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Grupo reunido durante o ShanghaiPRIDE de 2017
Grupo reunido durante o ShanghaiPRIDE de 2017| Foto: Reprodução/ShanghaiPRIDE

A Parada LGBT de Xangai, maior cidade da China, que começou em 2009, era um dos poucos eventos públicos que permitiam a manifestação da diversidade sexual no país. No entanto, nos últimos três anos, ela não foi realizada.

Um dos motivos apontados para o cancelamento após a última edição, realizada em 2020, era que o evento não poderia ocorrer nos anos seguintes por causa das restrições geradas pela pandemia de Covid-19. Mas três anos depois, passada a crise, o evento seguiu sem receber autorização para a sua realização.

Na época em que foi cancelada, em 2020, a organização responsável pelo evento não deu nenhum motivo oficial.

“O Shanghai PRIDE lamenta anunciar que estamos cancelando todas as atividades futuras e fazendo uma pausa na programação de eventos. Amamos nossa comunidade e somos gratos pelas experiências que compartilhamos juntos”, disseram os organizadores por meio de um comunicado no popular aplicativo de mensagens WeChat, utilizado pela maioria dos cidadãos chineses.

“Não importa o que aconteça, sempre estaremos orgulhosos, e você também deveria estar”, completou o comunicado.

A Parada LGBT de Xangai era uma das mais famosas da Ásia e atraiu cerca de 2 mil pessoas em sua primeira edição, em 2009. Ela foi realizada todos os anos até o seu cancelamento.

A decisão da organização de não realizar o evento ocorreu no momento em que a China vem dando passos largos na supressão dos poucos direitos que os homossexuais ainda têm no país.

Veículos de comunicação afirmaram que o cancelamento do evento aconteceu justamente por causa do aumento da repressão das autoridades locais contra manifestações desse tipo e pelo medo que os organizadores estavam sentindo. De acordo com alguns defensores da causa, o Partido Comunista Chinês não vê com bons olhos as manifestações da comunidade LGBT no país.

Como reportou a BBC em 2021, o regime de Xi Jinping vem trabalhando nos últimos anos para remover da mídia chinesa aquilo que o Estado classifica como “estilo afeminado”.

Tal “estilo”, de acordo com a agência reguladora de rádio, TV e internet do país, é considerado uma “influência vulgar” para os cidadãos e deve ser “evitado”. Além disso, a agência também estabeleceu critérios para que a conduta “moral” e “política” fosse incluída na seleção de indivíduos que iriam participar de programas na TV chinesa.

Na época, a agência também prometeu promover o que definiu como “imagens mais masculinas de homens” na mídia chinesa e que daria mais ênfase a programas, eventos e manifestações que mostrassem os “verdadeiros valores socialistas”.

A supressão de direitos dos homossexuais na China não é uma novidade. O país já faz uma censura rígida sobre assuntos que façam referência ao tema há bastante tempo. Filmes de Hollywood lançados nos cinemas chineses já tiveram cenas que abordavam assuntos relacionados à causa censuradas pelo regime.

Além disso, a China também já borrou as orelhas de jovens pop stars em suas aparições na TV e na internet, para esconder seus brincos ou piercings. Tatuagens e penteados em homens também foram borrados em diversas ocasiões. Tais restrições podem explicar por que o regime chinês não autorizou mais a organização do Shanghai PRIDE.

Repressão

Em junho, a agência de notícias Bloomberg relatou que uma série de cancelamentos súbitos de shows, conferências e reuniões estava ocorrendo na China. Segundo a reportagem, os principais eventos afetados estavam relacionados à comunidade LGBT, como algumas celebrações do “Mês do Orgulho Gay” programadas para este mês em algumas províncias do país. Além disso, um centro LGBT com certa relevância em Pequim também foi afetado pelo aumento da repressão e fechou suas portas após 15 anos de existência sem um motivo específico.

“Lamentavelmente, anunciamos que, devido a forças além do nosso controle, o Centro LGBT de Pequim vai parar de funcionar hoje”, disseram os responsáveis pelo centro na época de seu fechamento, em maio, no WeChat.

Em 2021, no próprio WeChat, diversos grupos de jovens que debatiam temas relacionados à comunidade LGBT foram fechados sem explicação.

Em Shenyang, capital da província de Liaoningue, que fica no nordeste da China, um evento em alusão ao “Mês do Orgulho” geralmente comemorado em junho foi adiado por motivos de “força maior”, termo que é frequentemente associado à intervenção do regime chinês.

Em entrevistas ao site de notícias chinês South China Morning Post em 2021, especialistas apontaram que existe uma tendência na China de relacionar a homossexualidade e as pessoas LGBTs a estilos de vida ocidentais ou à “decadência capitalista e burguesa”. Para membros do regime chinês, o movimento LGBT e eventos relacionados ao “Orgulho Gay”, como a Parada LGBT de Xangai, são uma “influência ocidental importada” e consequência direta do “consumismo extremo”.

Os mesmos especialistas afirmaram que essa ideia é preocupante especialmente no contexto de aumento das tensões nas relações entre a China e o Ocidente. Na visão deles, a justificativa de que a homossexualidade é um conceito ocidental importado para o país pode abrir vias para a repressão ainda mais forte dos direitos dos homossexuais no país futuramente.

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