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Bush ameaça vetar orçamento de emergência

Washington - O presidente americano, George W. Bush, ameaçou ontem vetar o orçamento de emergência para o Iraque e o Afeganistão se este incluir medidas para forçar uma retirada de tropas e gastos domésticos não relacionados à guerra. "O Congresso precisa aprovar os fundos de emergência para nossas tropas, sem restrições e sem demora. Se me mandarem um projeto que faça o contrário, vetarei", disse Bush em sua mensagem de rádio semanal.

Na próxima semana, a Câmara de Representantes debaterá uma medida orçamentária de 124 bilhões de dólares que inclui uma medida democrata para forçar a retirada do Iraque para setembro de 2008. O presidente advertiu que esse resultado seria desastroso e um pesadelo para o país e disse que prejudicaria o esforço atual por reduzir a violência confessional em Bagdá.

Bush disse que o polêmico projeto dará aos legisladores que apóiam as tropas americanas no Iraque uma oportunidade de demonstrar esse apoio na prática, criticando os gastos domésticos em detrimento do financiamento da guerra.

"O Congresso não deve permitir que o debate a respeito dos gastos domésticos atrase os fundos para nossas tropas no campo de batalha. E os membros (do Congresso) não deveriam usar os fundos de nossas tropas nos interesses especiais de seus distritos", advertiu Bush.

Washington – Depois de quatro anos, cerca de 3.200 soldados americanos mortos e mais de US$ 400 bilhões gastos na guerra do Iraque, os Estados Unidos estão atolados até o pescoço em um conflito sem soluções à vista.

A cada dia que passa, o Iraque mergulha mais fundo no abismo da guerra civil. O conflito étnico entre xiitas e sunitas está levando 9 mil iraquianos por mês a deixarem o país. O número de vidas iraquianas perdidas desde o início da guerra, entre os dias 19 e 20 de março de 2003, já chega a 60 mil. O presidente George W Bush aposta tudo em sua última estratégia, "a escalada", com o envio adicional de 21.500 soldados para tentar controlar as guerrilhas. Mas se esse último esforço fracassar, o Iraque muito provavelmente vai caminhar para um cenário de limpeza étnica semelhante aos Balcãs. "América está entre dois infernos – se continuar no Iraque, vai sangrar até a morte; se for embora vai perder tudo", disse Ayman al-Zawahiri, o braço direito do terrorista Osama bin Laden, em 2004. A profecia sombria do lugar-tenente da Al-Qaeda está assustadoramente perto de se concretizar.

"Os Estados Unidos já perderam a guerra do Iraque. Nossa presença está exacerbando as tensões étnicas e servindo como instrumento de recrutamento para terroristas", diz Natalie Goldring, professora do Centro de Estudos de Paz e Segurança da Universidade Georgetown. "Infelizmente, não há fórmula mágica: precisamos nos comprometer com uma retirada organizada, enquanto ajudamos a reconstruir o que sobrou do Iraque."

O governo Bush vive as conseqüências de uma guerra que começou pelos motivos errados – no final das contas, não existiam as famigeradas armas de destruição em massa no Iraque – e com a estratégia errada – os EUA não mandaram o número suficiente de soldados. Agora, vêem-se diante do desafio de treinar as tropas iraquianas para que tomem conta do país, lutam com soldados americanos extenuados e ainda deixaram a missão não cumprida no Afeganistão, que voltou a se transformar em um campo de treinamento de terroristas. De quebra, fortaleceram o imprevisível e nuclearizado Irã, ao eliminar os adversários do país, Saddam Hussein e o Taleban.

Estão em discussão no país duas abordagens para manobrar uma saída da guerra que seja o menos desonrosa possível. Os democratas e muitos analistas pregam a retirada das tropas americanas, porque não há nada mais que os marines possam fazer para apaziguar o Iraque. Segundo essa visão, a força militar americana não está ajudando, por isso quanto antes for feita a retirada, melhor – serão menos vidas jogadas fora. Congressistas querem estabelecer prazos para a retirada, porque acreditam que isso vai estimular os iraquianos a assumirem as rédeas do país.

Já o governo e a maioria dos republicanos acham que a "escalada" começa a surtir efeitos e uma retirada prematura seria catastrófica. Para eles, é necessário ter paciência, e estabelecer um prazo de retirada é dar munição para os inimigos.

Há outras propostas intermediárias. Martin Indyk, diretor do Centro de Estudos de Oriente Médio do Brookings Institution, acha que não será possível vencer essa guerra. "Precisamos parar de tentar intervir em uma guerra civil e adotar uma estratégia de contenção, para evitar que o conflito se espalhe", diz Indyk. Para isso, as tropas americanas deveriam se mover para as fronteiras do país, para deter países vizinhos, e oferecer ajuda humanitária aos milhares de iraquianos que serão vítimas de limpeza étnica.

O Grupo do Iraque, cujo diagnóstico foi solenemente ignorado por Bush, prega diplomacia e maior engajamento com Irã, Síria e outros países da região – estratégia que a secretária de Estado Condoleezza Rice começa a perseguir, sutilmente, após os neoconservadores terem caído em desgraça, um a um.

O Congresso está tentando determinar prazos para a saída do país da guerra – a proposta de retirada em 18 meses não passou no Senado, mas avança na Câmara e pode ser votada na semana que vem. Mas a Casa Branca já avisou que, se a medida passar, o presidente vai vetar.

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