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Um caça F16 na base aérea de Volkel, na Holanda
Um caça F16 na base aérea de Volkel, na Holanda| Foto: U.S Air Force / Wikimedia Commons

Um documento recentemente divulgado – e posteriormente apagado – publicado por um órgão afiliado à Otan gerou manchetes na Europa por causa de uma aparente confirmação de um antigo segredo aberto: armas nucleares dos Estados Unidos estão sendo armazenadas na Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda e Turquia.

Uma versão do documento, intitulado "Uma nova era para dissuasão nuclear? Modernização, controle de armas e forças nucleares aliadas", foi publicada em abril. Escrito por um senador canadense para o Comitê de Defesa e Segurança da Assembleia Parlamentar da Otan, o relatório avaliou o futuro da política de dissuasão nuclear da organização.

Mas o que viria a ser notícia meses depois é uma breve referência que parece revelar a localização de cerca de 150 armas nucleares norte-americanas que são armazenadas na Europa.

Segundo uma cópia do documento publicado nesta terça-feira (16) pelo jornal belga De Morgen, uma seção sobre o arsenal nuclear dizia: "Estas bombas estão armazenadas em seis bases dos EUA e Europa – Kleine Brogel na Bélgica, Büchel na Alemanha, Aviano e Ghedi-Torre na Itália, Volkel na Holanda e Incirlik na Turquia".

O documento não atribui essa informação a nenhuma fonte. Na semana passada, uma versão final do relatório foi publicada online, omitindo a referência específica sobre o local onde as bombas são armazenadas. Em vez disso, o relatório refere-se vagamente a aeronaves que poderiam transportar armas nucleares.

"Os aliados europeus frequentemente citados como operadores de tais aeronaves são a Bélgica, Alemanha, Itália, Holanda e Turquia", disse o documento, com uma nota de rodapé que cita um relatório de 2018 da Nuclear Threat Initiative, uma organização não-governamental americana.

O senador Joseph Day, autor do relatório, escreveu em um e-mail que a primeira versão do relatório era apenas um rascunho e que mudanças podem ser feitas no relatório até que ele seja apreciado pela Assembleia Parlamentar da Otan em novembro. "Todas as informações usadas neste relatório são de fontes abertas", escreveu ele.

Como regra geral, nem os Estados Unidos nem seus parceiros europeus discutem a localização das armas nucleares de Washington no continente. "Não comentamos os detalhes da postura nuclear da Otan", disse um funcionário da Otan, falando sob condição de anonimato, de acordo com as regras da organização para comunicação com a mídia.

"Este não é um documento oficial da Otan", acrescentou o funcionário, observando que o documento foi escrito por membros da Assembleia Parlamentar da Otan.

Alguns jornais europeus, no entanto, viram o relatório como a confirmação de um segredo aberto. "Finalmente, em preto no branco: existem armas nucleares americanas na Bélgica", disse a matéria no jornal De Morgen. "A Otan revela o segredo mais mal guardado da Holanda", disse a emissora holandesa RTL News.

A presença de armas nucleares dos EUA na Europa de fato não é "uma surpresa", disse por e-mail Kingston Reif, diretor de desarmamento e política de redução de ameaças da Associação de Controle de Armas. "Isso tem sido um conhecimento mais ou menos aberto há bastante tempo".

Já houve várias indicações claras da presença de armas nucleares americanas. Uma comunicação diplomática de um embaixador dos EUA na Alemanha sugeriu que havia preocupações sobre quanto tempo as armas poderiam ser mantidas nesses países.

"A retirada de armas nucleares da Alemanha e talvez da Bélgica e da Holanda pode tornar politicamente difícil para a Turquia manter seu próprio arsenal", dizia o memorando, escrito pelo então embaixador americano Philip Murphy em novembro de 2009.

A presença das armas derivou de um acordo firmado na década de 1960 e é, em muitos aspectos, uma relíquia da era da Guerra Fria – projetado não apenas para agir como dissuasão ao armamento nuclear da União Soviética, mas também para convencer os países de que eles não precisariam de um programa próprio de armas nucleares.

Mas os tempos mudaram. Em 2016, após uma tentativa de golpe e a rápida disseminação do grupo extremista Estado Islâmico, analistas se perguntaram abertamente se a Turquia era realmente um bom lugar para armazenar armas nucleares.

Enquanto isso, perto da base aérea de Büchel, na Alemanha, o fracasso dos tratados de controle de armas com a Rússia provocou temores sobre uma nova corrida armamentista. "A missão militar para a qual essas armas foram originalmente destinadas – deter uma invasão soviética à Europa Ocidental por causa de forças convencionais inferiores dos EUA e da OTAN – não existe mais", disse Reif.

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