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Irfaan Ali, até então desconhecido, vem ganhando destaque na imprensa internacional pela disputa entre Venezuela e Guiana pelo Essequibo
Irfaan Ali, até então desconhecido, vem ganhando destaque na imprensa internacional pela disputa entre Venezuela e Guiana pelo Essequibo| Foto: EFE/Alberto Valdés

A briga entre Venezuela e Guiana pela região guianense do Essequibo, disputa que vem desde o século 19, mas que ganhou temperatura com um referendo venezuelano para anexação da área, colocou em evidência na imprensa internacional um personagem desconhecido: Irfaan Ali, o presidente guianense.

Sua postura firme na defesa do Essequibo ganhou apoio internacional, de potências como Estados Unidos e Reino Unido, principalmente depois de um contestado referendo realizado no último dia 3, no qual a população venezuelana aprovou a anexação da região, correspondente a 70% do território guianense.

Desde então, a ditadura de Nicolás Maduro anunciou medidas como a criação de uma zona de defesa integral na Guiana Essequiba, como Caracas chama a região disputada, e de um estado venezuelano na área e ordens para que estatais do país explorem e emitam licenças para exploração de petróleo e outros recursos na região.

O governo venezuelano também divulgou um mapa em que o Essequibo consta como parte do território da Venezuela.

Em outubro, quando Maduro anunciou a realização do referendo, Ali divulgou comunicado no qual disse que a consulta e outras ações do ditador venezuelano ameaçavam “a segurança do Estado da Guiana e, por extensão, da região do Caribe”.

O presidente guianense recorreu à Corte Internacional de Justiça (CIJ), onde tramita um processo sobre a disputa pelo Essequibo, para que o tribunal suspendesse a realização do referendo.

Dias antes da consulta, a CIJ deliberou que “a República Bolivariana da Venezuela deve se abster de quaisquer ações que possam modificar a situação que prevalece atualmente” e que “as duas partes devem se abster de quaisquer ações que possam agravar ou estender a disputa ou torná-la ainda mais difícil de resolver”.

A Venezuela, que nega a competência da CIJ para arbitrar a disputa, apontou que a decisão não proibia expressamente a realização do referendo, e seguiu adiante com o processo.

Após a consulta e as medidas anunciadas por Maduro, Ali recorreu ao Conselho de Segurança da ONU, que discutiu o assunto na sexta-feira (8), mas não divulgou declarações sobre a questão. Além disso, o presidente colocou “em alerta máximo” as Forças de Defesa da Guiana, que fizeram exercícios conjuntos com os Estados Unidos na região.

No fim de semana, foi anunciado que Maduro e Ali farão uma reunião na quinta-feira (14), em São Vicente e Granadinas, para tentar resolver o impasse.

Presidente já foi alvo de denúncias

Jovem (tem apenas 43 anos), Mohamed Irfaan Ali é apenas o segundo muçulmano a ser chefe de Estado na história das Américas. Ele estudou direito empresarial, gestão de negócios e finanças e fez doutorado em planejamento urbano e regional. Em 2006, foi eleito para a Assembleia Nacional da Guiana.

Integrante do partido de esquerda Partido Progressista Popular/Cívico (PPP/C), ele foi ministro da Habitação e Recursos Hídricos entre 2009 e 2015.

Eleito presidente da Guiana em março de 2020, teve que esperar meses para a confirmação da vitória e sua posse, devido a questionamentos na Justiça e uma recontagem dos votos.

Ali já foi alvo de denúncias: em 2018, a Unidade Especial de Crime Organizado da polícia da Guiana apresentou 19 acusações contra ele por supostas fraudes durante o período em que foi ministro da Habitação e Recursos Hídricos.

Segundo a denúncia, entre setembro de 2010 e março de 2015, terras de um projeto habitacional teriam sido vendidas por preços muito abaixo do valor de mercado, o que teria beneficiado seis membros do governo da época, entre eles, o então presidente Bharrat Jagdeo, hoje vice de Ali.

Em 2019, Ali foi acusado de ter falsificado seu currículo acadêmico para ser aprovado no mestrado de uma universidade indiana, apontando ter diploma de uma instituição fictícia. O hoje presidente guianense apontou motivações “políticas” nas denúncias, que não foram levadas adiante.

Crescimento vertiginoso

Em 2015, a empresa americana ExxonMobil descobriu grandes reservas de petróleo no mar territorial guianense, riqueza cuja exploração está fazendo a pequena ex-colônia britânica de menos de 800 mil habitantes apresentar as maiores taxas de crescimento do PIB do mundo.

No ano passado, a economia da Guiana cresceu 62%, e para 2023, o Fundo Monetário Internacional projeta um incremento de 38%. Foram justamente esses recursos que reavivaram o interesse da Venezuela pelo Essequibo.

Em entrevista ao Financial Times, Ali afirmou que está desenvolvendo ações para evitar que o país sofra a “maldição do petróleo”, ou seja, não conseguir traduzir a riqueza da commodity em diversificação econômica e desenvolvimento social.

“Não estamos apenas investindo em saúde e educação para atender às necessidades dos guianenses, mas também como importantes geradores de moeda estrangeira no futuro para que a Guiana possa se tornar um centro de saúde e educação para a América do Sul, o Caribe e a enorme diáspora que reside na América do Norte”, declarou.

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