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Membros do Corpo de Voluntários Russos e da Legião da Liberdade para a Rússia posam para fotos em Kharkiv, no nordeste da Ucrânia
Membros do Corpo de Voluntários Russos e da Legião da Liberdade para a Rússia posam para fotos em Kharkiv, no nordeste da Ucrânia| Foto: EFE/EPA/SERGEY KOZLOV

Na semana passada, dois grupos armados russos que se opõem ao presidente Vladimir Putin ganharam destaque no noticiário sobre a guerra da Ucrânia devido a um ataque na região russa de Belgorod, na fronteira com o território ucraniano.

Esses grupos alegaram que conseguiram penetrar 42 quilômetros no território da Rússia e negaram informações do Kremlin de que seus integrantes teriam sido mortos pelas forças russas.

Moscou os chamou de “sabotadores” e “terroristas ucranianos”, mas a Ucrânia informou que que não participou dessa incursão armada e endossou a alegação dos dois grupos de que o ataque foi perpetrado por cidadãos russos.

“A Ucrânia está acompanhando os eventos na região de Belgorod, na Rússia, com interesse e analisando a situação, mas não tem nada a ver com isso. Como vocês sabem, tanques são vendidos em qualquer loja militar russa e os grupos guerrilheiros clandestinos são compostos por cidadãos russos”, afirmou Mykhailo Podolyak, assessor do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Dois grupos armados teriam participado da ação em Belgorod: o Corpo de Voluntários Russos (RVC, na sigla em inglês) e a Legião da Liberdade para a Rússia, que declararam ter o objetivo de “libertar” o país de Putin.

O RVC reivindicou uma ação pela primeira vez em março, um ataque na região russa de Briansk (também na fronteira com a Ucrânia). Embora a Rússia tenha alegado que na ocasião o grupo fez reféns, o RVC negou e afirmou que a incursão teve apenas o objetivo de convocar russos a se rebelarem contra o governo.

Também em março, o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, um dos sucessores da KGB) acusou o grupo de tentar organizar uma ação para matar o empresário russo Konstantin Malofeev, apoiador de Putin. O líder do RVC é Denis Kapustin ou Denis Nikitin, que teve relações com grupos neonazistas denunciadas por um site investigativo ucraniano.

Já a Legião da Liberdade para a Rússia teria sido criada em março de 2022, após Zelensky convocar voluntários de todo o mundo para ajudar as forças ucranianas a responder à invasão russa.

“Em termos de ideologia, [a Legião] é confusa. Eles não são nada parecidos com o Corpo de Voluntários Russos, que é uma bem conhecida milícia protonazista de extrema direita, com quem aparentemente lutaram juntos no ataque a Belgorod”, disse Stephen Hall, especialista em Rússia da Universidade de Bath, à France 24.

O analista destacou que a ação dos dois grupos é “muito importante” para a propaganda ucraniana.

“Sua mera existência mostra que os russos estão lutando diretamente contra Putin e envia a mensagem de que o regime deve estar ciente e temer possíveis ações dentro do país. É por isso que há quem diga que [esses grupos] podem ser uma operação de relações públicas para a Ucrânia. É [simplesmente] perfeito demais”, explicou Hall, que destacou que essa relação ambígua, entre trabalhar junto e independentemente das forças ucranianas, ajuda Kiev na realização de incursões em território russo.

“O que a Legião oferece a Kiev é [a possibilidade de] uma negação plausível quando se tratar de conversar com os países ocidentais sobre algo que aconteceu em território russo”, justificou Hall.

Por ora, uma ameaça menor

Em entrevista à Gazeta do Povo, o analista militar e coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho afirmou que, embora o governo ucraniano negue, é “bastante provável” que os dois grupos recebam apoio ucraniano.

“Os veículos utilizados na ação em Belgorod, de origem americana, dificilmente chegariam até os grupos sem alguma participação ucraniana. Além disso, os próprios integrantes já deram declarações de que coordenam suas ações com as forças ucranianas. É bom salientar que isso não é nenhuma novidade. Há inúmeros exemplos históricos em que exércitos em guerra treinaram e estimularam descontentes do lado adversário, fomentando movimentos insurgentes e de resistência. Os partisans franceses e italianos, na Segunda Guerra Mundial, foram um exemplo disso”, destacou Gomes Filho.

Entretanto, a força exata desses dois grupos é desconhecida. Em entrevistas à imprensa, suas lideranças afirmaram que por enquanto ambos são compostos por “centenas” de homens, o que, diante do poder de fogo de um dos maiores exércitos do mundo, parece pouco para dar grandes dores de cabeça para Putin.

“Creio que são movimentos ainda muito incipientes que, apesar de poderem provocar preocupação nos russos, desviar parte de sua atenção do esforço principal no teatro de operações [na Ucrânia], ainda estão muito longe de, por si próprios, representarem uma ameaça séria ao governo Putin”, afirmou Gomes Filho.

Dessa forma, o analista não acredita que Putin poderá usar ações do RVC e da Legião da Liberdade para a Rússia para justificar eventuais escaladas na guerra da Ucrânia – ao menos por enquanto.

“Ele até pode usar [como justificativa], mas só se houver uma ação muito espetacular, algo em Moscou, que eu não acredito que esses grupos tenham condição de fazer. Enquanto ficarem restritos a esses ataques pontuais em cidades nas fronteiras, eu acho muito difícil que o Putin use isso para algum tipo de escalada”, argumentou o especialista.

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