigília em homenagem às vítimas reuniu milhares de pessoas.

A matança de 12 crianças na escola do Rio de Janeiro foi pouco lembrada pelas autoridades e pelo noticiário holandês. O jornal De Volkskrant e o canal público de notícias NOS incluíram o ataque carioca nas cronologias de fatos similares, mas os atos violentos com os quais a tragédia do shopping foi comparada inúmeras vezes foram os massacres das escolas norte-americanas de Columbine (1999) e Virginia Tech (2007) e do colégio alemão de Winnenden (2009), além de casos parecidos ocorridos na própria Holanda (leia mais no ao lado).

Cena do crime

No sábado, o dono de uma pet shop disse ao jornal De Telegraaf que o assassino entrava e saía das lojas enquanto disparava a pistola. Uma segunda testemunha relatou a repórteres que viu a senhora idosa, em uma cadeira de rodas elétrica, ser baleada. De acordo com a promotora Kitty Nooy, duas crianças, de 6 e 10 anos, estão entre os feridos.

Segundo o chefe de polícia Jan Stikvoort, Van der Vlis fazia parte de um clube de tiro, tinha licença para portar três tipos de armas não automáticas e, em 2003, chegou a ser detido por porte ilegal de um revólver. Além disso, recebia tratamento psiquiátrico desde 2006, quando já havia tentado suicídio. No carro do atirador, estacionado próximo ao shopping center, os investigadores acharam evidências de que o criminoso poderia ter colocado bombas em outros três centros de compras da cidade. Por isso os centros comerciais da região permaneceram fechados até a noite de sábado, quando a ameaça foi descartada.

Cidade pacata

O motorista John den Daas, morador de Alphen, 39 anos, conta que a cidade de 72 mil habitantes sempre foi pacata, mas, para ele, essa característica começa a ficar no passado. "Na semana retrasada, um homem foi assassinado em Kerk em Zanen, localidade das redondezas. Há uma semana, houve mais dois assassinatos aqui na cidade, e agora isso. O que devemos esperar para a semana que vem?", pergunta. No entanto, Den Daas acrescenta que o caso deste fim de semana é diferente por se tratar de "obra de um lunático" e não um crime relacionado ao tráfico de drogas, como as mortes do mês anterior. O aposentado Bert Heemskerk, 63 anos, é mais cético: "A cidade já foi melhor. A violência vem descendo de Amsterdã para cá", afirma.

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