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Especulações

Por que o papa Francisco visitou diversos países sul-americanos, mas nunca voltou à Argentina

(Foto: Presidência da República Mexicana/Wikimedia Commons)

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Nascido no bairro Flores, em Buenos Aires, capital da Argentina, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, realizou 48 viagens internacionais, passando por mais de 60 países como líder da Igreja Católica, sendo uma dessas ao Brasil mas jamais visitou sua terra natal como pontífice.

Embora não haja uma explicação exata sobre a razão de Francisco nunca ter visitado a argentina como chefe da Igreja Católica, alguns especialistas dizem que ele tinha receios que uma possível visita pudesse ser usada para fins políticos.

Antes e durante de exercer a liderança máxima da Igreja Católica, Francisco já havia tido turbulências com presidentes argentinos. Na função de arcebispo de Buenos Aires, ele entrou em confrontos com a ex-presidente Cristina Kirchner em relação a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Jorge Mario Bergoglio também tinha suas discordâncias em relação a políticas impostas pelo ex-presidente Mauricio Macri e Alberto Fernandez. Em 2020, ele teve uma postura enfática contra a legalização do aborto, aprovada pelo congresso argentino com apoio de Alberto.

Já com Javier Milei, as tensões chegaram a ser maiores, principalmente pelo fato do atual presidente, antes de ser eleito, ter definido o papa como "representante do maligno na terra". Antes da morte de Francisco, ambos se "reconciliaram" e Milei diz que foi perdoado.

Papa esteve perto da Argentina em mais de uma ocasião

Algo frustrante para fiéis argentinos e entusiastas de Francisco, foi o fato dele ter feito viagens a países próximo ao seu país natal mas nunca ter desembarcado em solo argentino. Durante seu papado, Francisco viajou para o Brasil, Chile, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia.

No Brasil, o Papa reuniu mais de 3,7 milhões de pessoas no Rio de Janeiro, em sua primeira viagem apostólica, em 2013. Na ocasião, ele veio ao país para a 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Com muitas referências e brincadeiras ao Brasil, país com mais católicos no Mundo, ele chegou a dizer que "Deus é brasileiro”.

Além da visita em 2013, o Francisco esteve no Brasil em uma outra oportunidade, na ocasião, antes de ser eleito papa, em maio de 2007, na cidade de Aparecida, São Paulo, para a 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Ele era cardeal arcebispo de Buenos Aires à época.

Pergunta de um milhão de dólares

Pessoas ligadas ao Papa Francisco dizem que ele sentia incômodos sobre como suas ações eram analisadas em seu país de origem.

 Roberto Carlés, advogado com próximo ao Papa e ex-embaixador da Argentina na Itália de 2020 a 2023, disse que a Argentina foi tomada pela "polarização" e que o líder da Igreja Católica "acabou no meio disso sem querer".

"E ele sofreu com isso. Sofreu, porque representa exatamente o oposto do que ele promoveu durante toda a sua vida".

Roberto disse ainda que ao decorrer de seu papado, Francisco "sentiu o desejo de voltar à Argentina", algo que acabou não dando certo.

O papa chegou a dizer que uma viagem a Argentina estava programada, em 2017, numa excursão que tinha como principal visita o Chile, mas que por conflitos de agendas, a ida ao seu país natal acabou sendo frustrada.

Em 2023, ele negou que havia uma recusa a estar em seu país natal e continuava a deixar as possibilidades em aberto.

"Não há uma recusa em ir. Não, de forma alguma. A viagem foi planejada, estou aberto à oportunidade" , disse Francisco em uma entrevista de 2023 ao site argentino Infobae.

Secretário de Assuntos Religiosos da Argentina de 2003 a 2015 e de 2019 a 2023, Guillermo Oliveri, classificou a questão sobre a não visita do papa a Argentina como  "a pergunta de um milhão de dólares". Segundo ele, após diversas conversas com Francisco, a polarização e questões políticas foram a principal razão do papa nunca ter estado em seu país de origem novamente.

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