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Iguana próxima a um navio tentando conter vazamento de petróleo: governo expulsa migrantes para tentar preservar hábitat | Santiago Armas/Reuters
Iguana próxima a um navio tentando conter vazamento de petróleo: governo expulsa migrantes para tentar preservar hábitat| Foto: Santiago Armas/Reuters
  • Veja a localização da ilha Galápagos

Os montes de lixo malcheirosos na fronteira desse frágil arquipélago, a 965 km da costa pacífica do Equador, cuja vida selvagem única inspirou a teoria da evolução de Darwin, são uma prova vi­­va de que uma espécie está prosperando: o homem.Pequenos pintassilgos cinza, descendentes dos pássaros que foram cruciais para a sua teoria, sobrevoam o aterro, que serve a uma cidade em desenvolvimento de equatorianos que se mudaram para a ilha para trabalhar na indústria do turismo local, cada vez maior.

O crescimento da população nas Galápagos, que duplicou para cerca de 30 mil na última década, tem deixado os ambientalistas horrorizados. Eles apontam evidências de que o desenvolvimento já está prejudicando o ecossistema, que fez com que os habitantes mais famosos da ilha – entre eles tartarugas gigantes e atobás de pés coloridos – evoluíssem em isolamento, antes da colonização das ilhas, há mais de um século.

O crescimento já está ameaçando tanto o meio ambiente que até mesmo o governo, que ainda estimula o crescimento do turismo, começou a tomar decisões políticas não populares, co­­mo expulsar centenas de equatorianos pobres da província, da qual eles se consideram legalmente proprietários.

Restringindo a população, os oficiais esperam preservar as maravilhas naturais que sustentam um dos setores mais lucrativos do Equador: o turismo. Po­­rém as novas medidas também estão gerando um protesto por parte dos migrantes, que afirmam sentirem-se castigados, en­­quanto o país continua a desfrutar de dezenas de milhões de dó­­lares trazidos pelos turistas ao Equador, uma das nações mais pobres da América do Sul.

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"Estão dizendo que uma tartaruga para um estrangeiro rico fotografar vale mais do que um cidadão equatoriano", disse Maria Mariana de Reina Bustos, 54 anos, que veio de Ambato no Vale An­­dino central do Equador. Sua fi­­lha, Olga, de 22 anos, foi recentemente detida pela polícia perto da favela de La Cascada, e deportada para o continente.

Os primeiros colonos vieram para as ilhas para viver da terra, como pescadores, criadores de gado e fazendeiros. Agora, a maioria das pessoas, que fazem um voo breve de Quito, a capital do Equador, ou que chegam sorrateiramente à ilha de barco, é atraída por diferentes tipos de riqueza: um salário relativamente alto que podem ganhar como motoristas de taxi, empregadas domésticas ou trabalhadores da burocracia crescente do local.

Durante décadas, os líderes do país fizeram muito pouco para prevenir que as pessoas viessem para cá, de certa forma para construir a indústria de turismo e, em seguida, para garantir que o go­­verno tivesse uma presença entre os pioneiros. Parecia haver al­­gum limite natural em andamento: o país reservou 97% do arquipélago como área natural. Contudo, como o turismo e a mi­­gração cresceram na última década, a pressão começou a aumentar dentro da comunidade am­­biental e científica e no exterior para o Equador restringir a população da ilha.

Em 2007, a ONU incluiu Galá­­pagos em sua lista de patrimônio natural ameaçado. Os cientistas alegam que as pessoas já causaram danos significativos e apontam derramamento de combustível, caça de tartarugas gigantes e tubarões.

Até mesmo atividades humanas aparentemente inofensivas – como possuir um animal de estimação – podem trazer grandes consequências. "Com as pessoas vêm os gatos, e os gatos ameaçam certos animais que não existem em nenhum outro lugar do mundo", disse Fernando Ortiz, coordenador do Programa de Galá­­pagos para a Conservação Inter­­nacional.

O conflito é proveniente das próprias regras que fizeram com que Galápagos fosse colonizada, apesar da falta de água doce no arquipélago. Tecnicamente, a moradia é concedida para um número limitado de habitantes, incluindo os nativos e seus cônjuges, pessoas que chegaram antes de 1998, e aquelas com visto de trabalho temporário.Há poucos dias, Manuel Lo­­pez, um imigrante fazendeiro de 36 anos que cuida do rebanho no nevoeiro do vulcão, saiu do interior da floresta repleta de goiabeiras, parou debaixo do sol equa­­torial, encolheu seus olhos e disse: "Se for o desejo de Deus, eu permanecerei nesta ilha. Esta­­mos em Galápagos por um motivo". E continuou, questionando um visitante: "É ou não é?"

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