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Justiça

Preso ex-general acusado de genocídio na Bósnia

Ratko Mladic, que responde por 15 acusações no Tribunal Penal Internacional, ficou 16 anos foragido

O ex-general Ratko Mladic (centro) desembarca em Saravejo, em agosto de 1993: massacre de milhares de civis, deportações e sequestros | Gabriel Bouys/AFP
O ex-general Ratko Mladic (centro) desembarca em Saravejo, em agosto de 1993: massacre de milhares de civis, deportações e sequestros (Foto: Gabriel Bouys/AFP)

O presidente sérvio, Boris Tadic, anunciou ontem que o homem mais procurado por crimes de guerra na Europa, o general Ratko Mladic, foi preso. Mladic é acusado de ser um dos executores do pior massacre que ocorreu na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial (1945). Ele co­­mandou as forças sérvias durante a Guerra da Bósnia (1992-1995).

Mladic estava fugindo desde 1995, quando foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) para a ex-Iugoslávia, sediado em Haia, na Holanda. Ele é acusado por genocídio, no episódio da morte de 8 mil muçulmanos bósnios em Srebrenica e também por outros crimes de guerra cometidos durante a Guerra da Bósnia.

O ex-general foi apresentado ontem à noite em um tribunal em Belgrado. Mladic vestia um boné de um time de beisebol na cabeça e parecia andar com dificuldades. A rádio B-92 de Belgrado disse que ele está com um braço paralisado, provavelmente efeito de um derrame.

Mladic foi capturado no vilarejo de Lazarevo, um local com 2 mil habitantes e 100 quilômetros ao noroeste de Belgrado.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) comemorou o anúncio, dizendo que Mla­­dic estava implicado em alguns dos piores massacres da história moderna da Europa. "Após quase 16 anos de seu indiciamento por genocídio e outros crimes de guerra, sua prisão finalmente oferece uma chance de a justiça ser feita", afirmou o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Ras­­mussen.

Cerca de 100 mil pessoas morreram na Guerra da Bósnia, de três comunidades étnicas: sérvios, bósniacos (muçulmanos es­­lavos) e croatas.

Extradição

A Sérvia começou ontem mesmo o processo para extraditar o ex-general para o TPI, em Haia, na Holanda, onde Mladic será julgado por 15 acusações, incluindo genocídio, extermínio, perseguição e deportação de civis.

Especialistas em direito internacional disseram que a prisão de Mladic enviará uma mensagem a figuras como o governante da Lí­­bia, Muamar Kadafi, de que ne­­nhum líder político acusado de crimes de guerra pode esperar escapar da Justiça.

"A impunidade realmente foi retirada para os criminosos de guerra", disse Richard Goldstone, promotor que indiciou Mladic junto com o ex-líder dos sérvios bósnios, Radovan Karadzic, em 1995 "Hoje o mundo está diferente e as perspectivas desses criminosos de guerra serem julgados aumentou bastante."

O juiz do TPI Fuad Riad disse, durante o indiciamento de Mla­­dic em 1995, que o tribunal tinha evidências de "uma selvageria inimaginável: milhares de ho­­mens executados e sepultados em valas coletivas, centenas de homens sepultados vivos, ho­­mens e mulheres mutilados e degolados, crianças mortas na frente das mães, um avô que foi forçado a comer o fígado do próprio neto".

Apoio

Mesmo com a captura de Slobo­­dan Milosevic e de Radovan Ka­­radzic, Mladic conseguiu continuar foragido, em parte por causa do apoio dos ultranacionalistas sérvios, que o consideravam um herói. Muitos sérvios co­­muns ajudaram Mladic a se esconder e acredita-se que ele tenha assistido, incógnito, até a partidas de futebol em Belgrado. Existia uma recompensa de € 10 milhões (US$ 14 milhões) pela cabeça de Mladic, oferecida pelo governo sérvio, e outra de € 5 milhões oferecida pelo Depar­­tamento de Estado do governo americano. Ele foi capturado na casa de um primo por parte materna, disse Radmilo Stanisic, prefeito de Lazarevo. Muitos moradores de Lazarevo só perceberam que ele havia sido capturado mais tarde pela televisão.

"Estou furioso. Eles prenderam nosso herói", disse um morador que apenas se identificou como Zoran. Dezenas de moradores de Lazarevo bloquearam o acesso à casa onde Mladic foi preso, em um sinal de apoio ao criminoso de guerra. Ele evitaram que fotógrafos entrassem na casa para fotografar o local. A polícia sérvia assistiu a tudo impassível.

Funcionários da Justiça em Haia acreditam que a extradição levará pelo menos uma semana.

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