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O sorgo é uma das espécies cuja refletividade natural poderia ser empregada para resfriar a atmosfera | Reprodução / Current Biology
O sorgo é uma das espécies cuja refletividade natural poderia ser empregada para resfriar a atmosfera| Foto: Reprodução / Current Biology

A lerdeza em reduzir as emissões de gases que causam o aquecimento global significa que toda ajuda para mitigar o fenômeno é bem-vinda. Pesquisadores britânicos puseram a cabeça para funcionar e chegaram a um plano aparentemente mirabolante, mas mais fácil de ser aplicado do que alguém poderia imaginar: fazer com que as plantações da Terra rebatam mais radiação solar de volta para o espaço.

O termo técnico para isso é "manipulação do albedo" - o albedo é a medida da refletividade de uma superfície. Em geral, superfícies mais claras refletem mais luz, em vez de absorvê-las, embora outros fatores também influenciem isso. Modificar o albedo da área plantada no planeta poderia, portanto, fazer com que menos luz do Sol fosse absorvida pela superfície terrestre e esquentasse ainda mais o planeta. O resultado líquido, segundo os pesquisadores da Universidade de Bristol (Reino Unido) que idealizaram o estudo, seria uma redução de 1 grau Celsius na temperatura durante o verão do hemisfério Norte, em especial na Europa e na América do Norte.

"Nós projetamos uma substituição completa das plantações atuais por outras que aumentem o albedo - pelo menos foi o que assumimos no teste simples que fizemos via modelagem matemática", explicou ao G1 o principal autor do estudo, Andy Ridgwell, cujo trabalho está na revista científica "Current Biology". "Parece uma coisa muito difícil de fazer, mas levando em conta que uma variabilidade natural na refletividade das plantas existe em todo tipo de lavoura - e nós vimos isso no caso do trigo, da cevada, do milho e do sorgo, o que significa que deve acontecer com todas as espécies - uma substituição como essa poderia ser feita com todas as lavouras e em todos os lugares", diz Ridgwell. Fatores sutis, como a presença ou não de uma cutícula de cera nas folhas, a existência de microespinhos e outros detalhes da planta são suficientes para gerar variação considerável na refletividade do vegetal, afirma a pesquisa. Bastaria que houvesse incentivo para que os agricultores incluíssem também essa variável em sua escolha da variedade que iriam plantar. "Eles já fazem escolhas ligadas à dureza do grão, sabor, facilidade de estocagem etc., então não seria um obstáculo tão grande. É claro que é preciso levar em conta a produtividade, então imagino que ainda precisamos de uma década para aplicar o esquema em escala global", afirma o pesquisador.

Sul Maravilha?

Apesar da redução regional considerável da temperatura, o esquema tem menos chance de funcionar no hemisfério Sul e nos países mais tropicais do hemisfério Norte, segundo o pesquisador de Bristol - embora algumas incertezas ainda persistam. Um dos obstáculos é que os continentes da nossa parte do mundo são mais estreitos, o que acaba se convertendo em menos área plantada em potencial para rebater o Sol.

"Pelo menos no nosso modelo, a Índia e a China, apesar da densa área plantada, passam por um resfriamento muito menor, porque lá a cobertura de nuvens é muito maior no verão do que na América do Norte e na Europa. Com isso, a proporção aumentada de energia solar refletida pela lavoura não conseguiria escapar da camada mais baixa da atmosfera, e o aquecimento persiste", explica ele.

Ridgwell não descarta benefícios regionais para o hemisfério Sul, mas diz que modelos climáticos mais refinados são necessários antes de fazer alguma previsão nesse sentido.

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