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A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Péter Erdő preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.
O mais velho de seis filhos, o cardeal Péter Erdő foi criado por pais católicos devotos em uma família na qual a fé estava “costurada no tecido de nossa vida”. Ele cresceu sob o comunismo e, quando tinha 4 anos, sua família foi forçada a fugir apenas com as roupas do corpo, depois que tropas invasoras incendiaram sua casa em 1956. Ele, então, experimentou vários graus de discriminação devido à sua fé. Foi educado em uma escola de meninos da ordem dos Escolápios, em Budapeste. A “realidade de Deus” começou a atrair o jovem Péter Erdő quando ele era coroinha, dando significado e direção à sua vida. Ele entrou no seminário após muita oração, acreditando que ajudar as pessoas a encontrar a salvação era tão importante que exigia uma dedicação total de sua vida a isso.
Após sua ordenação sacerdotal, em 1975 – que ele diz ser um dos três momentos mais felizes de sua vida –, ele passou dois anos em serviço paroquial antes de ser enviado a Roma, onde obteve graus em Teologia e Direito Canônico na Universidade Pontifícia Lateranense, em 1980. Nos anos seguintes, ele lecionou em várias faculdades de Direito Canônico e Teologia, na Hungria e no exterior (incluindo Buenos Aires), enquanto atuava como clérigo e juiz eclesiástico. Durante esse tempo, publicou manuais e artigos sobre Direito Canônico. Foi pesquisador na Universidade da Califórnia, Berkeley, de 1995 a 1996. Por algum tempo, foi reitor do Colégio Húngaro em Roma, enquanto lecionava na Universidade Gregoriana e na Lateranense. João Paulo II consagrou Erdő bispo em 2000 e fez dele o primaz da Hungria, como ordinário da Arquidiocese de Esztergom-Budapeste, em 2003. Erdő foi elevado ao cardinalato no mesmo ano.
Falando alemão, italiano, francês, espanhol, inglês e seu húngaro nativo, Erdő foi eleito presidente da Conferência Episcopal Católica Húngara em 2005 e, no mesmo ano, presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE). O respeito que ele tem entre seus colegas bispos foi demonstrado por meio de sua reeleição ao CCEE, em 2011, bem como em sua nomeação para ajudar a supervisionar a “Segunda Seção” da Secretaria de Estado do Vaticano, responsável pelas relações diplomáticas. Desde 2003, ele tem participado de todas as assembleias do Sínodo dos Bispos, com a honra especial dada pelo papa Francisco de servir como relator nos sínodos de 2014 e 2015. Ele é autor de mais de 250 artigos e 25 livros.
Formado em meio às dificuldades do comunismo ateu, o cardeal Péter Erdő é amplamente considerado um grande intelectual e um homem de cultura
Formado em meio às dificuldades do comunismo ateu, o cardeal Péter Erdő é amplamente considerado um grande intelectual e um homem de cultura. Um autor prolífico e extremamente erudito, Erdő também é um professor habilidoso e um canonista altamente reconhecido, além de erudito das Escrituras; por isso recebeu diversos prêmios, incluindo doutorados honorários de várias instituições, como o Institut Catholique de Paris (em 1996) e, mais recentemente, o Prêmio Vox Canonica, em 2023, um prêmio para canonistas distintos.
O cardeal Péter Erdő tem grande afeto pela liturgia posterior ao Concílio Vaticano II, especialmente por sua ênfase nas leituras do Antigo Testamento. Embora prefira a forma ordinária da missa, ele está disposto a permitir a missa tridentina e a apoiará se for chamado a fazê-lo, mas não fez comentários públicos sobre Traditionis custodes e suas restrições à missa tradicional.
Ele vê a Eucaristia e o sacerdócio como intimamente relacionados, e é contra o celibato opcional para os sacerdotes. Defensor da estrutura hierárquica da Igreja, é um sacerdote com um coração pastoral, para quem a importância da salvação foi a força motriz para que ele fosse ordenado. Ele colocou grande ênfase na Nova Evangelização e no ministério aos jovens. O trabalho missionário é central para sua abordagem pastoral, e ele demonstrou grande preocupação com a crise vocacional da Igreja.
As vocações em sua própria arquidiocese flutuaram em número durante seu tempo de serviço: em 2002, o número total de sacerdotes era 358, chegando a 443 em 2013, antes de cair para 365 em 2021. O número de religiosos masculinos aumentou ligeiramente, de 173 em 2002 para 199 em 2021, mas as religiosas femininas diminuíram mais de 50% – de 699, em 2002, para 303 em 2021.
Cauteloso, avesso ao risco, até tímido, Erdő foi, aos 51 anos, um dos cardeais mais jovens da Igreja quando João Paulo II o elevou ao Colégio dos Cardeais em 2003.
O cardeal Péter Erdő era um favorito do falecido cardeal George Pell, que via o húngaro como um sucessor altamente adequado de Pedro
Sobre questões políticas como imigração, um tema com o qual a Hungria tem lidado há alguns anos, o cardeal transmitiu uma abordagem equilibrada, reconhecendo o direito de migrar, mas também ciente do desafio de integrar refugiados sem prejudicar a estabilidade política. Ele acredita na busca por um verdadeiro equilíbrio entre solidariedade e misericórdia. O cardeal está preocupado com os cristãos perseguidos (“Vemos os discípulos de Cristo neles”) e, no entanto, tem uma visão em grande parte benigna do Islã. Erdő adota uma atitude muito positiva em relação à Igreja Ortodoxa e apoia fortemente o diálogo com as religiões não cristãs, enfatizando o valor da Dignitatis humanae. Sua ênfase na unidade e seu papel como ponte entre o Oriente e o Ocidente consolidaram sua posição como um líder significativo da Igreja.
O cardeal Péter Erdő passou muitos anos de seu sacerdócio como professor – uma profissão pela qual ele tem grande apreço. Ele frequentemente sublinha a importância de uma relação pessoal com Cristo, algo que ele vê como importante para a Igreja, que enfrenta uma grave crise devido ao secularismo e ao relativismo. Ele defende firmemente a existência da lei natural. Sua experiência com o comunismo o ensinou a importância da religião para preencher o vazio deixado pelo colapso de uma ideologia política, e também que apenas um relacionamento pessoal com Cristo traz verdadeira liberdade e felicidade.
“Se a fé é a coisa mais importante da vida, então servir a fé dos outros, transmitir a fé, ensinar a fé e, especialmente, ministrar na liturgia são as maiores coisas da vida”, disse ele em agosto de 2024. Ajudar na “salvação dos outros”, acrescentou, é a tarefa importante e útil. “Essa é a principal motivação que senti até quando era menino”, disse ele. “E assim, gradualmente, cheguei à decisão de entrar no seminário.”
Erdő nega o universalismo – a ideia de que todos são salvos –, mas acredita que todos podem ser salvos. Em última análise, ele acredita que somente através de Jesus Cristo a humanidade pode encontrar seu caminho até Deus. Ele é a favor do acompanhamento pastoral para “divorciados recasados”, mas apenas se não houver dúvida sobre o ensinamento da Igreja a respeito da indissolubilidade do casamento. Ele é firmemente contra a aceitação das uniões homossexuais, mas favorece o apoio pastoral para aqueles que sofrem atração pelo mesmo sexo. Ele defende a Humanae vitae, é fortemente pró-vida e tem uma fervorosa devoção mariana.
Um admirador do papa Paulo VI, o cardeal Péter Erdő era um favorito do falecido cardeal George Pell, que via o húngaro como um sucessor altamente adequado de Pedro, alguém que poderia, acima de tudo, restaurar o império da lei no Vaticano após o pontificado de Francisco.
O que o cardeal Péter Erdő pensa sobre...
Ordenação de diaconisas: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Erdő sobre o assunto.
Bênção para casais do mesmo sexo: É contra. Embora ele não tenha comentado sobre Fiducia supplicans, dada sua insistência em que o ensinamento da Igreja seja mantido, é muito provável que o cardeal Péter Erdő se oponha. Ele reiterou firmemente a posição da Igreja de que “não há absolutamente nenhuma base para considerar as uniões homossexuais de qualquer forma semelhantes ou até remotamente análogas ao plano de Deus para o casamento e a família”.
Tornar opcional o celibato para os padres: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Erdő sobre o assunto.
Restrições à missa tridentina: É ambíguo. Respondendo a um relatório falso segundo o qual o cardeal Erdő era contra Traditionis custodes, sua arquidiocese disse que ele estava agindo em conformidade com o documento papal. Por outro lado, Erdő tem estado disposto a permitir a celebração da missa tridentina em sua diocese.
Acordos secretos entre China e Vaticano: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Erdő sobre o assunto.
Promover uma “Igreja sinodal”: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Erdő sobre o assunto.
Foco nas mudanças climáticas: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Erdő sobre o assunto.
Reavaliar Humanae vitae: É contra. O cardeal Erdő sempre foi um defensor firme dos fins unitivo e procriativo do casamento, vendo a “abertura à vida como um requisito intrínseco do amor conjugal”. Ele fez um apelo para que a “abertura à vida” do documento fosse “redescoberta” e não fez nenhum apelo para que fosse reavaliada.
Comunhão para divorciados “recasados”: É contra. O cardeal Erdő enfatizou que os católicos em nova união civil só podem receber a comunhão se viverem em continência, ou seja, caso se abstenham de relações sexuais, de acordo com o ensinamento do papa São João Paulo II. Durante o Sínodo sobre a Família, no qual foi relator geral, Erdő emitiu um relatório ressaltando que qualquer abordagem pastoral não deve comprometer a verdade da indissolubilidade do matrimônio.
“Caminho sinodal alemão”: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Erdő sobre o assunto.
Dados pessoais
Nome: Péter Erdő
Data de nascimento: 25 de junho de 1952 (72 anos)
Local de nascimento: Budapeste (Hungria)
Criado cardeal: 21 de novembro de 2003, por João Paulo II
Posição atual: arcebispo de Esztergom-Budapeste (Hungria).
Lema: Initio non erat nisi gratia (“No princípio, não havia nada além da graça”)
© 2025 The College of Cardinals Report. Publicado com permissão. Original em inglês: Cardinal Péter Erdő.