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Santa Cruz de la Sierra – A nacionalização de terras pelo governo da Bolívia ainda é mais promessa que realidade. Até ontem à noite, o setor produtivo do Departamento de Santa Cruz de la Sierra previa que o Poder Executivo não vai anunciar uma posição oficial esta semana, apesar de a imprensa boliviana dar como certa a publicação de um plano de reforma agrária ainda hoje.

Enquanto isso, só aumenta a apreensão não somente entre os agricultores brasileiros que têm atividade no país vizinho, mas também entre os produtores bolivianos que, em tese, também ocupam áreas ilegais ou mantém latifúndios improdutivos. A reforma agrária ameaça ainda prolongar a crise diplomática entre La Paz e Brasília, deflagrada com a nacionalização do gás e do petróleo bolivianos, há duas semanas.

Para Pablo Volpe, analista técnico-econômico da Associação Nacional de Produtores de Oleaginosas e Trigo (Anapo), a maioria dos agricultores brasileiros que está na Bolívia não tem o que temer. "A imprensa está exagerando, não acredito que o governo vai confiscar terras produtivas."

O presidente boliviano, Evo Morales, disse ontem em Estrasburgo (leste da França), que "as terras que possuem uma função social econômica, as terras produtivas, serão respeitadas". Ele chamou os planos do governo de "revolução agrária" e afirmou que vai acabar com os "latifúndios improdutivos", durante entrevista transmitida pelas redes de tevê internacionais.

Segundo Volpe, os casos de brasileiros que detêm áreas de posse duvidosa são pontuais. O técnico explica que são questionadas faixas limítrofes de fazendas de brasileiros com pequenas ou grandes propriedades bolivianas. Dos 14 mil associados da Anapo, perto de 150 são brasileiros, que respondem por 38% da produção de soja do país.

Pelo menos por enquanto, a nacionalização das terras não passa de especulação do presidente Evo Morales, diz Volpe. Para ele, é uma maneira de o governo se impor e mostrar mais força nas relações internacionais que têm como epicentro a crise do gás.

Esperança

Um produtor brasileiro que está na Bolívia desde 1993 conversou com a reportagem mas não quis se identificar, justificando que, "politicamente, não convém". Ele cultiva 2,5 mil hectares em duas propriedades. Deixou totalmente a agricultura no Brasil para investir exclusivamente em solo boliviano. O sojicultor diz que aguarda com apreensão uma posição do governo, mas que tem esperança de continuar produzindo na Bolívia.

Ele também vê um certo exagero da mídia, uma vez que o decreto seria para corrigir basicamente duas situações: retirar agricultores da faixa de 50 quilômetros no limite das fronteiras, situação ilegal pela Constituição Boliviana; e desapropriar latifúndios improdutivos, revertendo a posse da terra ao governo.

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