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Uma gafe cometida pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, provoca grande repercussão no país e aumenta a expectativa para o terceiro e último debate entre os principais candidatos da campanha eleitoral, na noite desta quinta-feira (29). No centro da polêmica criada pelo incidente está a imigração. A poucos dias das eleições de 6 de maio, o cenário continua indefinido e cresce a possibilidade de um parlamento sem maioria absoluta, o que levaria à necessidade de coalizão entre os partidos.

Brown vem aparecendo em terceiro lugar em pesquisas de intenção de voto, atrás do líder conservador, David Cameron, e do liberal democrata, Nick Clegg, que ganhou visibilidade e embaralhou a disputa após sua aparição no primeiro debate pela TV, em 15 de abril. Diversos órgãos de imprensa dizem que Brown deve perder mais votos depois da gafe de hoje. Sem saber que seu microfone ainda estava ligado, ele chamou uma eleitora de "fanática" e teve de se desculpar publicamente.

O primeiro-ministro fazia campanha em Rochdale, no norte da Inglaterra, quando a aposentada Gillian Duffy, de 66 anos, o abordou na rua e começou a fazer perguntas sobre temas como impostos, educação e imigração. Ela reclamou da quantidade de trabalhadores do leste europeu que entram no país. Brown respondeu dizendo que trabalhadores britânicos também vão para outros países da União Europeia. Ao final da conversa, ele até se despediu dizendo que havia sido um prazer conhecê-la e que ela vestia a cor certa, pois usava uma blusa com detalhes em vermelho. No entanto, Brown entrou imediatamente no carro sem tirar e desligar o microfone que usava, da rede Sky, que divulgou a conversa.

"Você jamais deveria ter me colocado com aquela mulher, de quem foi a ideia?", disse Brown no carro a seu assistente, irritado com os comentários da aposentada sobre imigração. Ele também classificou a situação como "ridícula" e um "desastre". "Ela é apenas um tipo de mulher fanática."

Em entrevista para a rádio BBC, Brown se desculpou depois de ouvir a gravação com a mão segurando a cabeça - cena que pode ser a "imagem definidora" da campanha de 2010, avalia Michael White, comentarista do "The Guardian". O primeiro-ministro ainda foi à casa de Gillian, para se desculpar pessoalmente em um encontro reservado com duração de cerca de uma hora. "Eu não entendi o que ela disse, ela aceitou que houve um desentendimento e aceitou minhas desculpas", afirmou Brown, na saída do encontro.

A aposentada não acompanhou o pronunciamento do primeiro-ministro e, antes disso, se mostrou consternada com os comentários. Segundo a imprensa britânica, os tabloides já estariam tentando comprar a história de Gillian. "(Brown) não deveria insultar pessoas que fazem perguntas. Isso foi errado e ele fez certo em se desculpar", afirmou Nick Clegg.

No entanto, o trabalhista e ex-vice de Tony Blair, John Prescott, acusa a família Murdoch, dona da Sky, de tentar influenciar as eleições a favor dos conservadores. O tabloide "The Sun", do mesmo grupo, declarou publicamente seu apoio ao partido de David Cameron, rompendo anos de suporte aos trabalhistas.

A gafe está sendo comparada ao erro cometido pelo então primeiro-ministro conservador John Major durante os debates para o Tratado de Maastricht em 1993. Acreditando que seu microfone estava desligado, ele chamou eurocéticos do seu gabinete de "bastardos".

A polêmica esquenta o ambiente para o debate de amanhã à noite. Fator novo nesta campanha, a TV provocou verdadeira reviravolta na tradicional política bipartidária do país ao tirar Clegg do anonimato. Os três principais candidatos voltam a se enfrentar nesta quinta-feira, desta vez com o tema da economia. No centro das discussões estará a administração dos gastos públicos, diante da dívida galopante e do fraco desempenho econômico.

O assunto ganha ainda mais relevância com o alastramento da crise de dívida pela Europa. O Reino Unido possui um dos maiores déficits fiscais da região, de 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB). O país terá de cortar gastos, mas, em plena campanha, os candidatos resistem em apresentar propostas específicas para o problema.

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