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Cardeal Anders Arborelius

cardeal Anders Arborelius
O carmelita sueco Anders Arborelius no consistório em que foi criado cardeal, em 2017. (Foto: Giorgio Onorati/EFE/EPA)

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A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Anders Arborelius preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.

“Gostaria de destacar […] um homem que é um modelo de orientação: o cardeal Anders Arborelius. Ele não tem medo de nada. Fala com todos e não é contra ninguém. Sempre busca o positivo. Acredito que uma pessoa como ele pode indicar o caminho certo a seguir.” (papa Francisco, durante conversa com editores de revistas jesuítas europeias em Roma, em 2022)

O cardeal Anders Arborelius é o bispo de Estocolmo, a única diocese católica da Suécia, abrangendo todo o país. Nascido em 24 de setembro de 1949, em Sorengo (Suíça), ele foi criado como luterano e cresceu em Lund (Suécia). Converteu-se ao catolicismo em 1969, aos 20 anos, em Malmö, e ingressou no mosteiro carmelita de Norraby em 1971, professando votos perpétuos em Bruges (Bélgica), seis anos depois (1). Foi ordenado sacerdote em Malmö, em 8 de setembro de 1979.

Arborelius foi sagrado bispo de Estocolmo pelo papa João Paulo II em dezembro de 1998, tornando-se o primeiro bispo católico etnicamente sueco desde a Reforma Protestante. Desde então, tornou-se, sem dúvida, o católico mais proeminente da Suécia, tendo servido como seu único ordinário por quase três décadas. De 2005 a 2015, foi presidente da Conferência Episcopal da Escandinávia, tendo sido eleito vice-presidente em 2015. Também foi membro da Comissão da Presidência do Conselho Pontifício para a Família de 2002 a 2009. Em 2017, o papa Francisco elevou Arborelius ao cardinalato, fazendo dele o primeiro cardeal da Suécia e da Escandinávia.

O cardeal Anders Arborelius tem um mestrado em Línguas Modernas pela Universidade de Lund, e estudou Teologia e Filosofia em Bruges e Roma, onde obteve uma licenciatura em Espiritualidade na Faculdade Teológica Pontifícia Carmelita (Teresianum). É membro de vários dicastérios do Vaticano, incluindo os para o Clero, Bispos, Igrejas Orientais, Promoção da Unidade Cristã e o Conselho para a Economia.

Arborelius defende a doutrina da Igreja sobre a vida, apoia o celibato sacerdotal, opõe-se à ordenação de mulheres e defende fortemente a natureza universal e imutável do ensino moral da Igreja

Em junho de 2022, ele foi condecorado pelo rei da Suécia por suas contribuições significativas para a vida da Igreja. Ele é autor de vários livros em sueco, focando em espiritualidade e biografias de figuras religiosas notáveis.

Um prelado de maneiras suaves e profundamente reflexivo, o cardeal Anders Arborelius tem grande devoção à Sagrada Eucaristia, é ortodoxo nos ensinamentos sobre Cristo e promove uma sincera devoção à Virgem Maria. Ele defende a doutrina da Igreja sobre a vida, apoia o celibato sacerdotal e opõe-se à ordenação de mulheres. Também foi bastante crítico ao “caminho sinodal” alemão e defendeu fortemente a natureza universal e imutável do ensino moral da Igreja, especialmente em relação à ética sexual e a questões de gênero.

O cardeal adota uma visão mais pragmática sobre outras questões, como o diálogo inter-religioso e o ecumenismo, que ele promove, embora se oponha a que não católicos recebam a Eucaristia. Como muitos de seus compatriotas, ele tem uma preocupação fervorosa pelo meio ambiente, apoiando até mesmo uma lei internacional contra o “ecocídio”. Ele está alinhado com o papa Francisco sobre a questão da migração.

Na liturgia, ele surpreendeu muitos com a implementação de Traditionis custodes, suprimindo a missa tridentina em algumas paróquias. Apesar de estar ciente de sua popularidade entre os jovens e famílias jovens, e de ser uma fonte de muitas vocações, o cardeal teria dificuldade em entender “por que as pessoas querem a missa tridentina”. Ele se opõe a rótulos como católico “tradicional” ou “liberal” – uma tendência que ele vê como politização da religião, o que considera “muito perigoso”.

Apesar do secularismo predominante na Suécia, sua diocese testemunhou um leve crescimento no número de vocações durante seu mandato como bispo, bem como um aumento na frequência à igreja, amplamente ajudado pela extensão da imigração no país. Apesar dos distúrbios sociais causados pela extensa imigração na Suécia, violência que ele condenou várias vezes, o cardeal Anders Arborelius continua a ser um defensor da imigração, incluindo de muitos muçulmanos, e pede diálogo e maior integração, em vez de restrições aos níveis de imigração.

O cardeal Arborelius disse que seu lema episcopal, In Laudem Gloriae (“em louvor à glória”) “é uma expressão de tudo o que sou – dar glória ao Deus Trino”. Ele acredita que, em nosso tempo, o “primeiro dever e nosso privilégio” do homem de “honrar e glorificar Deus” foi esquecido. “O homem não é diminuído por isso; pelo contrário, ele cresce, torna-se mais livre e mais feliz. Um dos meus maiores desejos é ajudar as pessoas a descobrirem isso” (2).

Apesar do secularismo predominante na Suécia, a diocese de Arborelius testemunhou um leve crescimento no número de vocações durante seu mandato como bispo, bem como um aumento na frequência à igreja

O cardeal sueco admite não ser carreirista de maneira alguma, e expressou surpresa ao ser nomeado cardeal, pensando inicialmente que se tratava de uma brincadeira; desde então, tentou “tirar o melhor da situação” e “interpretá-la como a vontade de Deus”.

Aqueles que conhecem o cardeal Anders Arborelius o descrevem como genuinamente humilde e modesto, um ouvinte atento que foi elogiado por permanecer calmo e fiel ao ensino da Igreja, como quando foi provocado por ateus na televisão. Isso lhe rendeu o respeito de católicos e não católicos. Já o seu calcanhar de Aquiles parece ser um estilo de governo considerado fraco. Ele é conhecido por seu forte desejo de evitar conflitos a todo custo, segundo clérigos e leigos que o conhecem bem, levando a um estilo de liderança que causou problemas significativos durante seus 27 anos de episcopado, incluindo acusações de um vácuo de poder ao seu redor e uma rotatividade relativamente alta de funcionários.

A santa favorita do cardeal é Santa Teresinha do Menino Jesus. Ele tem preferência por oração silenciosa, sem palavras, e gosta de ler histórias de detetive e de cozinhar. Perguntado se estava pronto para ser papa um dia, ele disse: “Não, não posso dizer isso. Porque é tão irrealista. Mas é verdade – é uma possibilidade”.

O cardeal Anders Arborelius é um linguista proficiente, tendo recebido um mestrado em Línguas Modernas pela Universidade de Lund. Além de sua língua nativa, o sueco, ele fala fluentemente inglês, espanhol, francês, alemão e holandês.

Notas

(1) Perguntado sobre em que ordem religiosa ele teria entrado se não tivesse se tornado carmelita, Arborelius respondeu: “Isso é campo minado... eu nunca pensei sobre isso! Não tenho como responder. É um chamado, você não o escolhe como se estivesse escolhendo um produto de beleza”.

(2) Perguntado sobre alguma figura da história da Igreja que considerava subestimada, Arborelius mencionou Santa Elisabete da Trindade, que adotou o mesmo lema para sua vida religiosa, e cujos escritos enfatizam a habitação da Trindade na alma batizada.

O que o cardeal Anders Arborelius pensa sobre...

Ordenação de diaconisas: É contra. O cardeal Arborelius é contrário à ordenação sacerdotal de mulheres. Embora não tenha falado especificamente sobre a possibilidade de ordenação diaconal, ele disse que, embora seja de “crucial importância” encontrar papéis para as mulheres na evangelização, “é preciso ver que há outras formas” de as mulheres servirem a Igreja “que não passem pelo ministério ordenado”.

Bênção para casais do mesmo sexo: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Arborelius sobre o assunto.

Tornar opcional o celibato para os padres: É contra. O cardeal Anders Arborelius é favorável à manutenção da disciplina do celibato sacerdotal, e não acredita que torná-lo opcional seria uma solução para a crise de abusos sexuais entre o clero.

Restrições à missa tridentina: É a favor. O cardeal Arborelius surpreendeu muitos fiéis pela forma ampla como implementou Traditionis custodes. Paróquias onde a missa tridentina era celebrada semanalmente (incluindo a catedral, onde ela era celebrada ocasionalmente) não puderam mais fazê-lo. Padres que celebravam a missa tridentina tiveram de ir para outras igrejas e capelas que não pertencem à Igreja Católica.

Acordos secretos entre China e Vaticano: É ambíguo. Em maio de 2024, três bispos chineses – arcebispo Li Shan, de Pequim; bispo Li Suguang, de Nanchang (província de Jiangxi); e bispo Luo Xuegan, de Suifu – visitaram Estocolmo, onde concelebraram missa com o cardeal Anders Arborelius e, depois, apresentaram aos fiéis o trabalho da Igreja e o papel da fé na sociedade chinesa. Mais tarde, soube-se que todos os três pertenciam à Conferência Episcopal da Igreja Católica na China, apoiada pelo governo comunista, mas sem aprovação do Vaticano. Quando os fiéis reclamaram, o cardeal Arborelius respondeu que o núncio apostólico havia apoiado a visita.

Promover uma “Igreja sinodal”: É a favor. O cardeal Arborelius vê a sinodalidade como uma chance de renovação espiritual, unidade mais profunda entre católicos, fomento ao diálogo ecumênico, e um foco renovado na evangelização em um mundo pós-cristão.

Foco nas mudanças climáticas: É a favor. O cardeal Anders Arborelius é bastante favorável à ênfase na questão ambiental, vendo-a como uma salvaguarda para a Terra, a natureza e o clima. Ele manifestou apoio a uma lei internacional contra o “ecocídio”.

Reavaliar Humanae vitae: É contra. Humanae vitae só foi publicada oficialmente na Suécia em 2007. Em comentário à Rádio Vaticana por ocasião da publicação, o cardeal Arborelius disse que a encíclica era “profética em muitos aspectos”. Para os que viam Humanae vitae como “uma proibição associada apenas à rejeição de Paulo VI ao controle artificial de natalidade”, Arborelius disse: “peguem e leiam, ponderem e rezem. Em nossa época, as pessoas estão começando a respeitar mais e mais a natureza e sua ordem. Seria muito estranho se essa reverência pela natureza e sua beleza intrínseca também não se aplicasse à sexualidade e à reprodução”.

Comunhão para divorciados “recasados”: É a favor. O cardeal Anders Arborelius é favorável a essa possibilidade, vendo-a como “um assunto que a Igreja toda precisa aprofundar”.

“Caminho sinodal alemão”: É contra. O cardeal Arborelius se pronunciou enfaticamente contra o “caminho sinodal”, assinando uma carta aberta dos bispos nórdicos, e uma “correção fraterna” assinada por outros 73 bispos.

Dados pessoais

Nome: Anders Arborelius
Data de nascimento: 24 de setembro de 1949 (75 anos)
Local de nascimento: Sorengo (Suíça)
Criado cardeal: 28 de junho de 2017, pelo papa Francisco
Posição atual: bispo de Estocolmo (Suécia)
Lema: In laudem gloriae (“Em louvor da glória”)

© 2025 The College of Cardinals Report. Publicado com permissão. Original em inglês: Cardinal Anders Arborelius.

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