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Yamanaka demonstrou humildade, dizendo-se honrado por dividir o Nobel com Gurdon | Fotos: Kyoto University/Reuters e Suzanne Plunkett/Reuters
Yamanaka demonstrou humildade, dizendo-se honrado por dividir o Nobel com Gurdon| Foto: Fotos: Kyoto University/Reuters e Suzanne Plunkett/Reuters

Talento

Japonês abandonou carreira de cirurgião em nome de pesquisa

Folhapress

Stevens Rehen, que trabalha na Universidade Federal do Rio de Janeiro com as células iPS (reprogramadas) desenvolvidas por Yamanaka, diz que não se surpreende com a velocidade da "nobelização" da técnica – apenas seis anos da descoberta ao prêmio.

"Desde que saiu o primeiro trabalho, o conhecimento sobre essas células vem crescendo muito", afirma ele.

Em entrevista ao site do Nobel, Yamanaka relembrou sua trajetória – formado em medicina, ele desistiu de ser cirurgião ortopédico "porque não tinha muito talento".

"Mas ainda sinto que sou um médico e quero ajudar pacientes. Meu objetivo, ao longo da vida toda, foi trazer essa tecnologia das células-tronco para os leitos", disse.

Segundo Rehen, já há grupos na Califórnia pensando em usar as iPS para tentar reconstruir tecidos oculares de pacientes com degeneração macular, doença que provoca cegueira.

"O raciocínio é que o perfil de segurança é melhor. Se acontecer algo errado, você tem a opção de extrair o olho [cuja função seria perdida de qualquer maneira]", explica.

Já Muotri prefere apostar nas células como plataformas para simular doenças.

Agenda

Até a próxima segunda-feira, Academia Sueca concede prêmios em várias categorias do conhecimento

Lista

Depois de conceder o Prêmio Nobel de Medicina, a Academia Sueca anuncia hoje o Nobel de Física e, amanhã, o de Química. Na quinta-feira, será revelado o de Literatura e, na sexta, o Nobel da Paz.

O calendário termina na segunda-feira, quando será anunciado o vencedor de Economia.

O prêmio em dinheiro para cada categoria é de US$ 1,2 milhão, cerca de R$ 2,4 milhões.

"As descobertas [de Gurdon e Yamanaka] revolucionaram nossa compreensão sobre a maneira como as células e os organismos se desenvolvem."

Anúncio do comitê do Nobel.

O Prêmio Nobel em Fisiolo­­gia ou Medicina de 2012, anun­­ciado ontem, homena­­geia os 50 anos de uma das buscas mais fascinantes da biologia: a tentativa de criar uma "máquina do tempo" para os seres vivos.

Separados por cinco décadas, o britânico John Gurdon, 79 anos, e o japonês Shinya Yamanaka, 50, deram passos fundamentais na busca por transformar células adultas, com "profissão" definida no organismo, em equivalentes das células embrionárias, com potencial quase ilimitado para virar componentes de ossos, músculos, rins e cérebro, por exemplo.

Infectar células adultas com essa "síndrome de Peter Pan" ainda não produziu curas milagrosas, mas traz a esperança de que, no futuro, seja possível produzir tecidos para transplante sem o risco da rejeição.

Os primeiros testes da ideia em pacientes humanos estão a caminho, disse Yamanaka ontem.

E as células reprogramadas já têm se mostrado plataformas interessantes para simular doenças com precisão ou testar novos remédios.

Dolly?

Em certo sentido, a grande perdedora do prêmio deste ano é a ovelha Dolly – sem falar no britânico Ian Wilmut, o seu criador.

Isso porque o comitê do Nobel decidiu premiar outros clones, menos midiáticos mas nem por isso menos importantes: as rãs da espécie Xenopus laevis com as quais Gurdon trabalhou, levando a uma publicação seminal do cientista em 1962.

Trabalhando na Univer­­sidade de Oxford, Gurdon transferiu o núcleo das células do intestino de girinos da espécie para óvulos dos quais ele tinha extirpado previamente os núcleos com a ajuda de radiação ultravioleta.

O resultado: girinos novinhos em folha, que se desenvolveram a partir do DNA das células intestinais – sinal de que elas ainda tinham o potencial de gerar um indivíduo inteiro e não estavam necessariamente presas ao seu destino de células adultas.

Em essência, é o que os criadores de Dolly fizeram depois. "Eu queria saber o que se passa na cabeça do Ian Wilmut depois disso", brinca Stevens Rehen, espe­­cialista em células-tronco da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

"A verdade é que o avanço da Dolly foi incremental, com o trabalho do Gurdon o dogma já estava quebrado", diz Alysson Muotri, pesquisador brasileiro da Uni­­versidade da Califórnia em San Diego.

Nascido no ano em que Gurdon publicou o trabalho com batráquios, Yamanaka foi o responsável por criar a receita que transforma células adultas em equivalentes das embrionárias sem precisar do processo de clonagem.

"Ele tinha acesso aos dados do banco japonês de células-tronco embrionárias e chegou a uma lista de 24 genes que pareciam estar ligados à pluripotência [a capacidade de dar origem a qualquer célula]", conta Muotri.

Aí, inseriu os genes­­ em células da pele de cobaias e depois foi diminuindo a lista, até achar quatro essenciais para o processo. "É o que chamo de trabalho de japonês", brinca o brasileiro. Graças a essa paciência, o resto é história.

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