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Perfil

Cardeal Kurt Koch

cardeal Kurt Koch
O cardeal suíço Kurt Koch, em foto de 2021, em celebração na basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma. (Foto: Ettore Ferrari/EFE/EPA)

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A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Kurt Koch preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.

Kurt Koch nasceu em uma família de comerciantes no dia 15 de março de 1950, em Emmenbrücke (na diocese de Basileia), no cantão suíço de Lucerna. Desde jovem, teve interesse pelo ecumenismo. Estudou Teologia em Munique (Alemanha) e em Lucerna (Suíça). Após seus estudos, trabalhou como teólogo leigo. De 1976 a 1978, trabalhou em um projeto de pesquisa com a Comissão Episcopal Justiça e Paz, junto com o professor Franz Furger, sobre questões relativas à vida humana na sociedade contemporânea do ponto de vista ético cristão. De 1979 a 1982, foi assistente universitário no campo da Teologia Sistemática na Faculdade de Teologia de Lucerna.

Foi ordenado sacerdote aos 32 anos, ingressando no sacerdócio em Berna (Suíça); desenvolveu interesse pela Dogmática e pela Teologia Moral, bem como pelo ecumenismo e o pensamento protestante. Em 1987, defendeu sua tese de doutorado sobre a obra do teólogo evangélico alemão Wolfhart Pannenberg. Koch permaneceu vinculado à Universidade de Lucerna, obtendo sua habilitação em 1989, e lá se tornou professor de Dogmática e Liturgia, além de professor de Teologia Ecumênica no Instituto Educacional.

Em dezembro de 1995, foi nomeado bispo de Basileia e o próprio papa João Paulo II presidiu sua sagração episcopal. Como bispo, Koch não abandonou seu trabalho acadêmico e continuou a publicar artigos e obras teológicas. Foi vice-presidente da Conferência dos Bispos Suíços de 1998 a 2006, e presidente de 2007 a 2009.

Quão certo está Koch de seus princípios, perguntam seus críticos, se ele pode reverter tão prontamente suas posições para se alinhar com o papa de turno?

Em julho de 2010, Bento XVI o chamou a Roma, nomeando-o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, sucedendo o bispo alemão Walter Kasper nesse cargo. No mesmo ano, Koch foi nomeado cardeal. De 2010 até o presente, o cardeal Kurt Koch não mudou de funções, mas em 2022, sob a constituição Praedicate evangelium, o conselho pontifício foi transformado em um dicastério, e o cardeal se tornou prefeito. Um ano antes, Francisco o havia elevado à categoria de cardeal-presbítero.

Dentro da Cúria Romana, Kurt Koch é membro de vários outros dicastérios, incluindo o Dicastério para a Doutrina da Fé. Antes de 2010, o cardeal fazia publicações sobre vários tópicos teológicos, mas desde que chegou à Cúria ele se concentrou em questões ecumênicas. Os destaques de seu trabalho em Roma incluem o encontro ecumênico de 2016 em Lund (Suécia), antecedendo o 500.º aniversário do início da Reforma Protestante, e a publicação de um documento sobre a primazia papal em uma perspectiva sinodal, em 2024.

O cardeal Kurt Koch combina uma personalidade calma com anos de experiência na Cúria. Um homem um tanto tímido que evita controvérsias, ele possui um conhecimento profundo da Igreja de língua alemã e está ciente dos problemas impostos pela teologia no mundo germânico – uma característica crucial, dados os desafios à unidade da Igreja provenientes dos países de língua alemã.

O cardeal suíço é conhecido por seu forte ceticismo em relação ao “caminho sinodal” alemão, mas ao mesmo tempo é visto como um homem aberto a mudanças cautelosas, o que ele expressou, por exemplo, em um estudo abrangente sobre o ministério papal em 2024. O fato de ele ter conduzido tal estudo também mostra que Koch é um mestre do assunto: ele conhece o papel do papa na Igreja, como a história do papado foi moldada e para onde o papado pode ou não estar indo no futuro.

O cardeal Kurt Koch é capaz de separar escrupulosamente suas próprias opiniões teológicas daquilo que seu cargo exige dele – algo visto como uma força, mas também como uma fraqueza. Ele demonstrou isso abandonando completamente seu apoio anterior ao celibato sacerdotal opcional, ou até mesmo sua defesa anterior da ordenação de mulheres. Bento XVI tinha a mesma qualidade, que alguns admiram, mas que outros veem como uma fraqueza, especialmente dada a importância de tais questões. Quão certo está Koch de seus princípios, perguntam seus críticos, se ele pode reverter tão prontamente suas posições para se alinhar com o papa de turno?

Koch conhece o papel do papa na Igreja, como a história do papado foi moldada e para onde o papado pode ou não estar indo no futuro

O conhecimento do cardeal Kurt Koch sobre uma ampla gama de questões também pode ser considerado um tanto limitado. Por muitos anos, ele lidou essencialmente com um único tema em seu trabalho: o ecumenismo. Certamente, é um assunto importante para o presente e o futuro da Igreja, mas é apenas um dos muitos outros desafios eclesiais centrais.

Além disso, o pensamento ecumênico de Koch está profundamente enraizado no ensino do Concílio Vaticano II e no desenvolvimento do ecumenismo pós-conciliar – algo que tem sido cada vez mais criticado como vago, sem direção e distanciado da tradição apostólica. Koch, cuja responsabilidade foi supervisionar o relacionamento da Igreja com o judaísmo, adotou completamente a abordagem pós-conciliar para com os judeus, que afirma que a Igreja não tem uma missão para os judeus, apenas priorizando o diálogo. O cardeal, no entanto, tem se mostrado disposto a, ocasionalmente, sustentar o Magistério perene da Igreja no contexto do ecumenismo, criticando, por exemplo, ideias radicais sobre intercomunhão que surgem em círculos ecumênicos.

Koch sublinha a importância da centralidade da Eucaristia, mas não é um defensor da liturgia tradicional, considerando-a um obstáculo à unidade.

Seu background intelectual teutônico é orientado para a negociação e a busca de acordos, fazendo dele uma figura um tanto diplomática e pragmática. Como cardeal na Cúria Romana, ele também demonstrou um conservadorismo saudável. É uma combinação que pode não permitir que ele resolva todos os problemas da Igreja, mas, se eleito papa, poderia permitir-lhe desempenhar um papel importante na conciliação e unificação após os anos divisionistas de Francisco.

O cardeal Koch fala vários idiomas, incluindo alemão, italiano, francês e inglês.

O que o cardeal Kurt Koch pensa sobre...

Ordenação de diaconisas: É ambíguo. Na década de 1990, o cardeal Koch afirmou que o sacerdócio feminino é “desejável, pois somente assim o ofício eclesiástico alcançaria a plena forma do sinal sacramental do sacerdócio universal”. Mais tarde, ele declarou que a Igreja Católica tem a certeza de que “o sacerdócio sacramental está vinculado ao sexo masculino”.

Bênção para casais do mesmo sexo: É ambíguo. O cardeal Koch geralmente procurou evitar a controvérsia sobre a declaração Fiducia supplicans, que concedeu permissão para bênçãos não litúrgicas de casais do mesmo sexo. Ele reconheceu que a declaração havia causado problemas com os ortodoxos e disse que achava importante “repensar” a questão no contexto do diálogo ecumênico.

Tornar opcional o celibato para os padres: É ambíguo. Na década de 1990, Koch favoreceu a ordenação de homens casados como sacerdotes, alinhando-se ao modelo de viri probati. Ele não propôs abolir o celibato, mas queria apoiar o celibato, permitindo também que homens casados fossem admitidos ao sacerdócio, acrescentando que o preço para fazer tal mudança era “muito alto”. (Liturgischer Leitungsdienst in pastoralen Notsituationen. Eine ekklesiologische Problemanzeige, Freiburg i. Br., 1999). No entanto, mais tarde ele mudou de posição. Quando perguntado em 2018 se a crise de vocações era um argumento para abolir o celibato obrigatório, ele respondeu: “Não. A questão decisiva é a situação da fé”.

Restrições à missa tridentina: É ambíguo. O cardeal Koch não se manifestou nem a favor nem contra Traditionis custodes, mas no passado ele defendeu uma única forma do Rito Romano, sugerindo “que no futuro haverá uma reconciliação das duas formas, de modo que, em algum momento, teremos apenas uma forma como síntese em vez de duas diferentes”.

Acordos secretos entre China e Vaticano: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Koch sobre o assunto.

Promover uma “Igreja sinodal”: É ambíguo. O cardeal Koch falou em apoio à sinodalidade, mas também a criticou. “A sinodalidade, se você levá-la a sério, significa discutir uns com os outros até que ninguém tenha a impressão de que isso contradiz a fé”; “É novo que nós, aqui no Ocidente, estejamos descobrindo que a sinodalidade não é algo novo na Igreja, mas tem uma antiga tradição”; “A primazia [papal] deve ser exercida de maneira sinodal, e a sinodalidade requer primazia”.

Foco nas mudanças climáticas: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Koch sobre o assunto.

Reavaliar Humanae vitae: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Koch sobre o assunto.

Comunhão para divorciados “recasados”: É ambíguo. “Há ainda questões teológicas em aberto que precisam ser aprofundadas”, disse o cardeal Kurt Koch antes da publicação de Amoris laetitia, acrescentando que o problema é muito complexo e está longe de produzir qualquer solução concreta; ele apontou, entre outras coisas, a questão da relação entre a validade canônica de um casamento e a convicção dos fiéis, para os quais o casamento pode não ter sido válido.

“Caminho sinodal alemão”: É contra. “Isso me irrita, que novas fontes estejam sendo aceitas ao lado das fontes da revelação nas Escrituras e na Tradição; e me assusta que isso esteja acontecendo – novamente – na Alemanha”, disse o cardeal Kurt Koch sobre o caminho sinodal. “Pois esse fenômeno já ocorreu durante a ditadura do nacional-socialismo, quando os chamados ‘cristãos alemães’ viam a nova revelação de Deus no sangue e no solo e na ascensão de Hitler”.

Dados pessoais

Nome: Kurt Koch
Data de nascimento: 15 de março de 1950 (74 anos)
Local de nascimento: Emmenbrücke (Suíça)
Criado cardeal: 20 de novembro de 2010, por Bento XVI
Posição atual: prefeito do Dicastério para a Unidade dos Cristãos
Lema: Ut sit in omnibus Christus primatum tenens (“Para que Cristo tenha a primazia em todas as coisas”).

© 2025 The College of Cardinals Report. Publicado com permissão. Original em inglês: Cardinal Kurt Koch.

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