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O atirador James Holmes, que matou 12 pessoas e feriu 58 durante uma sessão de cinema em Aurora, no Colorado, pode ser condenado à morte | RJ Sangosti/AFP
O atirador James Holmes, que matou 12 pessoas e feriu 58 durante uma sessão de cinema em Aurora, no Colorado, pode ser condenado à morte| Foto: RJ Sangosti/AFP

Opinião

"Evite conclusões precipitadas sobre o assassino"

Dave Cullen, autor de Columbine, sobre massacre de 1999 na Escola Columbine, no Colorado, onde os estudantes Eric Harris e Dylan Klebold atiraram em vários colegas e professores. Escreve para os jornais The New York Times, The Washington Post, The Times e The Guardian.

Você foi bombardeado com "fatos" e opiniões sobre os motivos de James Holmes ter atirado contra a plateia em um cinema no Colorado. Você, provavelmente, já expressou sua opinião sobre por que ele fez o ataque. E você provavelmente está errado.

Descobri isso do jeito difícil. Em 1999 eu morava em Denver, e estava na primeira onda de repórteres que chegou à Columbine High School, na tarde em que a escola foi atacada. Eu andei com o grupo de jornalistas que criou os mitos com os quais ainda convivemos. Nós criamos aqueles mitos por um motivo: estávamos tentando responder a perturbadora pergunta do por que, mas ainda era cedo demais.

Passei 10 anos estudando Columbine, e todos sabemos o que aconteceu lá, certo? Dois rapazes solitários aplicaram sua vingança contra os adolescentes populares, por serem vítimas de um bullying implacável.

Nada disso acabou se mostrando verdadeiro. A história real é muito mais perturbadora. E instrutiva.

Harris manteve um tipo de diário por um ano, focado principalmente em seus planos de explodir a escola e matar os sobreviventes com rifles de alta potência. Klebold manteve um diário mais tradicional por dois anos, expelindo uma selvagem mistura de angústia adolescente e profunda depressão, lutando seriamente com o suicídio desde a primeira página.

O público nunca fica surpreso com o diário de Harris. É apenas ódio e ódio, do começo ao fim. Ele era um psicopata de sangue frio, no uso clínico dessa expressão. Não tinha nenhuma empatia, nenhum respeito pelo sofrimento humano – ou mesmo pela vida humana.

O diário de Klebold é a revelação. Dez páginas são forradas por desenhos de grandes corações macios. Alguns preenchem páginas inteiras, outros aparecem em grupos felizes, junto ao texto "Eu te amo" atravessado. Ele possuía uma raiva feroz. E tinha um alvo principal para sua raiva. Não os garotos populares, mas ele mesmo. Ele se considerava uma criatura repulsiva. Sem amigos, sem amor. Nada disso era objetivamente verdade. Mas era o que ele enxergava.

Trata-se de um mal do colegial, levado ao extremo. Os psicólogos possuem um termo simples para esse estado: depressão. Os depressivos parecem tristes, mas essa é a visão de fora. Claro que estão tristes; eles provavelmente passaram o dia inteiro sendo incansavelmente repreendidos pela única pessoa no mundo cuja opinião lhes importa – eles mesmos.

Os psicólogos descrevem a depressão como uma raiva voltada para dentro. Quando essa raiva é de alguma forma invertida, e projetada para fora, cuidado.

Agora, você está sendo atingido por todo tipo de evidências sugerindo um motivo ou outro para o crime de James Holmes na sessão do filme Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge.

Resista à tentação de extrapolar detalhes prematuramente para entender o todo. Sempre que começar a achar que estamos prontos para responder o perturbador por que, foque na imagem dos corações de Dylan. O assassino raramente é quem parece ser.

Uma psiquiatra que atendia o autor da matança de 12 pessoas em um cinema de Aurora, Colorado, havia alertado seus colegas sobre o comportamento de James Holmes algumas semanas antes da tragédia.

Segundo o canal de televisão ABC News, Lynne Fenton, a psiquiatra que James Hol­­mes consultou no início deste ano na Universidade do Colorado, em Denver, onde ele cursava um doutorado em neurociências, teria repassado suas impressões a vários de seus colegas de um grupo de avaliação do comportamento e de análise de riscos. Mas esta apreciação não foi alvo de acompanhamento, pois na época em que a psiquiatra abordou o tema com o grupo, Holmes já estava deixando a universidade.

De acordo com a reporta­­gem, a Universidade do Colo­­rado não contatou a polícia depois de receber este relatório.

Alguns acreditam que o fato de o autor do massacre ter sido reprovado num exame importante em junho teria sido o detonador para que decidisse passar à ação.

Caderno

A polícia descobriu que Holmes enviou um caderno "cheio de detalhes sobre como ia matar as pessoas" a um psiquiatra da Universidade do Colorado antes do ataque, mas o pacote permaneceu na caixa postal do destinatário sem ser aberto.

"Havia desenhos do que ele ia fazer, desenhos e ilustrações do massacre", afirmou uma fonte policial. Entre os desenhos, havia alguns que mostrava seres humanos com armas de fogo disparando contra outras pessoas.

Ao encontrar o pacote de Holmes, o psiquiatra preferiu não abri-lo e informou a polícia, que foi investigar a correspondência. Não está claro quanto tempo o pacote ficou na caixa postal do psiquiatra e por que não chegou logo a seu destinatário, ou se foi descoberto antes do massacre.

Holmes enfrenta duas acusações de homicídio qualificado para cada uma das 12 pessoas que matou, uma por assassinato deliberado e outra por matar com extrema indiferença pela vida das vítimas.

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