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Milhares de egípcios se reuniram na Praça Tahrir na sexta-feira, protestando contra os militares | Mohamed Hossam/AFP
Milhares de egípcios se reuniram na Praça Tahrir na sexta-feira, protestando contra os militares| Foto: Mohamed Hossam/AFP

A imagem da ágora grega como um espaço onde se discute política de maneira racional está distante da atual realidade da Grécia. Não é só o fator cronológico que separa a antiguidade dos dias contemporâneos, mas as bombas de efeito moral, balas de borracha e coquetéis molotov que assolaram os manifestantes na Praça Syntagma. O local, que concentra os atuais protestos no centro de Atenas, também é o reduto do parlamento grego.

O nome grego Platía Sin­­dágmatos significa Praça da Constituição e é ali que manifestantes tentam ter alguma influência sobre os legisladores do país. Os principais protestos eram contra as medidas de austeridade que o parlamento grego iria votar, para conseguir US$ 17,4 bilhões de um novo pacote de socorro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia. Mesmo depois da aprovação das medidas, há quem permaneça na praça lembrando a palavra grega tão aclamada ao longo dos séculos: "democracia". Descrentes do atual governo, os manifestantes pedem mudanças estruturais mais eficazes do que simples cortes orçamentários para agradar ao FMI.

Na Praça Syntagma, repete-se a palavra ordem da Praça Porta do Sol, na Espanha: "Democracia Real Já". O pedido ideológico de democracia de verdade traz consigo os brados contra o que afeta a vida prática e põe em risco a estabilidade dos espanhóis, o alto índice de desemprego e a corrupção.

Na era em que a internet é um espaço público que congrega milhões de pessoas, o encontro real das grandes praças prova que não perdeu a força. A união física, além da virtual, para mostrar uma causa em comum ainda tem efeito.

Por certo, a rede faz diferença tanto para conclamar as pessoas a aderir aos movimentos quanto para fazer com que as notícias e as ondas de indignação se espalhem mais rápido e para mais longe. Incontáveis adeptos do Twitter foram os primeiros a dizer "o que está acontecendo agora" do meio dos protestos, e hashtags como #democaraciarealya fizeram causas atravessarem fronteiras. Mas ainda que os manifestantes estejam bem equipados dos smartphones e notebooks, é em plena praça pública que as vozes realmente tem se unido para reagir às crises econômicas e às ditaduras.

"Libertação" é o nome da praça que teve força para fazer o presidente do Egito, Hosni Mubarak, se demitir no dia 11 de fevereiro desse ano, após 30 anos no poder. Não foi simplesmente a Praça Tahrir (nome em árabe), mas o povo, que não arredou o pé de lá. Os protestos duraram 18 dias e chegaram a reunir 100 mil pessoas. Quando a renúncia foi confirmada, os manifestantes gritaram: "O Egito está livre!".

Se a coincidência não contribui para que o nome das praças evoque as causas dos rebeldes, eles tratam de rebatizá-las. A onda se espalhava pelo mundo árabe e, ainda em fevereiro, os rebeldes da Líbia já clamavam que o ditador Muamar Kadafi deixasse o poder e chamaram o local de manifestação em Benghazi de "Tahrir 2". O principal ponto de protestos no país é a antiga Praça dos Mártires, que teve o nome modificado por Kadafi para Praça Verde. Os manifestantes preferem usar o antigo nome.

Em uma área valorizada de Manama, capital do Reino do Bahrein, cercada por shoppings, prédios e hotéis de luxo, está Pérola, a praça que reuniu os manifestantes que pediam mudanças políticas. O país é governado pela dinastia Al-Khalifa, elite sunita que está no poder há 40 anos. Pérola foi cercada por arames farpados e tanques de guerra para impedir as manifestações. Mesmo massacrados em março, os opositores xiitas insistem nos protestos pelo fim da ditadura.

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