• Carregando...
O ex-general Ratko Mladic (centro) desembarca em Saravejo, em agosto de 1993: massacre de milhares de civis, deportações e sequestros | Gabriel Bouys/AFP
O ex-general Ratko Mladic (centro) desembarca em Saravejo, em agosto de 1993: massacre de milhares de civis, deportações e sequestros| Foto: Gabriel Bouys/AFP

EUA

Obama elogia presidente sérvio por detenção

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, aplaudiu ontem a "determinação" do presidente sérvio, Boris Tadic, para prender o ex-comandante sérvio bósnio Ratko Mladic, condenado pela Justiça internacional por crimes de guerra na antiga Iugoslávia.

"Há 15 anos, Ratko Mladic ordenou a execução sistemática de cerca de 8.000 homens e crianças desarmadas em Srebrenica. Hoje, está atrás das grades", disse Obama em uma declaração escrita divulgada na cúpula do G8 na localidade francesa de Deauville (noroeste). "Cumprimento o presidente Tadic e o governo da Sérvia por sua determinação em garantir que Mladic fosse encontrado e enfrentasse a Justiça. Esperamos sua transferência expeditiva para Haia", completou.

Obama disse que a prisão de Mladic representava "um dia importante para as famílias das diversas vítimas de Mladic, para a Sérvia, a Bósnia, para os Estados Unidos e para a Justiça internacional". "Apesar de não podermos trazer de volta aqueles que foram assassinados, Mladic deverá responder agora a suas vítimas a ao mundo em uma corte legal", acrescentou Obama.

O Departamento de Estado norte-americano havia divulgado um cartaz de "procura-se" com a foto de Mladic.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, saudou a detenção do ex-chefe dos sérvios da Bósnia, e pediu que ele seja levado imediatamente ao TPI. Ashton "espera que Ratko Mladic seja transferido imediatamente para o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia", declarou seu porta-voz, Michael Mann, em seu perfil no Twitter. (AFP)

O presidente sérvio, Boris Tadic, anunciou ontem que o homem mais procurado por crimes de guerra na Europa, o general Ratko Mladic, foi preso. Mladic é acusado de ser um dos executores do pior massacre que ocorreu na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial (1945). Ele co­­mandou as forças sérvias durante a Guerra da Bósnia (1992-1995).

Mladic estava fugindo desde 1995, quando foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) para a ex-Iugoslávia, sediado em Haia, na Holanda. Ele é acusado por genocídio, no episódio da morte de 8 mil muçulmanos bósnios em Srebrenica e também por outros crimes de guerra cometidos durante a Guerra da Bósnia.

O ex-general foi apresentado ontem à noite em um tribunal em Belgrado. Mladic vestia um boné de um time de beisebol na cabeça e parecia andar com dificuldades. A rádio B-92 de Belgrado disse que ele está com um braço paralisado, provavelmente efeito de um derrame.

Mladic foi capturado no vilarejo de Lazarevo, um local com 2 mil habitantes e 100 quilômetros ao noroeste de Belgrado.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) comemorou o anúncio, dizendo que Mla­­dic estava implicado em alguns dos piores massacres da história moderna da Europa. "Após quase 16 anos de seu indiciamento por genocídio e outros crimes de guerra, sua prisão finalmente oferece uma chance de a justiça ser feita", afirmou o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Ras­­mussen.

Cerca de 100 mil pessoas morreram na Guerra da Bósnia, de três comunidades étnicas: sérvios, bósniacos (muçulmanos es­­lavos) e croatas.

Extradição

A Sérvia começou ontem mesmo o processo para extraditar o ex-general para o TPI, em Haia, na Holanda, onde Mladic será julgado por 15 acusações, incluindo genocídio, extermínio, perseguição e deportação de civis.

Especialistas em direito internacional disseram que a prisão de Mladic enviará uma mensagem a figuras como o governante da Lí­­bia, Muamar Kadafi, de que ne­­nhum líder político acusado de crimes de guerra pode esperar escapar da Justiça.

"A impunidade realmente foi retirada para os criminosos de guerra", disse Richard Goldstone, promotor que indiciou Mladic junto com o ex-líder dos sérvios bósnios, Radovan Karadzic, em 1995 "Hoje o mundo está diferente e as perspectivas desses criminosos de guerra serem julgados aumentou bastante."

O juiz do TPI Fuad Riad disse, durante o indiciamento de Mla­­dic em 1995, que o tribunal tinha evidências de "uma selvageria inimaginável: milhares de ho­­mens executados e sepultados em valas coletivas, centenas de homens sepultados vivos, ho­­mens e mulheres mutilados e degolados, crianças mortas na frente das mães, um avô que foi forçado a comer o fígado do próprio neto".

Apoio

Mesmo com a captura de Slobo­­dan Milosevic e de Radovan Ka­­radzic, Mladic conseguiu continuar foragido, em parte por causa do apoio dos ultranacionalistas sérvios, que o consideravam um herói. Muitos sérvios co­­muns ajudaram Mladic a se esconder e acredita-se que ele tenha assistido, incógnito, até a partidas de futebol em Belgrado. Existia uma recompensa de € 10 milhões (US$ 14 milhões) pela cabeça de Mladic, oferecida pelo governo sérvio, e outra de € 5 milhões oferecida pelo Depar­­tamento de Estado do governo americano. Ele foi capturado na casa de um primo por parte materna, disse Radmilo Stanisic, prefeito de Lazarevo. Muitos moradores de Lazarevo só perceberam que ele havia sido capturado mais tarde pela televisão.

"Estou furioso. Eles prenderam nosso herói", disse um morador que apenas se identificou como Zoran. Dezenas de moradores de Lazarevo bloquearam o acesso à casa onde Mladic foi preso, em um sinal de apoio ao criminoso de guerra. Ele evitaram que fotógrafos entrassem na casa para fotografar o local. A polícia sérvia assistiu a tudo impassível.

Funcionários da Justiça em Haia acreditam que a extradição levará pelo menos uma semana.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]