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Secretário-geral da ONU preocupado com violência na Bolívia

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, manifestou preocupação nesta segunda-feira com os violentos protestos que fizeram no final de semana quatro mortos e uma centena de feridos na cidade boliviana de Sucre.

"Para reforçar a democracia e o respeito pelos direitos humanos na Bolívia, o secretário-geral pede calma a todos os atores políticos e sociais, abstendo-se de usar a violência e buscando consenso nos assuntos mais urgentes que afetam o povo boliviano", anunciou a assessoria de imprensa de Ban em comunicado.

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O presidente da Bolívia, Evo Morales, se uniu nesta segunda-feira (26) a uma marcha de camponeses que seguia para a cidade de La Paz em defesa da nova Constituição, cuja aprovação provocou distúrbios durante o fim de semana em Sucre que terminaram com quatro mortos e vários feridos.

No mesmo dia os governadores e setores civis de cinco dos nove departamentos bolivianos - convertidos no núcleo da oposição ao presidente Evo Morales - se reuniram em Santa Cruz para decidir que medidas tomar: organizar uma greve ou declarar de fato a autonomia regional.

Morales se uniu à caminhada dos cocaleiros, operários e camponeses ligados a seu governo - que percorreu durante sete dias quase 200 km - no povoado de Ventilla, a 20 km de La Paz. Outras manifestações de camponeses e trabalhadores também se dirigiam até La Paz a partir de diversos lugares, especialmente das regiões de Rio Abajo e os Yungas, vales agrícolas subtropicais onde se cultiva coca.

A marcha da qual o presidente boliviano participou começou há uma semana no povoado de Caracollo, a 193 km da sede do governo, e durante o percurso outros setores sociais foram se unindo. A multidão chegou a 4.000 pessoas.

Entre os principais objetivos da marcha está a defesa do pagamento da Dignidade, valor que consiste em um bônus de 200 bolivianos (25,8 dólares) mensais a pessoas maiores de 60 anos, e o apoio à nova Constituição aprovada em linhas gerais pela Assembléia Constituinte no fim de semana.

Oposição

Enquanto Morales marchava até La Paz, governadores (chamados de prefeitos, na Bolívia) e setores civis de cinco dos nove departamentos bolivianos - convertidos no núcleo da oposição ao presidente - se reuniram nesta segunda-feira em Santa Cruz para decidir quais medidas tomar: organizar uma greve ou declarar de fato a autonomia regional.

Já na semana passada os prefeitos de Santa Cruz, Tarija, Beni, Pando e Cochabamba haviam decidido fazer "desobediência civil" a uma medida incentivada pelo governo para cortar os recursos repassados aos departamentos.

A esses cinco departamentos - que se opuseram a Morales desde que assumiu a presidência em janeiro de 2006 - agora se somaram também organizações civis da cidade de Sucre, depois da violência do final de semana que deixou quatro mortos e uma centena de feridos.

Entenda a polêmica da nova Constituição boliviana

A aprovação unilateral da nova Carta Magna impulsionada pelo presidente socialista Evo Morales, que causou sérios distúrbios com quatro mortos na cidade de Sucre, aprofunda as divisões na Bolívia entre a direita e a esquerda, e entre o poder central e as regiões.

Os dirigentes cívicos de Sucre, que protestaram contra a violência pela aprovação de uma Constituição sem consenso e sem sequer ter sido estudada, anunciaram que também defenderão a autonomia departamental.

Morales acusa os líderes civis de Sucre de serem "pongos" (indígenas que trabalhavam como criados) das oligarquias e elites da rica região de Santa Cruz, a mais recalcitrante opositora do governo.

Segundo o vice-presidente Alvaro García Linera, a situação na Bolívia "foi-se decantando claramente. O que está em jogo é o bloco social emergente, popular, indígena, a classe média empresarial boliviana contra o bloco agro-exportador da burguesia" de Santa Cruz.

Já o ex-presidente de direita Jorge Quiroga (2001-2002), a que Morales derrubou na eleição de dezembro de 2005, considerou que a carta política aprovada pela maioria governista da Constituinte "não tem mais valor que um papel higiênico usado".

A Constituinte, que aprovou em primeira instância a nova Carta Magna, foi convocada em agosto de 2006 por um período de um ano, embora as divergências - que impediram que fosse aprobado sequer um artigo - obrigaram a adiar o prazo a 14 de dezembro próximo.

Em 15 de agosto a Constituinte se viu obrigada a suspender as sessões por divergências internas e por pressões de organizações civis de Sucre. Ante a impossibilidade de retomar as sessões em sua sede, a Assembléia se transferiu sexta-feira para um quartel militar.

Tensão em Sucre

A tensão continuou nesta segunda-feira na cidade boliviana de Sucre, sem governo e sem polícia depois do caos produzido por dois dias de violentos protestos, que deixaram quatro mortos.

A cidade de 300.000 habitantes no sul da Bolívia tentava voltar à normalidade depois os episódios de fúria pública dos últimos dois dias, quando incêndios, ataques com bananas de dinamite e barricadas tomaram conta das ruas. Os choques com a polícia provocaram a morte de um oficial e de três manifestantes.

O enterro dos três manifestantes mortos foi realizado nesta segunda-feira em meio à comoção popular - uma situação que provavelmente agravará ainda mais a tensão que paira sobre Sucre, e há temores de que os funerais sirvam de estopim para mais atos de revolta.

A situação fica ainda mais complicada devido à falta de policiamento. No domingo, após comunicar a morte de um oficial durante os confrontos, o comandante da polícia boliviana, William Vásquez, anunciou que o órgão de segurança iria se retirar da cidade, como o fez - e até esta segunda-feira não havia retornado.

A isto se soma o caos político, devido a confusas informações de que David Sánchez, governador de Chuquisaca (estado do qual Sucre é capital) abandonou suas funções desde a última sexta-feira, assumidas por organizações cívicas da cidade, que são contra o presidente Evo Morales.

Por causa deste vazio no poder, os estragos provocados pelos incêndios e saques eram visíveis por toda a cidade, enquanto barricadas erguidas nas principais ruas começavam a ser desmontadas.

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