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O Estado Islâmico tem sido associado ao Hamas na guerra que ocorre no Oriente Médio
O Estado Islâmico tem sido associado ao Hamas na guerra que ocorre no Oriente Médio| Foto: EFE/EPA/SALVATORE DI NOLFI

Em menos de um mês, o Brasil foi associado a dois casos de terrorismo envolvendo milícias islâmicas, o que mostra uma aproximação cada vez maior da influência desses grupos que pregam e praticam o terror, principalmente a partir do Oriente Médio, no país.

O primeiro caso ocorreu no dia 8 de novembro, quando a Polícia Federal prendeu dois suspeitos de ligação com o grupo terrorista libanês Hezbollah, que planejavam praticar atos contra judeus dentro do país, incluindo ataques a edifícios da comunidade judaica, como sinagogas.

Investigações policiais e documentos divulgados apontam que a milícia adentrou no território brasileiro com o auxílio do Comando Vermelho (CV), grupo criminoso que atua principalmente na fronteira do Brasil e no estado do Rio de Janeiro e que facilitou as atividades dos extremistas libaneses no país.

Um segundo caso aconteceu na Espanha, onde dois brasileiros foram presos acusados de propagar o terrorismo e manter vínculos com o Estado Islâmico.

Segundo as investigações das autoridades europeias, com cooperação da polícia brasileira, a dupla fazia propaganda para os jihadistas na internet e divulgava manuais sobre assassinatos em massa, materiais para confecção de explosivos e envenenamento, histórico de atividades terroristas já realizadas e documentos que, para eles, justificavam a prática de ações suicidas.

Além das já conhecidas conexões do Hezbollah com o CV e o Primeiro Comando da Capital (PCC), esses acontecimentos recentes, com menos de 30 dias de diferença, expõem a abrangência da presença de grupos extremistas, principalmente num período em que diversas guerras ocorrem ao redor do mundo, como no Oriente Médio e no leste europeu, e evidenciam que o Brasil está mais vulnerável aos recrutamentos de organizações criminosas, sendo as duas últimas de milícias islâmicas.

De acordo com a gestora de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP) e analista de inteligência antiterrorista Barbara Krysttal, alguns fatores explicam essa maior abertura do Brasil à influência terrorista.

"Uma das questões que facilitam o recrutamento de brasileiros por esses grupos é que eles se parecem com qualquer pessoa do mundo. No país, temos os mais diferentes povos, então essa miscigenação é um dos fatores que interessam às organizações criminosas, é algo positivo para eles que o recrutado se pareça com qualquer pessoa do mundo na hora de realizar um ataque", afirmou Krysttal.

Segundo a especialista, outro ponto de destaque que torna o Brasil um atrativo para prospectar esses voluntários é a baixa renda per capita da maioria dos cooptados.

"Não existe terrorismo e crime organizado sem financiamento, portanto, esses grupos possuem várias agências e pessoas que fazem doações para articular as atividades e buscam pessoas com uma renda mais baixa. Geralmente, são pessoas que têm muito tempo ocioso ou que buscam alguma ideologia, elas veem uma possibilidade de atuação dentro de uma área que não conhecem", destacou.

Para Krysttal, um dos principais motivos que levam brasileiros, a maioria formada por jovens, a se unirem a grupos terroristas como o Hezbollah ou o Estado Islâmico é a busca por poder e reconhecimento.

"Em geral, esses grupos terroristas, especialmente os islâmicos, têm a demonstração de terror como principal marca, eles querem transmitir medo, mostrar que não seguem legislações ou a ética, esse poder aumenta muito o risco reputacional deles. Quando alguém busca por esse tipo de vínculo com essas organizações, é justamente para encontrar um espaço de poder, eles viram fãs", disse a especialista.

A internet se tornou o espaço mais importante para a propagação do terrorismo. Um dos meios mais eficazes de recrutamento são os grupos criados em redes sociais ou na Deep Web, um espaço oculto da internet muito usado para a prática de crimes, visto que não é facilmente monitorado.

Segundo a especialista, na última década, esses ambientes virtuais têm facilitado a cooptação de pessoas para esses grupos. "Nos últimos cinco a dez anos, isso tem sido mais recorrente. A internet trouxe mais agilidade nesse contato", destacou.

Para Krysttal, um ponto fundamental para o Brasil evitar a expansão dessas atividades extremistas a nível nacional é a criação de um programa específico voltado para o combate ao terrorismo, que abranja um melhor monitoramento e responsabilização nas redes sociais e investimentos na área de segurança pública, com tecnologia de países exemplos em questões da área.

"A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e a Defesa Nacional devem ter maior amplitude de transferência de conhecimento e técnicas de diferentes áreas da segurança, precisamos trazer tecnologia e conhecimento desse meio para a inteligência nacional. Isso precisa estar no planejamento estratégico do Plano Plurianual (PPA) do próximo ano", apontou.

De acordo com ela, um dos grandes desafios enfrentados hoje no país é a falta de transparência sobre os dados relacionados ao terrorismo: "O Brasil não traz esses dados com facilidade, por exemplo, o número de pessoas presas no país por ações terroristas. É importante para que a própria população denuncie, pode ser um vizinho".

"Recentemente, tivemos uma atualização de legislação, mas ela já precisava ser revista, porque não esperávamos tamanha incidência. Quanto mais aumenta o número de países em guerra, mais frágil o Brasil fica", acrescentou a especialista em segurança pública.

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