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Morte de Nisman gerou protestos em Buenos Aires, especialmente por parte da comunidade judaica | Martin Di Maggio Dadone/Efe
Morte de Nisman gerou protestos em Buenos Aires, especialmente por parte da comunidade judaica| Foto: Martin Di Maggio Dadone/Efe

Cronologia do caso

Entenda a investigação do promotor:

• 18 de julho de 1994 - Uma van com explosivos é detonada diante do prédio da Amia, em Buenos Aires, matando 85 pessoas e ferindo mais de 300.

• Julho de 1997 - Alberto Nisman se soma à investigação como promotor assistente.

• 21 de agosto de 2003 - Hade Soleimanpour, ex-embaixador iraniano na Argentina, é detido no Reino Unido por seu suposto vínculo com o atentado, mas o pedido de extradição da Argentina é negado por falta de provas.

• Setembro de 2004 - Justiça anula o processo e são absolvidos todos os acusados. O governo Néstor Kirchner cria uma promotoria especial para o caso, a cargo de Nisman.

• Outubro de 2006 - Nisman acusa formalmente o Irã de ser autor intelectual do atentado e ao Hezbollah de executá-lo.

• Novembro de 2007 - Interpol expede ordem de captura internacional contra cinco ex-funcionários do governo do Irã.

• Maio de 2009 - Corte Suprema ordena reabertura da ação sobre a "conexão local" do ataque. Em setembro, Cristina Kirchner exige, na ONU, que Irã extradite os supostos envolvidos no caso.

• Março de 2012 - Justiça decide julgar Menem sob a acusação de ter obstruído as investigações do caso Amia.

• Janeiro de 2013 - Argentina e Irã anunciam acordo para esclarecer responsabilidades pelo atentado; comunidade judaica da Argentina critica.

• 15 de janeiro de 2015 - Nisman apresenta denúncia contra Cristina Kirchner e outros membros do governo por encobrir autores do atentado em troca de acordo comercial com o Irã.

• 19 de janeiro de 2015 - Nisman é encontrado morto no banheiro de seu apartamento.

  • Promotor havia sido ameaçado e era protegido por dez policiais

O promotor argentino Alberto Nisman, que denunciou a presidente Cristina Kirchner por suposto encobrimento do Irã em um atentado contra um centro de convivência de judeus, foi encontrado morto no domingo em sua casa em Buenos Aires.

Nisman, promotor da ação pelo atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), foi achado morto no banheiro seu apartamento do bairro portenho de Puerto Madero, com um tiro na cabeça.

O corpo de Nisman foi descoberto apenas algumas horas antes de seu comparecimento previsto para ontem ao Congresso para detalhar a denúncia que atinge Cristina e vários de seus colaboradores por um aparente encobrimento aos supostos autores do atentado contra a Amia que causou 85 mortos e mais de 300 feridos em 1994.

A deputada opositora Patricia Bullrich, uma das primeiras que chegaram à casa de Nisman após saber de sua morte, explicou para a imprensa que o promotor lhe tinha revelado que tinha sido ameaçado e que inclusive tinha transmitido sua preocupação à Procuradoria Geral para que reforçassem sua segurança.

"Um promotor morto antes de fazer um relatório ao Congresso em uma causa onde há terrorismo internacional me parece de uma enorme gravidade", acrescentou Bullrich.

A principal hipótese da Justiça argentina é de suicídio. Segundo a promotora que investiga o caso, Viviana Fein, o laudo da autopsia revelou que "não houve intervenção de terceiras pessoas", embora não descarte outras hipóteses sobre a morte. A colega de Nisman disse ainda estar à espera de um exame de pólvora feito no corpo e que o promotor não deixou carta de despedida.

Alberto Nisman tinha se tornado o centro das atenções políticas nos últimos dias após denunciar, a partir de escutas telefônicas, a presidente e vários de seus colaboradores, entre eles o chanceler, Héctor Timerman, pelos delitos de "encobrimento agravado, descumprimento de dever de funcionário público e estorvo do ato funcional".

Nisman contava com gravações de conversas telefônicas entre as autoridades iranianas e agentes de inteligência e mediadores argentinos que, segundo ele, demonstrariam que a Argentina assinou um acordo com o Irã que implicaria no encobrimento dos suspeitos do atentado contra a Amia em troca do impulsionamento do comércio bilateral entre os países–notadamente a troca de petróleo por grãos –, num contexto de crise energética no país sul-americano.

A oposição esperava conhecer ontem novos detalhes durante o pronunciamento de Nisman no Congresso, enquanto o governo apressou-se a fechar fileiras em defesa de Cristina Kirchner, e acusou o promotor de mentir e de se deixar arrastar por conflitos internos na Secretaria de Inteligência.

Líderes da oposição na Argentina reivindicaram ontem um pronunciamento da presidente sobre a morte de Nisman, e a revogação do acordo de entendimento com o Irã. Cristina, por sua vez, apenas autorizou a quebra do sigilo do material de inteligência utilizado pelo promotor.

Circunstâncias

O Ministério da Segurança da Argentina divulgou ontem um comunicado informando que Nisman tinha dez agentes de polícia como seguranças particulares e foram eles que, à tarde, alertaram sua secretária de que o promotor não atendia suas chamadas telefônicas.

Constatando-se que ele tampouco respondia à campainha e que o jornal de domingo ainda se encontrava à sua porta, decidiram então notificar seus familiares.

A mãe de Nisman foi levada até o local e constatou que a porta estava trancada por dentro. Com a ajuda de um chaveiro, conseguiram entrar no apartamento e a mãe, acompanhada de um dos guarda-costas, encontrou o corpo do filho no banheiro. Foi encontrada uma arma calibre 22 e uma cápsula.

O corpo foi retirado durante a madrugada, mas ontem o prédio continuava isolado pela polícia.

"Posso sair morto disso", disse Nisman ao jornal Clarín

Numa entrevista ao jornal argentino Clarín no dia 15, data das denúncias, Nisman havia afirmado que "poderia sair morto disso [do caso]".

Além disso, sabia que as especulações sobre ele seriam pesadas. "Desde hoje [dia da denúncia] minha vida mudou. É minha função como promotor e tive de dizer à minha filha que ela iria escutar coisas terríveis sobre a minha pessoa", disse em outra entrevista, à rede TN.

A deputada kirchnerista Diana Conri ironizou a declaração à época. "Dizemos à filha de Nisman que fique tranquila. Não vamos agredir seu pai", afirmou.

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