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Para um grande setor da população, o referendo é uma grande perda de tempo, num momento em que o país deveria pensar em como evitar uma recessão histórica, consequência da crise mundial. Nas ruas de Caracas, o referendo roubou a cena, mas o que realmente preocupa os venezuelanos é a inflação que no ano passado chegou a 32% (uma das mais altas do mundo), o desabastecimento de alimentos, o aumento do desemprego e da violência, sobretudo nos bairros mais humildes.

"Chávez governou dez anos, teve uma grande oportunidade e não soube aproveitá-la. O problema é que não temos alternativa. Votei sempre em Chávez. Mas desta vez não posso apoiar o presidente", disse a estudante Mariana Rangel, de 24 anos, que integra um setor, cada vez maior, de chavistas autônomos.

Em 2008, a economia venezuelana cresceu 4,9%, depois de registrar uma expansão de 8,4% no ano anterior. Em 2009, analistas estimam que o PIB ficará estagnado e a inflação poderá superar 40%. Alguns sinais já começaram a aparecer: a venda de automóveis recuou 40% em janeiro, em relação ao mesmo período do ano passado.

"Estamos entrando numa crise que promete ser uma das piores das últimas décadas", afirmou o economista José Guerra.

A crise deverá atingir a estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA), uma das principais fontes de financiamento do governo. Segundo informações extraoficiais, os cortes na produção chegam a 300 mil barris diários.

"Se com um barril a US$ 150 o governo chavista não conseguiu superar um nível de pobreza e desemprego crônico, como fará com um barril a menos de US$ 40?", perguntou o comerciante Fernando Vallejos.

O petróleo representa 22% do PIB venezuelano. Chávez insiste em dizer que seu país não sofrerá as consequências da crise mundial. Para a maioria dos venezuelanos, porém, a crise já desembarcou.

Missões

A atuação social de Chávez pode ser severamente afetada. "O país tem reservas para aguentar este ano sem cortar a política social. Mas se o preço não subir, essas políticas não são viáveis", opina a professora da Universidade Central da Venezuela, Margarita López-Maya.

Entre as principais "misiones", como são chamadas, está a "Barrio adentro", que cobre 89% da população com consultórios médicos populares, com intercâmbio com o sistema de saúde de Cuba.

A missão que atacou o analfabetismo é controversa. Enquanto o governo afirma ter erradicado o problema em 2005, pessoas envolvidas, como o ex-economista-chefe da Assembleia venezuelana, Francisco Rodríguez, afirmam que havia mais de um milhão de analfabetos em 2005 no país, pouco menos que o 1,1 milhão registrado em 2003.

"As missões funcionam com bastante ineficiência, mas digamos que há algumas muito importantes para a qualidade de vida da população", define López-Maya.

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