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O ditador Nicolás Maduro disse que o motim do Wagner foi uma “traição”, mas o grupo mercenário russo tem um grande histórico de atuação livre dentro da Venezuela
O ditador Nicolás Maduro disse que o motim do Wagner foi uma “traição”, mas o grupo mercenário russo tem um grande histórico de atuação livre dentro da Venezuela| Foto: EFE/Rayner Peña

Após o acordo que pôs fim ao motim do grupo mercenário Wagner na Rússia no último fim de semana, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, elogiou o aliado Vladimir Putin, que, segundo ele, “encarou uma tentativa de guerra civil e um grave episódio de traição”, mas “saiu vitorioso e trouxe paz à Rússia”.

A declaração do ditador chama a atenção porque a Venezuela tem um histórico de presença do Grupo Wagner (que opera também na Ucrânia, Síria, Líbia, Mali, República Centro-Africana e outros países), atendendo a interesses de Maduro.

No início de 2019, fontes da agência Reuters informaram que empresas militares privadas ligadas ao grupo mercenário enviaram combatentes para cuidar da “segurança” do ditador venezuelano, que enfrentava à época protestos por democracia.

Uma dessas fontes informou que cerca de 400 homens, que haviam chegado com escala em Cuba, outra aliada da Rússia, estavam na Venezuela naquele momento. “Nosso pessoal está lá diretamente para sua proteção [de Maduro]”, disse.

Parte desse contingente teria chegado em 2018, quando Maduro conquistou a reeleição presidencial num pleito marcado por denúncias de fraudes.

Outra ajuda que o Grupo Wagner prestou ao ditador foi o treinamento de unidades de combate de elite venezuelanas.

Além disso, no início de 2022, um relatório da empresa privada de inteligência militar Grey Dynamics destacou a participação do Wagner no treinamento de milícias venezuelanas pró-Maduro no estado de Táchira, processo no qual também estiveram envolvidos as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), duas guerrilhas colombianas.

Outro relatório da Grey Dynamics, de 2021, apontou que o Wagner também atuava na Venezuela junto a outros “especialistas” russos para “proteger refinarias de petróleo e oferecer segurança pessoal e para entidades comerciais” da Rússia no país sul-americano. Entre elas, estariam unidades locais da Rosneft, a gigante estatal de petróleo russa.

“É provável que o papel desempenhado pelos especialistas da Rússia, sejam eles do Wagner ou não, tenha sido fundamental para fornecer segurança e diminuir o risco de falência de entidades privadas e estatais russas”, descreveu a Grey Dynamics.

A mineração é outro foco de atenção do grupo mercenário na Venezuela. Ainda de acordo com a Grey Dynamics, a presença de tório no Arco Mineiro do Orinoco atraiu o interesse russo, e o parlamentar venezuelano Americo de Grazia afirmou em janeiro de 2020 que “o governo de Maduro deu ao Irã e à Rússia acesso às minas de tório na Venezuela”.

A Grey Dynamics sugeriu que o Grupo Wagner pode estar fazendo a proteção dos pontos onde a Rússia realiza a extração do metal na Venezuela, mas a milícia tem um histórico de atuar diretamente na extração de riquezas em outros países, como a exploração de ouro no Sudão.

O governo do Reino Unido reforçou posteriormente essa hipótese de envolvimento mais direto.

Em abril do ano passado, Zac Goldsmith, então ministro do Departamento de Meio Ambiente, Alimentos e Assuntos Rurais, reiterou, em resposta a um questionamento no parlamento britânico, a informação de que “mercenários que fazem parte ou são afiliados ao Grupo Wagner realizaram atividades de apoio ao regime de Maduro” na Venezuela, mas não teriam ficado restritos a esse papel.

“A mineração ilegal de ouro na Venezuela envolve graves abusos dos direitos humanos em grande escala e está causando danos ambientais e sociais significativos, especialmente na região do Arco Mineiro [do Orinoco]. As empresas militares privadas russas são apontadas como ativas nesta área”, destacou Goldsmith.

“Traidores” ou não, os mercenários do Wagner parecem muito à vontade como convidados da ditadura venezuelana.

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