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Spheniscus demersus é a única espécie de pinguim da África, já ameaçada de extinção. | Andrew Massyn/Wikicommons
Spheniscus demersus é a única espécie de pinguim da África, já ameaçada de extinção.| Foto: Andrew Massyn/Wikicommons

O declínio da única espécie de pinguins da África, já classificada como ameaçada, está se tornando mais acentuado graças às mudanças climáticas e à pesca, de acordo com um novo estudo.

A explicação é que as alterações no estoque de peixes e na salinidade da água estão induzindo os pinguins filhotes a procurar alimentos nos lugares errados.

A pesquisa, realizada por cientistas das universidade de Exeter (Reino Unido) e Cape Town (África do Sul), foi publicada na quinta-feira (9), na revista científica Current Biology.

Os filhotes de pinguim africano (Spheniscus demersus), espécie presente na costa da África do Sul e na Namíbia, costumam vasculhar amplas áreas do oceano em busca de determinados sinais que indicam a presença de muitos peixes.

No entanto, de acordo com o novo estudo, as mudanças do clima e a pressão da pesca estão fazendo com que esses sinais levem os pequenos pinguins para áreas onde a comida é escassa, produzindo uma verdadeira “armadilha ecológica”.

A degradação ambiental pode levar a uma má adaptação da seleção do habitat. Isso significa que as pistas que antes funcionavam para uma espécie garantir sua alimentação, agora a colocam em perigo.

Richard Sherely Autor principal do estudo do Instituto de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade de Exeter

Pesquisa

A equipe liderada por Richard Sherely estudou o comportamento de 54 filhotes de pinguins africanos. Para isso, sensores foram instalados em todos os animais, que puderam ser rastreados por satélite em seus longos mergulhos em busca de uma boa área de pesca.

“Normalmente, os filhotes de pinguins africanos procuram por áreas com águas de baixas temperaturas e alta presença de clorofila do tipo A, que indica a presença de plâncton e, consequentemente, de peixes que dele se alimentam”, explicou Sherely.

Nas condições atuais, no entanto, a presença de água fria e clorofila A não coincide com a abundância de peixes. “Esses sinais eram pistas confiáveis da existência de águas ricas em presas, mas a mudança climática e a pesca industrial dizimaram os peixes que vinham se alimentar nesse sistema”, afirmou o cientista.

O efeito da pesca comercial na costa da Namíbia e as alterações ambientais na costa oeste da África do Sul reduziram dramaticamente as populações de peixes que os pinguins procuram

“Com pequenas variações na temperatura e mudanças na salinidade da água, causadas pelas mudanças climáticas, as sardinhas e anchovas, que costumavam se aglomerar nessas áreas, mudaram-se para centenas de quilômetros a leste”, explicou o pesquisador.

A armadilha ecológica tem impacto na reprodução dos pinguins, levando a uma baixa taxa de sobrevivência entre os filhotes, segundo o estudo. Os modelos desenvolvidos pelos cientistas estimam que menos de 50% dos pequenos pinguins conseguiram escapar da armadilha.

Soluções possíveis

“As mudanças climáticas e a pesca estão transformando os oceanos, mas nós não temos uma compreensão completa do seu impacto. Nossos resultados mostram a necessidade de suspender a pesca quando a biomassa de presas cai abaixo de certo nível. Eles sugerem também que será preciso uma grande ação de conservação para mitigar as armadilhas ecológicas marinhas”, disse Sherely.

Uma das opções sugeridas pelos cientistas para proteger os pinguins africanos é transferir os filhotes para um local onde não seja possível cair na armadilha. Segundo eles, há evidências de que os filhotes das colônias que vivem em áreas mais orientais - na costa da província do Cabo Leste da África do Sul, no sudeste do País -, têm escapado das armadilhas ecológicas, pelo menos por enquanto.

Outra alternativa, segundo os cientistas seria construir espaços proibidos para pesca em áreas chave onde os pinguins se alimentam, aumentando assim o número de sardinhas nesses locais.

Rastrear para conservar

De acordo com outro dos autores do estudo, Stephen Votier, também da Universidade de Exeter, só foi possível descobrir a armadilha ecológica quando os filhotes de pinguins de múltiplas colônias foram rastreados.

“Isso mostra o poder dos estudos sobre os movimentos dos animais, em especial para as espécies marinhas de vida longa, como os pinguins. O rastreamento atualmente é uma ferramenta crucial para a biologia de conservação”, disse Votier.

Os pinguins africanos estão classificados como “em perigo” na lista da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Segundo a instituição, a espécie está “submetida a um declínio populacional muito rápido, que não apresenta nenhum sinal de reversão.”

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