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Curitiba – Seis anos depois de liderar uma tentativa frustrada de golpe de estado contra o ex-presidente Alberto Fujimori, o nacionalista Ollanta Humala deve ficar mais próximo hoje de alcançar o poder no Peru. À frente nas pesquisas, mas não com os 50% necessários para vencer no primeiro turno, o ex-militar e ultranacionalista faz eco a um discurso conhecido de muitos latino-americanos: "o neoliberalismo é o grande mal", "não estamos à venda", "eu me preocupo com os pobres". Não à toa, se eleito, ele pretende formar "a grande família latino-americana", como disse durante a campanha, ao lado dos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia.

Se as pesquisas de opinião estão corretas, a disputa pela outra vaga no segundo turno está polarizada entre a conservadora Lourdes Flores e o ex-presidente peruano (1985–1990) Alan García. Flores tem apoio do setor empresarial e arrebanha boa parte dos votos femininos, ajudada pelo fenômeno Bachelet, do vizinho Chile. García se desculpa dos erros passados – seu governo foi economicamente desastroso para o Peru. Diz que Humala vai enfraquecer a democracia e Lourdes, defender os ricos.

Desde 2000, a economia peruana vem crescendo em média 5% ao ano, um dos melhores índices entre os países da América Latina. Em 2005, o país cresceu 6,67%, quase três vezes o resultado brasileiro. Apesar dos bons números, a maior parte da população (51%) continua a viver abaixo da linha de pobreza. Este é o principal motivo apontado por especialistas do sucesso eleitoral de Humala.

"De alguma forma, o Humala expressa um projeto que busca identificação com os indígenas e a tradição. Ele não é um político no sentido tradicional. É muito mais o resultado da crise da sociedade política da sociedade peruana", avalia o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Félix Sanches, especialista em América Latina.

Por possuir um projeto de governo limitado, pouco se sabe qual vai ser a atitude de Humala caso ele chegue ao poder. Apesar de insistir que não é antidemocrático, Humala fez elogios ao general Juan Velasco, ditador peruano que, depois de um golpe de estado, comandou o país entre 1968 e 1975 e promoveu a estatização de boa parte das indústrias do país.

O escritor e comentarista político para a América Latina, Carlos Alberto Montaner, co-autor do livro "Manual do Idiota Latino-Americano", disse em artigo recente que "todo o mal que atinge o Peru vai aumentar dramaticamente", caso Humala vença as eleições. "A pobreza vai se multiplicar em números e a força da miséria vai aumentar exponencialmente. O estado, mais clientelista do que nunca, alcançará novos níveis de corrupção", afirmou.

A eleição de um ou outro candidato passará quase despercebida entre os brasileiros, acredita o peruano e professor do Departamento de Economia da Unesp, Enrique Amayo. "Embora o Peru seja estrategicamente interessante ao Brasil, por causa da ligação com o [Oceano] Pacífico, o Brasil não mostra muito interesse pelo país, mais preocupado com o petróleo da Venezuela e o gás da Bolívia", afirma.

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