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O presidente do Timor Leste, Xanana Gusmão, disse nesta quinta-feira que vai renunciar se o primeiro-ministro do país, Mari Alkatiri, não assumir a responsabilidade pelas semanas de crise testemunhadas pelos timorenses e marcadas pela violência.

Gusmão deu essas declarações em um pronunciamento à nação, feito depois de o segundo dia de negociações tensas não ter conseguido convencer Alkatiri, acusado de ser o responsável pela violência que matou ao menos 20 pessoas, a renunciar. A crise também veio acompanhada de episódios de saques e incêndios.

- Considero Mari Alkatiri responsável pela grave crise que estamos enfrentando para preservar o governo e a democracia - afirmou o presidente.

Se o premier não assumir essa responsabilidade, prosseguiu Gusmão, "enviarei, amanhã (sexta-feira), uma carta para o Parlamento nacional informando-os de que vou renunciar ao cargo de presidente da República".

- Estou envergonhado diante dos males infligidos pelo governo ao povo - continuou o líder timorense.

Em entrevista concedida por telefone à agência portuguesa de notícias Lusa, Alkatiri disse que não vai renunciar.

Segundo o premier timorense, o órgão diretor do partido Fretilin (ao qual pertence) havia aceitado a proposta de que ele nomeie um ou dois vice-primeiros-ministros e de que abra mão de seu cargo de ministro da Energia.

Alkatiri afirmou que o Comitê Central da legenda debateria a proposta no sábado.

- A decisão adotada é de que qualquer solução para essa crise deve estar dentro dos limites constitucionais - disse o premiê à Lusa.

O embaixador de Timor Leste na Indonésia, Arlindo Marçal, afirmou à Reuters, em Jacarta:

- A renúncia está fora de questão. Segundo a Constituição, apenas o partido dele pode propor isso ao Parlamento. Trata-se de um processo difícil.

Pouco antes de Gusmão fazer seu pronunciamento, Manuel Fernandes, vice-secretário-geral do Fretilin, disse esperar que o presidente, o premier e o presidente do Parlamento reúnam-se na sexta-feira para conversar sobre a situação.

TRAIÇÃO

Alkatiri lidera o Fretilin, que por sua vez possui uma maioria folgada no Parlamento. Até agora, os parlamentares resistiram às pressões para que o premiê renuncie.

Gusmão havia dado outras declarações horas antes, à tarde. Dili, a capital desse jovem país, está tranqüila durante o dia -- os estudantes frequentam as aulas e as lojas ficam abertas. Mas vários moradores da cidade dizem que não se arriscam a sair às ruas durante a noite.

O Timor Leste mergulhou em uma onda de violência em maio, depois de Alkatiri ter dispensado 600 dos 1.400 integrantes do Exército sob a acusação de motim. Esses militares realizaram protestos denunciando supostos casos de discriminação contra soldados vindos do oeste do país.

Mas esse é apenas um dos muitos fatores que alimentam a crise e os conflitos armados esporádicos no país.

O programa "Four Corners", do canal de TV Australian Broadcasting Corp., afirmou na segunda-feira que Alkatiri tinha participado de uma reunião na qual Rogerio Lobato, então ministro do Interior do país, ordenou que um suposto esquadrão da morte ligado ao Fretilin assassinasse rivais do partido.

Lobato acabou renunciando ao cargo e encontra-se sob prisão domiciliar depois de ser acusado de tentar rearmar civis. Alkatiri contestou a reportagem sobre o esquadrão da morte.

O procurador-geral do país, Longuinhos Monteiro, afirmou a repórteres que Lobato era suspeito em um caso de traição.

- Vamos ver como transcorrerá o interrogatório de Rogerio para vermos se Alkatiri está ou não envolvido nesse caso - disse.

Timor Leste foi uma colônia portuguesa por centenas de anos antes de tornar-se independente por alguns dias, em 1975. Pouco depois, porém, o país foi invadido pela Indonésia, que o anexou no ano seguinte.

O governo indonésio recebeu críticas de grupos de defesa dos direitos humanos por patrocinar um regime brutal no país, responsável pela morte de entre cem mil e 200 mil pessoas, acusações que a Indonésia nega.

Depois de a independência de Timor Leste ter sido aprovada no plebiscito de 1999, em um processo marcado por episódios violentos alimentados principalmente por milícias pró-Indonésia, uma força de paz internacional chegou ao território, administrado durante um período de transição pela Organização das Nações Unidas (ONU). Timor Leste tornou-se totalmente autônomo em 2002.

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