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Curitiba – Se todos os imigrantes ilegais que trabalham nos Estados Unidos cumprirem a determinação do "Um Dia Sem Imigrantes", manifestação marcada para amanhã, 4,9% da força de trabalho norte-americana ficará paralisada. O número mostra apenas a dimensão do "problema" em discussão atualmente nos EUA e dificilmente deve traduzir a realidade dos protestos desta segunda-feira.

Vários grupos de imigrantes defendem que a proposta de não comparecerem ao trabalho e não comprarem produtos norte-americanos durante um dia pode acabar trazendo mais problemas do que despertando o interesse da população nativa por suas causas. Ainda assim, os organizadores estimam a adesão na casa dos milhões.

Um estudo do Pew Hispanic Research do ano passado calculou o número de imigrantes ilegais vivendo nos Estados Unidos em torno de 11,1 milhões. Desses, 7,2 milhões possuem algum tipo de ocupação (veja box).

Atualmente, está em discussão no Senado norte-americano a criação de leis mais brandas em relação aos imigrantes, na contramão do projeto aprovado pelos deputados federais em dezembro último, que criminaliza o imigrante ilegal. A atual proposta prevê que aqueles que estão há mais de cinco anos no país recebam a cidadania, desde que tenham aprendido inglês e paguem os impostos proporcionais ao tempo de moradia.

Caso aprovada, a nova legislação deve influenciar a vida de milhares de brasileiros. Nem o governo norte-americano nem o brasileiro possuem números oficiais, mas as estimativas apontam que entre 1 milhão e 1,5 milhão de pessoas formam a comunidade brasileira nos EUA, e que metade vive na ilegalidade.

A contar pela quantidade de emigrantes do Brasil apreendidos na fronteira EUA–México, o interesse dos brasileiros pela América tem aumentado com o passar dos anos. Durante o último ano fiscal norte-americano – 1.º de outubro de 2004 a 30 de setembro de 2005 – o número de detidos foi de 31.070. Entre 1999 e 2004, foram 21.402.

O Department of Homeland Security (Departamento de Segurança de Território dos EUA) estima que para cada pessoa presa, outras três conseguem burlar a polícia fronteiriça e entrar no país. Para tentar coibir esse caminho, desde outubro de 2005 o governo mexicano passou a exigir o visto de turista para brasileiros.

De acordo com um artigo publicado pela professora e pesquisadora do Núcleo de Estudos da População (Nepo) da Unicamp, Teresa Alves, a migração para os Estados Unidos é "uma migração de trabalhadores, de pessoas originárias da classe média e que vão trabalhar em serviços não especializados."

A história de Ana (nome fictício), 22, resume o perfil do brasileiro ilegal nos EUA. Depois de entrar no país com um visto de trabalho temporário, válido por 3 meses, ela comprou um número de "social security" (o equivalente ao CPF brasileiro) por U$ 30 e trabalhou durante um ano, exercendo diversas atividades, entre restaurante, sorveteria e lava-carros. Segundo ela, não são raros os casos de brasileiras que casam com norte-americanos, especialmente militares, para obter o "green card" (documento que permite a permanência legal nos EUA). "Têm muitas brasileiras que se casaram com militares porque os militares americanos recebem um aumento do salário depois de casados, então eles também saem ganhando", relata. Outras simplesmente pagam alguém para casar. "O preço em média é de U$ 4 mil. Metade antes e metade quando chega o green card. É claro que é preciso criar toda uma farsa, viajar juntos, tirar fotos, fingir que tem um relacionamento, porque o governo americano fiscaliza", conta Ana. De acordo com o presidente dos EUA, George W. Bush, o Congresso deve decidir pela lei da reforma migratória até o fim de maio.

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