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Apoiadores de Joe Biden demonstram apoio ao Partido Democrata na Virgínia.
Apoiadores de Joe Biden demonstram apoio ao Partido Democrata na Virgínia.| Foto: AFP

Ao participar da convenção de 2020 do Partido Democrata deste ano, John Kasich, ex-governador de Ohio, estado do Centro-Oeste dos Estados Unidos, afirmou que “em tempos normais, algo assim não aconteceria. Mas estes não são tempos normais”. Isso porque Kasich, que já foi apresentador da Fox News – canal conhecido por suas posições conservadoras – e pré-candidato às eleições presidenciais de 2000 e 2016, é filiado ao Partido Republicano, já tendo sido apoiado, inclusive, pelo Tea Party, ala mais conservadora da legenda.

“Sim, há áreas em que eu e Joe discordamos (...). Podemos fazer melhor do que o que estamos vendo hoje, com certeza. Eu sei que Joe Biden, com sua experiência, conhecimento e decência, pode nos unir e nos ajudar a encontrar um caminho melhor”, disse Kasich no evento que sacramentou Joe Biden como oponente de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas de novembro. Ao justificar seu apoio ao candidato democrata, o político disse que não deixou de ser um republicano, mas que sua filiação foi, neste momento, superada por sua preocupação com os rumos do país.

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O ex-governador de Ohio não foi, contudo, o único dissidente assumido a discursar na convenção do Partido Democrata, que ocorreu em meados de agosto. Christine Whitman, ex-governadora de New Jersey; Meg Whitman, executiva e ex-candidata ao governo da Califórnia; e Susan Molinari, ex-deputada de Nova York, foram outras personalidades republicanas a pedir votos para Joe Biden no pleito deste ano.

Eles integram um grupo que, à primeira vista, parece curioso, para dizer o mínimo, mas que tem suas explicações: o dos republicanos contrários à eleição de Donald Trump.  Além dos políticos que falaram na convenção democrata, também já se posicionaram publicamente contra o colega de partido os ex-membros do Congresso norte-americano Jeff Flake (Arizona), John Warner (Virgínia), Gordon Humphrey (New Hampshire), Charlie Dent (Pensilvânia)  e Ray LaHood (Illinois), que foi, inclusive, secretário de Transportes na gestão de Barack Obama.

“Esses ex-membros do Congresso citaram a corrupção de Trump, a destruição da democracia, o desrespeito flagrante pela decência moral e a necessidade urgente de colocar o país de volta a seu curso como razões para apoiar Biden. Eles apoiam Joe Biden porque sabem o que está em jogo nesta eleição e [sabem] que as falhas de Trump como presidente colocaram de lado o partidarismo”, anunciou a campanha do Partido Democrata deste ano.

“Trump destruiu o conservadorismo”

Para Michael Beschloss, historiador norte-americano especializado na presidência do país, o objetivo da campanha de Biden em utilizar essas figuras a seu favor tem um objetivo bem claro: apresentar o candidato democrata como uma espécie de “porto seguro” para os eleitores neste momento.

“O fato de a convenção [democrata] mostrar republicanos famosos apoiando Biden significa enviar a mensagem de que ele é uma figura unificadora e que seu oponente é tão extremista que até membros de seu próprio partido o abandonaram. Em tempos mais recentes, endossos assim tiveram menos peso do que costumavam, mas os democratas de 2020 usaram republicanos tradicionais como John Kasich para sugerir que Donald Trump é muito radical e que Joe Biden é um porto seguro na tempestade”, pontua.

Outro nome de peso que se voltou contra Donald Trump é o do consultor político Stuart Stevens, que atuou como marketeiro de George W. Bush e estrategista da campanha presidencial de Mitt Romney, em 2012, para citar apenas alguns de seus trabalhos com políticos do Partido Republicano em décadas de atuação na área. No início de agosto, Stevens lançou o livro “It Was All a Lie: How the Republican Party Became Donald Trump” (em tradução livre para o português, “Era tudo mentira: como o Partido Republicano se transformou em Donald Trump”).

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“[Os republicanos] pensaram que poderiam controlá-lo [Trump]. Como átomos, ou algo assim, e eles acabaram com Chernobyl. Todos esses republicanos que sabem que Donald Trump é um desastre tentarão justificá-lo porque conseguiram algo que queriam (...). Os republicanos sempre dizem que você não pode negociar com terroristas; bem, Donald Trump é um terrorista e o Partido Republicano decidiu negociar com ele. Como isso funcionou? Ele destruiu o conservadorismo. Ele é o presidente mais anticonservador que já vi em minha vida”, afirmou em entrevista ao site Politico.

O autor também disse que “observar o Partido Republicano é como assistir a um amigo beber até a morte”. Para ele, a legenda “legitimou o ódio”, e esse ódio não poderá sequer ser parcialmente derrotado se Trump não for derrotado também.

Eleitores republicanos contra Trump

Stevens atua como conselheiro sênior do Lincoln Project, um comitê de ação política norte-americano formado no fim de 2019 por integrantes do movimento Never Trump e por vários atuais e ex-republicanos. O objetivo do grupo é evitar a reeleição do atual presidente, bem como derrotar os trumpistas no Senado dos EUA.

“As eleições deste outono [no Hemisfério Norte] envolverão muito mais do que apenas decidir quem controla uma das casas do Congresso ou a Casa Branca. Em novembro próximo, o povo americano vai decidir sobre o caminho para o futuro da América. Toda a prosperidade e liberdade que consideramos naturais dependem de nossos representantes servirem à Constituição. Hoje, uma parte abdicou dessa responsabilidade e, em vez disso, jurou lealdade a uma pessoa [Trump]”, traz o site oficial do Lincoln Project.

O movimento Never Trump teve atuação nas eleições de 2016 e ressurgiu para se opor ao candidato no pleito de 2020. Para os republicanos que defendem o movimento, “o cargo mais poderoso do mundo precisa de mais do que um presidente fraco, incapaz e instável (...). Trump não tem força para liderar, nem caráter para admitir isso”.

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Há também o Republican Voters Against Trump (Eleitores Republicanos contra Trump), uma coalizão de republicanos, ex-republicanos, conservadores e ex-eleitores de Trump que optaram por não apoiá-lo nas eleições de 2020.

“Apesar das alegações do presidente de que ele tem o apoio total do partido, há milhões de eleitores que costumavam ser republicanos de confiança, mas estão enojados com a administração Trump. Alguns estão chateados com as dívidas crescentes. Outros sobre como ele rebaixou o cargo. Alguns desejam que ele siga uma política de imigração mais humana. Outros estão desapontados por ele não ter cumprido suas promessas. Não importa o motivo, eles estão unidos em querer que o país saia dessa presidência profundamente não americana”, aponta o movimento.

Outro grupo que merece ser citado é o Republicanos e Independentes por Biden, liderado por Christine Todd Whitman, a ex-governadora republicana de Nova Jersey que discursou na convenção democrata. O movimento é formado por cerca de 100 líderes republicanos e independentes que decidiram apoiar o vice-presidente da gestão Obama nas eleições de 2020. Outro ex-governador que integra o grupo é Bill Weld, de Massachusetts, que tentou ser o nome indicado pelo Partido Republicano para o pleito de novembro no lugar de Trump, sem sucesso.

Para Whitman, Trump é um "traidor dos ideais conservadores" e mentiroso, além de ter falhado no combate à pandemia de Covid-19 nos EUA.

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