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Os partidos de oposição apresentaram hoje uma moção de censura contra o primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan. A moção, que deve ser votada amanhã, agrava o quadro de paralisia política, no momento em que o país tenta se reconstruir após um forte terremoto e um tsunami em março, que causou a pior crise nuclear mundial desde Chernobyl. O Partido Democrático do Japão (PDJ) de Kan tem maioria tranquila no Parlamento. Porém uma profunda divisão no partido pode representar um desafio para o premiê, deixando potenciais rebeldes dentro do partido governista com o poder de decidir a questão.

Caso a moção seja aprovada, Kan será o quinto primeiro-ministro consecutivo a deixar o posto antes do fim do mandato no Japão em cinco anos. Os sucessores potenciais, cujos nomes aparecem em pesquisas, incluem o porta-voz do governo, Yukio Edano, e o secretário-geral do PDJ, Katsuya Okada. Um levantamento, no entanto, mostrou que o "nome" com mais intenção de votos era "ninguém".

"A reconstrução é impossível com você (Naoto Kan)", afirmou o líder do oposicionista Partido Liberal Democrático (PLD), Sadakazu Tanigaki, durante o debate hoje (horário local) entre os líderes partidários. "Assim que você renunciar, há muitas maneiras de nós superarmos as diferenças partidárias e criarmos uma nova estrutura (para o diálogo político)", afirmou.

Crise econômica

As divergências políticas deixaram a discussão sobre o grande déficit orçamentário japonês em segundo plano. A quase completa paralisia nas negociações para a aprovação de uma lei para emissão de bônus para cobrir o déficit resultou em um possível rebaixamento da dívida soberana japonesa, enquanto analistas do mercado questionam a viabilidade das políticas fiscais de um gabinete que pode não sobreviver até o fim do mês.

Propostas controversas, como dobrar o imposto sobre consumo para cobrir parte do déficit e gastos com a previdência social, que consome cada vez mais recursos, também causam incertezas. Ontem, a agência de classificação de risco Moody's informou que o rating da dívida japonesa foi colocado em revisão para possível rebaixamento. A economia do Japão encolheu 3,7% em uma taxa anualizada no período entre janeiro e março, muito mais que o esperado e indício de um país em recessão.

A maioria dos partidos da oposição deve apoiar a moção de censura. Porém pesquisas mostram a opinião pública contrária à ação para derrubar o primeiro-ministro, enquanto o Japão deve se concentrar na reconstrução após o terremoto e o tsunami ocorridos em 11 de março. Os desastres ambientais produziram uma crise nuclear na usina Daiichi, em Fukushima. Caso vá realmente para votação, a moção será a segunda enfrentada por Kan. Se aprovada, o premiê terá de dissolver a Câmara Baixa e convocar eleições gerais, ou renunciar junto com todo o gabinete em dez dias, como estipulado na Constituição.

Improvável

Com áreas atingidas pelo tsunami com problemas de infraestrutura administrativa dificultando até a realização de votações locais, uma eleição antecipada é considerada por analistas como bastante improvável. Dessa forma, o próprio PDJ precisaria formar novo governo. A oposição ataca Kan pelo modo como lidou com a crise nuclear, citando a resposta lenta de sua equipe nos estágios iniciais do acidente. Ela também critica o premiê por criar vários comitês desnecessários, burocratizando o esforço de ajuda quando a rapidez e a eficiência eram essenciais.

Membro do governista PDJ, o ex-presidente do partido Ichiro Ozawa é visto como o principal rival no momento para Kan. Ozawa foi acusado de receber fundos políticos ilegais, porém nega as acusações, que renderam uma troca de farpas pública entre ele e Kan. Ozawa decidiu apoiar a moção de censura contra o gabinete, informou hoje a emissora de televisão pública NHK.

A oposição, porém, precisa de mais de 70 parlamentares do PDJ votando contra Kan para aprovar a moção. Uma pesquisa do jornal Asahi Shimbun mostrou que 53 dos 166 deputados da coalizão do PDJ estariam dispostos a votar contra Kan. Dos citados no levantamento, porém, 16 dos votos eram baseados em comentários recentes, não em respostas diretas. Na noite de hoje, três vice-ministros do gabinete anunciaram sua intenção de sair desses cargos, pois apoiariam a moção de censura, informou a NHK.

Mesmo que a oposição não consiga todos os votos, um grande racha no PDJ pode ameaçar seriamente o status do partido no poder. Okada, o secretário-geral do PDJ, já ameaçou expulsar os rebeldes. Entretanto, expulsar muitos deles deixaria a sigla dependente de partidos menores, enfraquecendo mais o governo.

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