Confronto fere sete palestinos
Das agências
Tropas israelenses feriram sete estudantes palestinos durante um confronto na Cisjordânia ontem, informaram fontes palestinas. Devido ao aumento da tensão, a polícia de Israel decidiu manter o estado de alerta na parte oriental anexada de Jerusalém e o Exército declarou "zona militar fechada" os povoados palestinos de Bilin e Nilin.
Opinião
Eles não querem profetas
André Gonçalves, correspondente da Gazeta do Povo em Brasília
Um barbudo de origem humilde falando de paz na Terra Santa não é exatamente uma novidade na história da humanidade.
A surpresa é que esse homem seja brasileiro. Quando o jornal israelense Haaretz definiu Lula como "profeta do diálogo", na semana passada, a viagem do presidente pelo Oriente Médio ganhou contornos quase bíblicos. Parece que enfim chegou o cara capaz de resolver o confronto entre Israel e Palestina. Pura crendice.
Estive em Israel em janeiro para participar de um curso sobre jornalismo em áreas de conflito. Tive contato com todo tipo de gente, especialmente pessoas ligadas à política e à diplomacia israelense.
A cada oportunidade, perguntava como eles viam o interesse de Lula em intermediar o conflito com os palestinos. Ninguém aferiu legitimidade no Brasil para dar pitaco no Oriente Médio.
Primeiro porque no mundo real das relações internacionais o Brasil é uma figura em ascensão, mas ainda distante de ser consolidada. É só ver as trapalhadas recentes do país em Honduras e no trato aos prisioneiros políticos em Cuba.
O segundo e mais importante ponto é a aproximação do governo brasileiro com o Irã. Nada provoca mais arrepios nos israelenses do que aceitar conselhos de um parceiro declarado da dupla Ali Khamenei e Mahmoud Ahmadinejad.
Não é por isso, porém, que devemos crucificar o nosso barbudo. Se Lula é equivocado na relação com o Irã, dá exemplo aos Estados Unidos ao fazer gestos claros favoráveis à paz, como tratar com igualdade israelenses e palestinos.
O problema é que são só gestos e devem ser interpretados dessa maneira, nas suas reduzidas proporções. Achar de verdade que Lula pode jogar para valer como grande mediador no Oriente Médio é outra história, bem difícil de crer.
De profetas, tanto muçulmanos como judeus já estão cheios.
A primeira visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Israel deixou evidente o descompasso no governo de Jerusalém. Para os israelenses, a chegada de Lula rachou o governo: enquanto o premier Benjamin Netanyahu se esforçava para recrutar o apoio do Brasil às novas sanções contra o Irã, na contramão de todos os esforços diplomáticos, seu chanceler, Avigdor Lieberman, decidiu boicotar a visita do presidente, alegando os laços brasileiros com Teerã e a recusa de Lula em colocar flores no túmulo do líder sionista Theodor Herzl, parte da cerimônia protocolar. Lula foi homenageado numa sessão extraordinária na Knesset (o Parlamento israelense) e, junto com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reuniu-se com Netanyahu, que não hesitou em aumentar a pressão pelo apoio de Brasília contra o Irã.
Com o racha dos anfitriões, para os brasileiros, a surpresa ficou por causa do desvio completo do principal foco da visita. Com um discurso pronto, em que defendia a criação do Estado palestino e colocava o Brasil à disposição para mediar o acordo de paz no Oriente Médio, Lula foi atropelado pelas pressões israelenses tanto de Netanyahu, como de parlamentares governistas e da oposição pedindo a mudança urgente da postura brasileira em relação à política nuclear do Irã.
"É importante isolar o Irã, não somente criticar", disse Tzipi Livni, líder da oposição e ex-chanceler. "Muitos países começaram a entender (que) o regime não se impressiona com sanções fracas. Peço que (o Brasil) una-se a esses países que já reconheceram esse perigo", afirmou o presidente da Knesset, Reuven Rivlin, olhando para Lula, que sorria e mantinha postura relaxada. "Vocês são a favor da liberdade. Eles (os iranianos) têm valores diferentes e usam a crueldade. Eles adoram a morte e o terror, vocês adoram a vida", completou Netanyahu.
O incidente diplomático pela recusa em visitar o túmulo de Herzl ganhou as manchetes dos jornais locais, rádios e tevês. No site do Maariv, a notícia foi a mais lida do dia. Mais de 140 leitores comentaram a informação, a maioria condenando a postura brasileira. Na edição matutina do Yediot Ahronot, o jornal destacou o imbróglio, sob o título "Herzl não, Arafat sim", uma referência ao fato de que Lula confirmou que pretende depositar flores no túmulo do líder palestino Yasser Arafat na visita, amanhã, a cidade de Ramallah, na Cisjordânia. O Itamaraty informou que a visita ao túmúlo de Herzl não estava prevista na agenda de Lula.
Irã e Bolívia
O presidente brasileiro evitou tocar no nome do Irã durante os três discursos que fez ontem em Israel, mas deu uma pincelada no tema nuclear, ao pedir, na Knesset, que "outras partes do mundo sigam o exemplo" do Brasil, onde há "proibição constitucional de produção e utilização de armamento nuclear". Israel é suspeito de ter armas nucleares não declaradas. Lula também procurou destacar sua autoridade para falar em paz. Ele disse que, em sua trajetória pessoal, "viveu situações de alta conflitividade" como sindicalista e líder político. Ao mencionar a nacionalização de uma refinaria da Petrobras pela Bolívia, em 2006, e a resolução pelo diálogo, o presidente sugeriu nas entrelinhas uma comparação entre o caso e o conflito milenar entre povos no Oriente Médio. Mesmo a esquerda israelense se mostrou decepcionada com o discurso de Lula. "Ele foi diplomático demais, moderado demais. E não explicou as razões que o levam a apoiar o Irã", disse o líder do partido de esquerda Meretz, Haim Oron.
O giro presidencial pelo Oriente Médio continua hoje, com visitas programadas ao Museu do Holocausto, à Universidade Hebraica e ao túmulo de Ytzhak Rabin. À tarde, Lula irá a Belém, cidade controlada pelos palestinos.
* * * * * *
Interatividade
Qual é a sua opinião sobre o fato de Lula ter se recusado a visitar o túmulo do líder sionista Theodor Herzl?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
* * * * * *
* A jornalista viajou a convite do governo israelense
Deixe sua opinião