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Manifestantes fizeram barricadas com pedras e pneus em chamas numa importante via de Standerton nesta quinta-feira e entraram em confronto com a polícia, que respondeu com balas de borracha. Jovens reagiram com estilingues e atiraram pedras.

O protesto lembrou imagens de décadas atrás, quando os moradores dos distritos tomavam as ruas para lutar contra o apartheid. Agora, o problema é o fracasso do governo em melhorar a vida dos pobres da África do Sul desde que a democracia substituiu o regime de segregação racial.

Mais de 150 pessoas foram detidas nesta semana em manifestações que se espalharam de Standerton, cerca de 150 quilômetros a sudeste de Johanesburgo, para pelos menos outras quatro cidades no leste da África do Sul.

Nesta quinta-feira, um veículo policial foi incendiado por manifestantes perto de um estádio que será usado na próxima Copa do Mundo de futebol em Nelspruit, capital da província de Mpumalanga, informou a porta-voz da polícia Sibongile Nkosi.

Em Diepsloot, um assentamento pobre ao norte de Johanesburgo, 19 pessoas ficaram feridas quando a polícia disparou balas de borracha contra os manifestantes.

Algumas pessoas acreditam que manifestações violentas não deveriam fazer parte de uma democracia em desenvolvimento. Uma delas é Ellen Mgaga, uma estudante de 18 anos que deveria estar se preparando para as provas que começam na semana que vem. A escola está fechada por causa dos protestos em sua cidade.

"É ruim o que eles estão fazendo. Como eu posso terminar os estudos?", perguntou ela em frente dos destroços da biblioteca do distrito de Sakhile.

Os protestos deixaram os moradores muito assustados para deixar suas casas e irem para o trabalho. Clínicas do governo estão fechadas por temores que seus funcionários sejam alvo dos atos violentos, o que obriga mães com crianças doentes ou idosos com problemas de saúde a andar quilômetros.

Os moradores de Sakhile acusam a prefeita e o conselho municipal de corrupção e exigem que deixem os cargos. A maioria dos moradores tem água encanada e eletricidade, mas citam o campo de futebol mal cuidado, as ruas sujas e favelas como sinal de como o desenvolvimento tem sido precário no local.

Lebogang Ganye, de 23 anos, um dos muitos jovens desempregados que estiveram envolvidos nos confrontos com a polícia em Sakhile, disse ter votado no Congresso Nacional Africano (ANC) em abril, mantendo a lealdade ao partido que pôs fim ao apartheid. "Eles nos prometeram empregos, oportunidades, uma vida melhor. Mas para nós isso é uma vida pior", disse ele. "Temos de destruir as coisas para fazê-los agir".

Uma década e meia depois do fim do apartheid, muitos sul-africanos sentem que não foram beneficiados pelo crescimento econômico que deixou ricos muitos funcionários do governo e do ANC.

Jacob Zuma, uma figura popular entre os pobres e que venceu as eleições presidenciais de abril, prometeu aumentar a velocidade da entrega de casas, clínicas médicas, escolas, água encanada e eletricidade, além de criar empregos. Mas ele reconheceu as dificuldades da primeira recessão enfrentada pela África do Sul em quase duas décadas.

"Sem sombra de dúvida os protestos pioraram desde as eleições", disse Udesh Pillay, Chefe do Centro de Serviços do Conselho de Pesquisas de Ciências Humanas. "Eles vão se agravar e se agravar rapidamente".

Alguns acreditam que a violência seja ligada a questões políticas, já que em 2011 haverá eleições municipais.

"Isso não tem nada a ver com serviços prestados, mas sim com o crime", disse Chris Nkosi, funcionário distrital, enquanto avaliava os escritórios municipais destruídos em

Siyathuthuka, uma das cidades do leste atingidas por manifestações nesta semana.

O prédio, com suas vigas de madeira transformadas e cinzas e seu teto de zinco retorcido, fora construído em 1999. Ele abrigada uma biblioteca que havia acabado de receber novos livros. "Se você pede melhores serviços, como pode fazer isso?", disse Nkosi. "Não faz sentido".

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