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 | Robson Vilalba
| Foto: Robson Vilalba

Rir é algo regularmente promovido como fonte de saúde e bem-estar, mas tem sido difícil apontar exatamente porque seja tão boa a sensação de rir até doer.

A resposta, diz Robin Dunbar, psicólogo evolutivo da Uni­­ver­­sidade de Oxford, não é o prazer intelectual do humor cerebral, mas o ato físico de rir. Os simples esforços musculares envolvidas na produção do conhecido rá, rá, rá, afirma Dunbar, provocam um aumento de endorfinas, os químicos cerebrais conhecidos por seu efeito de bem-estar.

As conclusões do psicólogo de Oxford se baseiam num longo his­­tórico de tentativas científicas de compreender um comportamento capciosamente simples e universal. "O riso é um negócio muito esquisito, na verdade", co­­menta. "Por isso, o riso nos interessa", acrescenta. E as descobertas se encaixam bem na no­­ção crescente de que rir contribui para a criação de laços grupais e pode ter sido importante na evolução dos humanos altamente sociais.

O riso social, sugere Dunbar, relaxado e contagiante, contribui para fortalecer os vínculos afetivos.

A pesquisa

Em cinco conjuntos de estudos em laboratórios e um estudo em campo sobre apresentações cômicas, Dunbar e seus colegas pesquisadores testaram a resistência à dor tanto antes como depois de surtos de risada social. A dor provinha de uma manta térmica de vinho refrigerada, colocada sobre um dos antebraços, um manguito de pressão sanguínea, que se tornava progressivamente mais apertado, e um exercício excruciante de esqui.

As descobertas, publicadas no Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, eliminaram a possibilidade de que a resistência à dor fosse o resultado de uma sensação generalizada de bem-estar em vez do riso em si. E, se­­gundo Dunbar, as pesquisas também forneceram uma resposta parcial ao enigma milenar sobre se rimos porque nos sentimos alegres ou se ficamos alegres porque rimos.

"A sequência causal é que o ri­­so aciona a ativação de endorfina", ele disse. O que ativa o riso é uma questão que leva a um labirinto diferente.

Robert R. Provine, neurocientista da Universidade de Ma­­ry­­land, no condado de Balti­­more, e autor de Laughter: A Scien­­tific Inves­­tigation [Rir: uma Inves­­ti­­gação Cien­­tífica, em tradução li­­vre], disse considerar o estudo uma "contribuição significativa" para um campo de estudo que data de até 2 mil anos atrás ou mais.

"Tal estudo nem sempre se focou nos benefícios da risada. Tanto Platão como Aristóteles, diz Provine, se preocupavam com o poder do riso de minar a autoridade. E Provine notou que os antigos estavam muito cientes de que o riso poderia acompanhar estupros e pilhagens tão bem quanto uma história cômica contada diante da lareira.

Riso social

Dunbar, no entanto, estava preocupado em seus estudos com o riso socia l, relaxado e contagiante, não a gargalhada do tirano ou o "risinho educado" da conversa desconfortável. Ele cita um exemplo clássico do que seria um jantar em que todo mundo falasse uma língua diferente e em que alguém fizesse um comentário aparentemente hilário, embora incompreensível. "Todo mundo cai na risada, e você fica um pouco confuso por uns três segundos, mas na verdade vo­­cê pessoalmente não consegue evitar cair na risada também".

Para testar a relação entre o riso desse tipo e a resistência à dor, Dun­­bar fez uma série de seis experimentos. Em cinco, participantes assistiram a trechos de vídeos de comédia, vídeos neutros e vídeos que promoviam bem-estar, mas não riso.

Entre os vídeos de comédia estavam trechos de Os Simpsons, Friends e South Park, além de apresentações de "stand up comedy", como de Eddie Izzard. Os vídeos neutros incluíam Barking Mad, um documentário sobre adestramento de animais e um programa de golfe. Os vídeos positivos, mas não engraçados, incluíam trechos de programas sobre a natureza, como o episódio Selvas da série Planeta Terra.

Nos experimentos em laboratório, os participantes foram testados antes e depois de verem combinações diferentes de vídeos. Eles foram submetidos à manta térmica gelada ou ao manguito de pressão sanguínea em diferentes experimentos e deveriam avisar quando a dor atingisse um ponto em que se tornasse insuportável. Eles utilizaram gravado­­res durante os vídeos para que se pudesse estabelecer o tempo gasto rindo. No único experimento no mundo real, testes semelhantes foram conduzidos em apresentações de um grupo de comédia de improviso, os Oxford Imps.

Resistência à dor

Os resultados, depois de analisados, demonstraram que rir au­­mentava a resistência à dor, en­­quanto o mero bem-estar em oca­­sião social não o fazia. A resistência à dor é utilizada como um in­­dicador de níveis de endorfina porque sua presença no cérebro é difícil de ser testada; as moléculas não aparecem em exames de sangue porque estão entre os químicos cerebrais que não podem en­­trar no circuito sanguíneo por conta da barreira hematoencefálica.

Dunbar acredita que o riso pode ter tido favorecimento evolutivo porque ajudava a reunir grupos humanos, do mesmo mo­­do que outras atividades como dançar e cantar. Essas atividades também produzem endorfinas, diz ele, e a atividade física é igualmente importante nelas. "O riso é um mecanismo primitivo de criar laços entre grupos sociais", comenta. "Primatas o usam".

De fato, bem se sabe que os grandes símios riem, embora de modo diferente dos humanos. Eles ofegam. "A ofegação é o som da brincadeira vigorosa", observa Dr. Provine. Ela se torna uma "ri­­tualização" do som da brincadeira. E no curso da evolução dos se­­res humanos, sugere Dunbar, "a ofegação se tornou o rá, rá, rá".

Tradução: Adriano Scandolara

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