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A antiga vila de Lacoste, no sudoeste francês: povoado que abriga castelo que serviu de residência ao Marquês de Sade foi comprado pelo estilista Pierre Cardin há nove anos e suas “inovações” provocaram a ira dos moradores | Google/Panoramio
A antiga vila de Lacoste, no sudoeste francês: povoado que abriga castelo que serviu de residência ao Marquês de Sade foi comprado pelo estilista Pierre Cardin há nove anos e suas “inovações” provocaram a ira dos moradores| Foto: Google/Panoramio
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Lacoste - O Marquês de Sade viveu neste reduto do protestantismo, uma cidade impressionante construída com pedras cor de café com leite, no alto do vale do Rio Lubéron e próxima dos pináculos católicos de Bonnieux. Ele foi preso e internado depois que moradores locais se opuseram a suas visões sexuais e políticas, e seu castelo foi saqueado em 1789.

Pierre Cardin, 87 anos, parece um herdeiro pouco usual. Depois que ele comprou as ruínas do castelo, há nove anos, e estabeleceu ali um festival de música no verão, alguns dos 450 moradores de Lacoste, eleitores de esquerda, começaram a tratá-lo como um nobre odiado, um representante do capitalismo global.

O fato de que ele continuou a comprar propriedades, mesmo por um preço justo, tampouco ajudou. Ele agora afirma ser dono de 42 construções nesta vila que parece ter saído de um cartão postal. Ele não tem paciência com os moradores locais, que acham que Cardin está destruindo a cidade. Em vez disso, tendo gasto quase US$ 30 milhões em Lacoste, empregando 80 pessoas durante o verão, ele acredita ter salvo a cidade.

"Não entendo esse ódio pelas pessoas que chegam aqui", diz. "As pessoas não fizeram nada pela vila: não há esgoto, eletricidade à noite, nada", disse. "A vila não mudou nada desde a década de 30."

Bruno Pitot, 25 anos, acaba de conseguir um emprego na cozinha do Café de Sade, que pertence a Cardin. A presença dele "tem seu lado bom e seu lado ruim", disse o jovem, de forma prudente. "Acho que as pessoas têm inveja. Ele tem muito dinheiro e começou a construir todas essas casas. Temos medo que ele possa fechar a vila!"

O que irrita muitas pessoas é a idade avançada de Cardin. "Afinal, ele tem 87 anos, e não sabemos o que vai acontecer depois que ele se for", disse Pitot. "Eu desejo uma vida longa para ele, é claro. Mas Cardin quer ir rápido demais, e tem pouco tempo de vida. Mas há pessoas lembrando a ele que é preciso respeitar as tradições da vila".

Reminiscências

Após a Segunda Guerra Mundial, Lacoste – sem nenhuma relação com o tenista e suas camisas com pequenos crocodilos – ficou quase vazia, com menos de 30 eleitores. O lugar era uma base para a resistência francesa, e muitas das estruturas do século 15 e 16 estavam em ruínas.

Em 1958, um pintor americano, Bernard Pfriem, veio para cá e se apaixonou pelo cenário. Comprou uma casa com pouco dinheiro; depois, comprou outras e começou a restaurá-las. Foi recebido de braços abertos pelos moradores locais.

Em 1970, iniciou a Escola de Artes Lacoste, que depois teve ligações com a Sarah Lawrence College, em Nova Iorque. Porém, em 2002, todo o complexo de 31 edifícios foi assumido pela Savannah College of Art and Design, da Geórgia. O câmpus de Lacoste recebe cerca de 60 alunos para cursos e projetos de oito semanas durante o ano todo, trazendo vida ao vilarejo nos meses difíceis de inverno, quando a população local cai para menos de cem habitantes.

Mary Scarvalone é diretora do câmpus, que assumiu pelo me­­nos dois outros prédios enquanto realiza um cuidadoso trabalho de restauração. "A escola coexiste de uma forma positiva com a cidade", disse ela, e se esforça para trazer os moradores a atividades no câmpus, como aulas de desenho. Mas os turistas estrangeiros e visitantes parisienses, assim como os jovens, a maioria estudantes americanos de arte, se isolam, diz Colette Truphemus, que mora em Lacoste há mais de 40 anos. "Só os vemos à noite, quando eles nos acordam", disse. "É uma vergonha."

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