O ativista e blogueiro Alexei Navalny, o mais conhecido opositor do governo do presidente russo Valdimir Putin, foi solto nesta quinta-feira (14). Ele fez uma revelação inusitada em sua conta no Instagram: as cadeias de Moscou ganharam o "padrão Fifa" para receber estrangeiros que eventualmente sejam presos.
Sem usar o jargão, que ganhou fama na Copa de 2014 no Brasil, ele afirmou que as celas da prisão em que ficou na capital foram reformadas com materiais de boa qualidade, o chamado "euroremont" renovação com qualidade europeia, como os russos chamam qualquer coisa que não lembre o antigo padrão soviético de construção e acabamento. As prisões do país têm fama de serem lugares opressivos, para usar o eufemismo.
Protesto durante a Copa?
Navalny ganhou atenção mundial ao convocar megaprotestos contra a corrupção estatal russa no ano passado, sempre de forma descentralizada, pela internet. Em dois atos, dezenas de milhares foram às ruas, a maioria jovens, em cerca de 200 cidades da Rússia.
Ele buscou concorrer à Presidência em março, mas foi barrado por ter uma condenação criminal que alega ser fruto de uma armação judicial. De todo modo, as pesquisas disponíveis nunca deram mais de 1% de intenções de voto para o ativista, cuja atração a jovens é criticada como manipulação pela oposição estabelecida no país. Putin acabou sendo reeleito com 77% dos votos.
Na véspera da posse do presidente, em 5 de maio, Navalny novamente foi ao enfrentamento e se recusou a fazer um protesto contra Putin na área permitida pela prefeitura de Moscou. O mesmo ocorreu em várias cidades, e mais de mil ativistas acabaram detidos. No julgamento relâmpago que se seguiu, o blogueiro recebeu a pena máxima cabível, de 30 dias.
A sua libertação no dia em que a Copa começa na Rússia está deixando seus apoiadores curiosos: Navalny vai tentar fazer protestos novamente? Segundo um porta-voz do Fundo Anticorrupção, sua ONG, não há previsão de atividades para os próximos dias, mas na verdade essas coisas não são divulgadas de forma muito adiantada.
Em tese, o ambiente é perfeito para protestos. Cerca de 5.000 jornalistas estrangeiros estão na Rússia, os proverbiais olhos do mundo estão direcionados para a nação de Putin. O próprio presidente se mostra ciente publicamente disso, tanto que instou os visitantes a conhecer uma Rússia "amigável e legal" em discurso na quarta-feira (13). O forte policiamento em todas as cidades-sede, contudo, pode ser um fator de dissuasão para os ativistas.