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Filho de pai árabe e mãe germânica, o jornalista e economista Omar Nasser Filho acha que o preconceito contra o Islã é grande. Disposto a desfazer essa imagem negativa, ele defendeu no fim do último mês de agosto sua dissertação "O Crescente e a Estrela na Terra dos Pinheirais: Os Árabes Muçulmanos em Curitiba", como conclusão do mestrado em história pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Agora, ele prentende transformar sua dissertação em livro. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele fala sobre a história dos imigrantes árabes na capital e o atual momento da religião no mundo.

Gazeta do Povo – Qual a conclusão do seu estudo?Omar Nasser Filho – O acúmulo de capital do imigrante árabe muçulmano, com o passar do tempo, vai possibilitar a construção de espaços específicos para o exercício de sua religiosidade. Esse processo tem três marcos. O primeiro é a constituição da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná, em 1957. Em 1971, a mesquita é inaugurada, e dá uma visibilidade muito grande à comunidade. As pessoas, olhando aquele prédio, que tem uma arquitetura muito própria, começam a perceber que há muçulmanos em Curitiba. E em 1984, temos a inauguração do cemitério, que fecharia esse ciclo de espaços sagrados dos muçulmanos na cidade.

O senhor é filho de cristãos maronistas, mas se converteu ao islamismo, por quê?Sou árabe por parte de pai e de origem alemã por parte de mãe. Desde criança a cultura árabe sempre foi muito forte dentro do meu espírito. Por esse interesse na cultura árabe eu cheguei à cultura islâmica, porque essas duas coisas estão muito unidas. À medida que fui lendo e me aprofundando no estudo da religião islâmica, eu fui percebendo uma coisa muito importante: ela tem muito pouca relação com o que se diz e o que se fala por aí. Ela é dotada de uma profundidade espiritual muito grande, tanto que influenciou ao longo dos séculos o próprio misticismo católico.

O que o senhor quer dizer quando afirma "o que se fala por aí" sobre o Islã?Existe uma tendência muito forte e muito perigosa, a meu ver, de calcar a imagem do muçulmano à imagem do terrorista. Isso é perigoso porque na verdade esse processo está reforçando o surgimento de um novo preconceito. Os muçulmanos, salvo algumas exceções, são retratados pela mídia como terroristas, como perigosos, como inimigos da civilização ocidental, e não é nada disso. Essa pesquisa que eu fiz, por exemplo, mostrou que os muçulmanos que vieram para cá deram e dão uma contribuição muito grande à construção econômica, social e política da nossa cidade. E a gente pode extrapolar esse exemplo não só para o Brasil, mas para o ocidente de forma geral.

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