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Já passou da hora de incorporar o esforço para evitar o desmatamento à luta contra a mudança climática, afirma um grupo internacional de pesquisadores na edição desta semana da prestigiosa revista "Science". A equipe, que inclui o climatologista brasileiro Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), colocou na ponta do lápis o valor de manter as florestas em pé para evitar o aumento do efeito estufa.

Resumo da ópera: se até 2050 a taxa mundial de desmatamento cair 50% e continuar assim até 2100, cerca de 12% da necessidade de redução nas emissões de gases-estufa do planeta estará satisfeita. "A redução de emissões vinda da redução do desmatamento pode estar entre as opções menos caras de mitigação [do aquecimento global]", dizem os pesquisadores no artigo da "Science". Estima-se que hoje as emissões de carbono derivadas do desmatamento correspondam a 20% do total emitido pelas atividades humanas no planeta. A conta é feita com base numa meta de 450 ppm (partes por milhão) de gás carbônico na atmosfera, considerada aceitável e capaz de evitar a mudança climática catastrófica.

O problema é como atingir a redução de 50% no ritmo do desflorestamento, e nesse ponto os pesquisadores se mostram favoráveis a uma iniciativa da ONU para estudar incentivos diretos aos países com muita mata nativa, como o Brasil, para enfrentar o problema. A situação é complicada pelo fato de que muitas nações, inclusive o Brasil, não querem metas obrigatórias de desmatamento por considerá-las uma potencial afronta à sua soberania nacional. Nesse caso, diz o grupo, um sistema de reduções voluntárias poderia ser a resposta. Simplesmente reduzir os incêndios florestais e impedir a derrubada em áreas que não são favoráveis à agricultura já geraria efeitos positivos, de acordo com eles.

Seja como for, os pesquisadores apontam outras razões para evitar o desmatamento além da geração direta de gases-estufa, liberados a partir da biomassa em decomposição das árvores. Para começar, o próprio aumento da quantidade de gás carbônico na atmosfera pode ressecar florestas como a Amazônia, levando à morte das árvores (liberando mais carbono) e, no longo prazo, à possível substituição da mata fechada por savanas, que têm capacidade menor de retirar os gases-estufa da atmosfera por meio da fotossíntese. Além disso, na Amazônia a perda da floresta fechada pode atrapalhar todo o regime de chuvas da região, causando mais secas e tornando ainda piores os efeitos da mudança climática.

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