Sucre Governadores de cinco departamentos da região mais rica da Bolívia, a chamada Meia Lua, se reuniram ontem em Santa Cruz de La Sierra para rechaçar a nova Constituição aprovada em primeira instância sábado em um quartel sem a participação da oposição e anunciar uma Carta Autonômica Constitucional, uma espécie de Constituição paralela, imposta de forma unilateral e que põe a região a um passo de formalizar a independência. Segundo o governador de Santa Cruz, Rúben Costa, a Carta é uma clara resposta à Constituição.
"Fizemos uma reunião de emergência para analisar a situação. Amanhã (hoje) vamos continuar esta reunião. Posteriormente, vamos nos reunir com as instituições de Santa Cruz para avaliarmos a Carta Autonômica. Esta noite (ontem), a Carta será lida para que o país possa conhecê-la e seguramente tomaremos as medidas necessárias pois não aceitamos a nova Constituição (da Bolívia), um panfleto feito entre quatro paredes com uma baioneta, com o luto e com o enfrentamento, cujas causas têm um só responsável: o presidente da República, que tem as mãos manchadas de sangue", disse Costa.
Apoiados pelos empresários locais, os governadores da Meia Lua defendem autonomia dos departamentos para poderem administrar os recursos provenientes da exploração dos hidrocarbonetos e demais riquezas minerais. O território formado pelos departamentos da região representa cerca de 70% da Bolívia, gera a maior parte da riqueza do país e tem os melhores indicadores sociais de um dos Estados mais pobres do continente.
Segundo o professor e historiador Francisco Carlos Teixeira, do Laboratório do Tempo Presente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Carta de autonomia é uma contra-Constituição e representa, de fato, uma ruptura com La Paz.



