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 | José D’Ambrosio/Divulgação
| Foto: José D’Ambrosio/Divulgação

André Rocha Ferretti está em Durban, na África do Sul, para participar como observador do COP-17, a Conferência sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas. Ele é coordenador de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e concedeu a entrevista a seguir por e-mail, falando sobre a expectativa de um acordo "com metas mais ambiciosas do que as atuais" e as dificuldades para se chegar até ele.

Qual é a sua avaliação do primeiro período de compromisso do Protocolo de Kyoto, que termina no ano que vem?

O protocolo vai ser cumprido pela grande maioria dos países que o ratificaram. Só o Canadá já informou que não vai cumprir, nem vai participar do segundo período, caso ele seja aprovado.

A questão é que os EUA, principal emissor de GEE(gases do efeito estufa) em 1990, com cerca de 36% das emissões globais, não ratificou o documento, e ficou fora das obrigações de redução. Além disso, estudos mostram que até 2007 o mundo aumentou as emissões globais em 40%.

Os países em desenvolvimento, que deveriam estabilizar suas emissões com base no cenário de 1990, por esforços internos e com apoio tecnológico e financeiro dos países do Anexo 1 do Protocolo de Kyoto [confira abaixo a lista dos participantes], aumentaram em muito suas emissões nas últimas duas décadas. Hoje a China é o maior emissor, superando os EUA. O Brasil está entre os dez maiores, assim como outros emergentes como a Índia. Portanto, podemos afirmar que o Protocolo de Kyoto não obteve sucesso em estimular uma economia de baixo carbono no mundo a ponto de reduzir, ou pelo menos estabilizar as emissões globais.

É possível algum avanço real sem que EUA e China estejam de acordo?

Não. Cada vez mais fica claro que todos os países, principalmente os do G20, terão que cooperar de alguma forma, mesmo que com metas diferenciadas. A China tem mudado muito nos últimos 2 ou 3 anos, já dando sinal claro de que aceita assumir compromissos obrigatórios de redução. Porém, não entraram nisso sozinhos e exigem compromissos mais fortes dos EUA e da União Europeia. Até o Brasil já tem andado nessa direção, falando nas últimas COPs em ajudar financeiramente países pobres a se adaptarem às mudanças climáticas e também a se desenvolverem rumo a uma economia de baixo carbono. Porém, um grande avanço no médio e no longo prazo implica, necessariamente, em metas para os países do Anexo 1.

Se o Protocolo de Kyoto não for renovado, quais serão as piores consequências para o mundo?

Será uma grande perda. Apesar dos percalços e controvérsias, foi muito trabalhoso e difícil construir todo o arcabouço legal que norteia o Protocolo nesses 14 anos, desde que foi aprovado na COP-3 (de 1997, em Kyoto). Começar do zero, num cenário em que o mundo emite cerca de 50% mais carbono que em 1990, seria muito arriscado. A humanidade não tem mais esse tempo. Fazemos alguma coisa consistente nos próximos anos para reduzir emissões, ou não terá mais volta. Sofreremos graves consequências sociais, econômicas e ambientais, já muito divulgadas e debatidas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas [IPCC, na sigla em inglês].

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