O comitê do Prêmio Nobel da Paz defendeu nesta quinta-feira a concessão do prêmio ao dissidente preso Liu Xiaobo, dizendo que se baseou em "valores universais" e rejeitando a acusação de Pequim de que esteja tentando impor ideias ocidentais à China.
A China conservou o tom combativo na véspera da cerimônia de entrega do prêmio, em Oslo, e anunciou a concessão de seu próprio "Prêmio Confúcio da Paz" ao ex-vice-presidente de Taiwan Lien Chan, embora o gabinete dele tenha dito que ele não tinha conhecimento do prêmio.
No Natal do ano passado a China colocou Liu na prisão por 11 ano, acusando-o se subversão do poder do Estado, por ele ser o autor principal da Carta 08, um manifesto pedindo reformas democráticas no país, onde só existe um partido, o Comunista.
O presidente do comitê do Nobel, Thorbjoern Jagland, disse em coletiva de imprensa que a concessão do prêmio a Liu não foi um protesto.
"É um sinal à China de que seria muito importante para o futuro da China combinar desenvolvimento econômico com reformas políticas e apoio aos que lutam por direitos humanos fundamentais na China", disse ele.
"Este prêmio transmite o entendimento de que esses são direitos e valores universais, e não padrões ocidentais", ele acrescentou.
É pouco provável que suas declarações acalmem o governo chinês, onde ideólogos do Partido Comunista consideram "valores universais" é um termo sinônimo de liberalização ocidental.
China critica Congresso dos EUA
A porta-voz do Ministério de Relações Exteriores chinês Jiang Yu criticou a Câmara dos Representantes dos EUA por ter lançado um chamado à China pela libertação de Liu e sua mulher, Liu Xia, que está em prisão domiciliar.
Jiang disse em comunicado regular à imprensa que quaisquer tentativas de impor pressão ou "desviar a China de seu desenvolvimento" não terá sucesso.
"A China exorta os parlamentares relevantes dos EUA a suspender as palavras e atividades erradas com relação a Liu Xiaobo e a mudar sua atitude arrogante e grosseira", disse Jiang. "Eles deveriam demonstrar respeito pelo povo e a soberania legal da China."
"A chamada resolução do Congresso americano distorce a verdade e constitui uma ingerência ampla nos assuntos internos da China."
"Liu Xiaobo não foi condenado por suas declarações", escreveu a porta-voz. "Liu escreveu e publicou na Internet artigos inflamados, organizando e persuadindo outros a assiná-los, para agitar e derrubar a autoridade política e o sistema social da China."
A repressão movida pela China contra dissidentes, ativistas dos direitos humanos e amigos e familiares de Liu continua.
A polícia impediu advogados, acadêmicos e representantes de ONGs de assistir a um seminário sobre o Estado de direito na embaixada da União Europeia em Pequim, disse o embaixador da UE na China.
A China exerceu seu poder econômico para conseguir apoio a um boicote da cerimônia de entrega do Nobel a Liu, em Oslo, na sexta-feira.
A maioria dos 18 ou 19 países que aderiram ao boicote tem laços comerciais fortes com a China ou compartilha a hostilidade desta às pressões ocidentais pelos direitos humanos.
A China afirma que a "imensa maioria" das nações vai boicotar a cerimônia. O comitê norueguês do Nobel diz que dois terços dos convidados vão comparecer.
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