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O envio da Guarda Nacional dos EUA para impedir a entrada de imigrantes clandestinos através da fronteira com o México provocará mais mortes e não conterá o fluxo de trabalhadores, disseram especialistas e políticos mexicanos nesta terça-feira.

O presidente George W. Bush disse na segunda-feira que vai enviar até 6 mil soldados da Guarda Nacional para vigiar a fronteira com o México, onde quase 1,2 milhão de imigrantes foram apanhados no ano passado, enquanto centenas de milhares conseguiram entrar.

Os principais candidatos à eleição presidencial mexicana de julho criticaram a decisão do governo Bush. O conservador governista Felipe Calderón, que aparece à frente nas pesquisas, disse que políticas voltadas exclusivamente para a segurança sempre fracassam.

- Elas aumentam os custos sociais e humanos para os imigrantes e apenas beneficiam os grupos criminosos que ganham dinheiro com as esperanças e o sofrimento dos que buscam uma nova oportunidade para si e suas famílias - disse Calderón.

Seu rival esquerdista, Andrés Manuel López Obrador, disse que o deslocamento da Guarda Nacional vai gerar mais atrito e mais violações dos direitos humanos. Segundo ele, só a criação de mais empregos no México pode atenuar a crise da imigração nos EUA.

Imigrantes ilegais que se reúnem para cruzar algum trecho dos 3.200 quilômetros de fronteira dizem que a proposta de Bush aumenta os riscos para eles, mas não os fará desistir.

- Quem vai cruzar vai cruzar de qualquer jeito. Sempre encontram uma maneira - disse Abel Magana, 28 anos, um trabalhador de El Salvador que estava num grupo de 50 imigrantes ilegais, diante de um hotel na calorosa Nuevo Laredo, na fronteira com o Texas. - Mas é preocupante, porque pode haver mais acidentes.

No ano passado, 464 pessoas morreram tentando cruzar a fronteira, um recorde. A maioria foi vítima de desidratação ou afogamento. Quando a segurança é reforçada, os imigrantes são obrigados a atravessar áreas mais desertas e rios mais traiçoeiros.

Bush disse que a Guarda Nacional vai ajudar a polícia em funções de vigilância e inteligência ao longo de toda a fronteira, mas não efetuará prisões.

Diante disso, os imigrantes se dizem dispostos a cruzar o quente deserto do Arizona ou nadar na foz do rio Grande, no litoral do golfo do México.

- Isso não vai conter os 'costas-molhadas', porque é nos Estados Unidos que está o dinheiro - disse o camelô hondurenho Roger Nahun, 26 anos, usando um termo cunhado há anos para descrever os imigrantes que atravessam o rio Grande a nado.

Ele falou à Reuters pouco antes de mergulhar nas águas.

No México, muitos consideram o envio da Guarda Nacional uma forma de militarização do policiamento da fronteira, apesar de Bush negar. Segundo o presidente norte-americano, a presença da Guarda durará cerca de um ano, enquanto a Patrulha Fronteiriça é reforçada.

Alguns alertam que a política de Bush pode ajudar dezenas de cruéis grupos que se dedicam ao tráfico humano na fronteira.

- Enviar tropas só vai fortalecer o crime na fronteira, pois cria um mercado para os contrabandistas de pessoas - disse Rebeca Rodríguez, do Centro de Estudos da Fronteira e Promoção dos Direitos Humanos em Reynosa, ao sul de McAllen, Texas.

Rodríguez disse que os traficantes de pessoas já aumentaram suas taxas para 600 dólares, um crescimento de até 400 por cento, para fazer a travessia do rio Grande no Texas. Agora, eles devem cobrar ainda mais dos imigrantes para ajudarem-nos a driblar os soldados norte-americanos. "Achamos que (o translado) vá subir para até US$ 1.500 - disse ela.

Mas há mexicanos que elogiaram o discurso que Bush proferiu na segunda-feira, quando anunciou mais vigilância na fronteira e defendeu um programa para absorver imigrantes ilegais.

- A essência do seu pronunciamento foi de que é preciso respeitar a dignidade de todos os imigrantes, e recebo essa mensagem como um bom sinal - disse Juan José Gutiérrez, da Coalizão Internacional 1º de Maio, que ajudou a organizar as passeatas e paralisações deste mês em favor dos imigrantes em várias cidades dos EUA.

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