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Soldados do Sri Lanka no interior da Igreja de São Sebastião, em Negombo, 21 de abril. Foto: AFP
Soldados do Sri Lanka no interior da Igreja de São Sebastião, em Negombo, 21 de abril. Foto: AFP| Foto:

O Sri Lanka acusou nesta segunda-feira (22) um grupo extremista islâmico local, o National Thowheed Jamaath (NTJ), de estar por trás da série de atentados a igrejas e hotéis que mataram pelo menos 290 pessoas.

O ministro do Turismo do Sri Lanka, John Amaratunga, disse que 39 estrangeiros morreram e 28 ficaram feridos.

O ministro da Saúde, Rajitha Senaratne, disse que o grupo, cujo nome é traduzido como Organização Nacional do Monoteísmo, perpetrou os ataques usando homens-bomba em três igrejas e três hotéis. Ele acrescentou que uma rede estrangeira provavelmente estava envolvida.

"Não acreditamos que esses ataques tenham sido realizados por um grupo de pessoas confinadas a este país", disse Senaratne. "Havia uma rede internacional sem a qual esses ataques não poderiam ter sido bem-sucedidos."

Ele pediu que o inspetor da polícia, Pujith Jayasundara, renuncie porque as agências de segurança receberam um relatório alertando sobre os ataques deste grupo contra igrejas e hotéis semanas antes.

O presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, disse que buscará "assistência internacional" para a investigação das explosões em série. Agências de inteligência informaram que "organizações internacionais" estão por trás desses "atos de terroristas locais", disse um comunicado de seu gabinete. A declaração também disse que o governo implementaria medidas antiterroristas que dão à polícia poderes adicionais.

Fora do radar

Um funcionário da segurança do Sri Lanka caracterizou o Thowheed Jamaath como uma célula do Estado Islâmico que tem atuado em Kattankudy, uma área na parte leste do país e lar de uma de suas maiores populações muçulmanas. Acredita-se que a liderança do grupo esteja baseada lá, disse o oficial.

O Thowheed Jamaath "não estava no radar de ninguém", disse Michael Leiter, que atuou como diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo nas administrações Bush e Obama. Ele disse que o ataque provavelmente teve um vínculo internacional, dado que não apenas os cingaleses foram alvo.

"Não me surpreenderia se houvesse pelo menos algumas pessoas que tenham viajado para a Síria", acrescentou Leiter. "Nunca houve uma grande população do Sri Lanka lá, mas é preciso apenas um ou dois para retornar e inspirar um grupo local a se alinhar ideologicamente e taticamente com uma organização jihadista global violenta."

Por outro lado, a ausência de qualquer reivindicação clara de responsabilidade de uma organização terrorista internacional estabelecida sugere que pode ser cedo demais para dizer se os ataques a bombas do Sri Lanka tiveram assistência externa, disse Nicholas Rasmussen, ex-diretor sênior de contraterrorismo do National Conselho de Segurança, que também dirigiu o Centro Nacional de Contraterrorismo nas administrações Obama e Trump.

"Mas não precisaria muito – uma conexão entre combatentes do Sri Lanka na Síria com pessoas que pensam igual em casa – para criar tal conexão", disse Rasmussen. Ele acrescentou que o alto número de mortos e os ataques simultâneos sugerem um grau de sofisticação para fabricação de bombas e organização que são "características de um grupo estabelecido".

O SITE Intelligence Group, que acompanha atividades extremistas online, disse em seu site na segunda-feira que um defensor do Estado Islâmico não identificado distribuiu fotos de três supostos "comandos" envolvidos nos ataques ao Sri Lanka. As fotos foram postadas em salas de bate-papo de apoiadores do Estado Islâmico, e os homens, retratados segurando armas em frente a bandeiras do Estado Islâmico, foram descritos como "entre os irmãos de comando no Sri Lanka", disse o SITE.

O grupo informou no domingo que os partidários do Estado Islâmico estavam retratando os ataques como vingança por ataques contra mesquitas e muçulmanos.

Os atentados mostram que a capacidade do Estado Islâmico de influenciar ataques terroristas pelo mundo continua presente, diz Iain Overton, diretor da Ação em Violência Armada, entidade que trabalha para reduzir o número de mortes causadas por armas no mundo.

"É quase impossível dizer se [o ataque no Sri Lanka] foi feito por ordem direta do EI ou por sua influência. Mas o Estado Islâmico opera por meio da influência. A propaganda é um elemento da estratégia dele. Eles tentam repassar suas ideias para um grande número de grupos pequenos e lobos solitários", disse Overton.

Os ataques altamente coordenados que deixaram a nação insular de luto foram um golpe esmagador depois de quase uma década de paz desde o fim de sua guerra civil.

Mesmo DNA

Especialistas notaram que os ataques têm as principais características de ataques anteriores da Al-Qaeda e do Estado Islâmico.

“Estes ataques sincronizados são fora do comum para o Sri Lanka. Comparados com ataques similares no Oriente Médio e no sudeste da Ásia, eles têm o DNA de ataques realizados pela Al-Qaeda e pelo Estado Islâmico”, disse Alto Labetunun, analista antiterrorismo que estuda os dois grupos há uma década, ao site de notícias Al Jazeera.

Uma autoridade em contraterrorismo da Ásia, que não quis ser identificado, disse à agência de notícias Reuters que os ataques provavelmente foram feitos por um grupo com “significativa capacidade operacional e comando qualificado”.

O grupo terrorista islamista National Thowheed Jamaath era relativamente desconhecido até então, e ainda não havia realizado nenhum ataque mortal.

Eles ganharam notoriedade em dezembro passado, quando foram relacionados a atos de vandalismo contra estátuas budistas no Sri Lanka. O caso causou revolta entre a maioria budista do país.

O líder do grupo, Abdul Razik, foi detido várias vezes antes dos ataques da Páscoa, segundo o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung. Ele foi acusado de incitamento ao ódio religioso. Depois de um incidente em 2016, o líder do grupo budista ultranacionalista Bodu Bala Sena (BSS) alertou sobre um “banho de sangue” caso Razik não fosse imediatamente preso. O BSS também tem sido acusado de instigar o ódio contra muçulmanos e cristãos.

A suposta destruição pelo grupo das estátuas budistas foi um sinal da radicalização do NTJ. Em janeiro, forças de segurança descobriram 100 quilos de explosivos perto de um parque, mas nenhum grupo específico foi mencionado nesse caso. No entanto, as autoridades anunciaram em seguida a prisão de quatro muçulmanos radicais.

Com informações do Washington Post e Folhapress.

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