• Carregando...
Nova ponte que está em fase de conclusão [à direita da antiga ponte] na baía de Oakland, em São Francisco, foi projetada para acompanhar o balanço da terra em caso de terremoto | Baybridgeinfo.org
Nova ponte que está em fase de conclusão [à direita da antiga ponte] na baía de Oakland, em São Francisco, foi projetada para acompanhar o balanço da terra em caso de terremoto| Foto: Baybridgeinfo.org

Entre na nova passarela da ponte que vai de São Francisco à baía de Oakland e ficará claro que os engenheiros a planejaram pensando a longo prazo. Intercalados dentro das vigas tubulares da rodovia – que dão a sensação claustrofóbica de um submarino, se submarinos fossem feitos de concreto –, os blocos de ancoragem, chamados de dispositivo de homem morto, en­­contram-se firmados na estrutura. Eles devem ser utilizados agora pelas próximas décadas, talvez durante o próximo século, quando as vigas de concreto co­­meçarão a ceder. Através de cabos que correm de dispositivo a dispositivo e os comprimem, os trabalhadores poderão restaurar as vigas ao seu alinhamento original.

Os dispositivos de homem mor­­to são um sinal de que o novo trecho leste da ponte da baía, que inclui a passarela e uma ponte de suspensão sem igual, deve durar pelo menos 150 anos após sua inauguração, que deve ocorrer em 2013 (até lá a ponte leste existente, ainda em uso, já terá sido demolida).

Resistência a tremores

Mas, para chegar ao século 22, o novo vão da ponte terá em algum ponto, que sobreviver a um grande terremoto, como o que destruiu boa parte de São Francisco em 1906 ou o que derrubou parte da ponte da baía em 1989. Com duas falhas geológicas próximas capazes de produzir terremotos desta magnitude, a sobrevivência não é um assunto simples.

Não importa o que se diga so­­bre o projeto – e, considerando que o prazo de construção já se alongou por mais de uma década e que os custos já alcançaram mais de US$6 bilhões, muito já foi dito –, manter a ponte intacta após um terremoto sempre foi o objetivo principal dos engenheiros.

E, para se alcançar esse objetivo, eles estarão indo a favor da corrente: desenhando estruturas flexíveis nas quais qualquer dano em potencial será limitado a elementos específicos.

"Nós queríamos fazer com que esta ponte fosse flexível de modo que, quando o terremoto vier, a flexibilidade do sistema seja tal que ela basicamente balance junto com o terremoto", diz seu planejador principal, Marwan Na­­der, vice-presidente da empresa de engenharia T.Y. Lin Interna­­tional.

Isso contrasta com outra abordagem em potencial: fazer com que as estruturas da ponte sejam grandes e rígidas o bastante para resistirem ao movimento. "Estru­­turas maciças e rígidas teriam uma aparência muito feia e se­­riam muito, muito caras", observa Frieder Seible, reitor da Escola de Engenharia Jacobs na Uni­­ver­­sidade da Califórnia, em San Die­­go, que testou vários elementos do projeto da ponte.

O projeto inclui uma torre de suspensão da ponte, de 160 me­­tros, feita de 4 hastes de aço que deverão oscilar no caso de um grande terremoto até cerca de 1,5 metro no topo. Mas a maior parte da força seria absorvida pelas placas de conexão entre as hastes, chamadas de ligações de cisalhamento.

Os píeres de concreto da ponte foram planejados para oscilar também, limitando o dano para que seja direcionado somente às áreas com reforço de aço extra. E, nas juntas ao longo de todo o comprimento, há tubos de aço des­­lizantes de 18 metros, chamados de vigas articuladas, com seções de sacrifício feitas de um aço mais fraco que ajudariam a poupar o restante da estrutura caso ela se desloque num terremoto.

"No deslocamento sísmico que antecipamos, haverá danos", afirma Nader. "Mas o dano será reparável, e a ponte poderá ser utilizada sem problemas."

Veículos e equipes de emergência, pelo menos, poderão utilizar a ponte dentro de horas após um grande terremoto, assim que seja feita a inspeção da estrutura e os reparos temporários, como a inserção de placas de aço sobre certas juntas.

Considerando que se espera que os dois maiores aeroportos da área da baía de São Francisco estarão fora de serviço após um desses desastres, essa ponte e a ponte Benicia-Martinez, outra ponte com um vão sismicamente seguro a cerca de 32 quilômetros a nor­­deste, seriam as estruturas de sal­­vamento para trazer assistência à região atingida a partir de uma base da Força Aérea no continente, explica Bart Ney, porta-voz do Departamento de Trans­­porte da Califórnia.

Lição do passado

Foi um terremoto que fez com que este vão substituto, que corre por 3,5 quilômetros entre Oak­­land e a ilha de Yerba Buena no meio da Baía de São Francisco, seja necessário. O terremoto de Loma Prieta de 1989, o primeiro a ocorrer ao longo da zona da falha de San Andreas desde o desastre de 1906, fez com que parte do vão já existente, feito de treliças de aço, entrasse em co­­lapso, matando um motorista. A ponte foi fechada por um mês.

O terremoto, com uma magnitude de 6.9, causou um forte abalo que durou por cerca de 15 se­­gundos, e movimentos ainda maiores do que a antiga ponte de 1930 havia sido planejada para suportar.

"Quando a ponte foi submetida àqueles tremores de terra de 1989, ela foi literalmente esticada e um dos vãos basicamente caiu", disse Nader.

A maioria dos especialistas concorda que um terremoto mais forte, provavelmente ao longo das falhas de San Andreas ou de Hayward, na baía leste, poderia causar um colapso total do antigo vão.

Há uma forte possibilidade de um grande terremoto na área da baía – uma chance de cerca de 2 em 3 de magnitude 6.7 ou maior, até 2036, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla no original) e ou­­tras instituições.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]