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Ditador da Coreia do Norter, Kim Jong-un, cumprimenta o presidente dos EUA, Donald Trump | KEVIN LIM/AFP
Ditador da Coreia do Norter, Kim Jong-un, cumprimenta o presidente dos EUA, Donald Trump| Foto: KEVIN LIM/AFP

Não podemos dizer que o presidente Donald Trump é um cara ‘fácil de lidar’.

Em 2018, o presidente dos EUA brigou com aliados americanos e assinou compromissos com adversários da nação. Além disso, impôs tarifas contra potências econômicas e abandonou importantes acordos globais, derrubando normas internacionais de comércio, defesa e valores. 

Têm ocorrido tantos altos e baixos que é difícil acompanhar tudo. Aqui estão listadas algumas das principais lutas que Trump enfrentou – e as amizades que conquistou.

Presidente da França, Emmanuel Macron

Quando Trump tomou posse, parecia que ele e Macron iriam se dar muito bem. Na primeira viagem do líder norte-americano à Paris em 2017, o presidente francês o cortejou, fazendo de Trump o convidado de honra em um desfile militar e levando-o para jantar na Torre Eiffel. 

Mas, como muitos relacionamentos fracassados, as coisas começaram a mudar após uma falha de comunicação. 

Em 6 de novembro, Macron solicitou um “verdadeiro exército europeu” para reduzir a dependência que o continente tem dos Estados Unidos em gastos no setor de defesa. Trump, porém, entendeu mal e sugeriu, em tuítes, que o líder francês estava propondo um exército para defender a Europa contra os EUA, China e Rússia. Macron até tentou consertar as coisas, mas o estrago já estava feito. 

Leia também: O nacionalismo de Trump e o nacionalismo de Macron

Quando Trump viajou à Paris para comemorar o centenário da Primeira Guerra Mundial, Macron demonstrou rejeição velada à agenda “America First” de Trump. “O nacionalismo é uma traição ao patriotismo. Se colocamos os nossos próprios interesses em primeiro lugar, sem olhar para os outros, apagamos a coisa mais importante que uma nação tem, e que a mantêm viva: seus valores morais”, disse ele. 

Trump respondeu ironicamente, falando do baixo índice de aprovação de Macron, além de tuitar que “não há país mais nacionalista do que a França”. 

Primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau

Como a briga com Macron, a relação entre Trump e Trudeau começou a esfriar após uma viagem e uma tempestade de tuítes. 

Em junho, o primeiro-ministro recebeu Trump na cúpula do G7, em Quebec. O encontro foi uma demonstração desagradável de como o líder norte-americano se distanciou dos aliados dos EUA. Mas, apesar das tensões e desentendimentos, os líderes entraram em consenso sobre a promoção de um comércio justo e livre. 

Após Trump ter ido embora, Trudeau disse em uma coletiva de imprensa que era contra as tarifas dos EUA impostas sobre o aço e alumínio do Canadá, México e União Europeia. “Canadenses, nós somos educados, somos sensatos, mas não seremos pressionados”. 

Trump, a caminho de Cingapura para uma reunião com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, usou o Twitter para chamar Trudeau de “desonesto” e “fraco” e pediu aos funcionários dos EUA para que se retirassem do comunicado. 

Até hoje, as tarifas de ambos os países permanecem, mas os dois líderes não conseguiram se evitar completamente, e acabaram renegociando uma substituição do NAFTA junto com o México

“Eu tenho uma relação de trabalho boa e saudável com o presidente. É o que os canadenses esperam de mim. Os vínculos entre Canadá e EUA são tão profundos que, no fim, tudo vai ficar bem, independente de quem está no topo, de ambos os lados”, disse Trudeau à CNN em novembro. 

Chanceler da Alemanha, Angela Merkel

Trump e Merkel sempre tiveram uma relação distante. Mas, em julho, os dois líderes entraram em confronto como nunca, durante uma reunião da OTAN, em Bruxelas. Lá, Trump atacou a maior economia da Europa. “A Alemanha, pelo que sei, está ‘presa’ à Rússia porque grande parte da energia alemã vem de lá”, disse. 

O comentário irritou Merkel, que cresceu na Alemanha Oriental sob ocupação soviética e lutou contra a repressão russa durante todo o seu mandato político. Ela respondeu às observações de Trump de forma discreta, mas as coisas continuam tensas. 

Presidente da China, Xi Jinping

Há muito tempo Trump acusa a China de tomar proveito dos Estados Unidos. Em 2018, o governo americano impôs impostos sobre bens chineses no valor de US$ 250 bilhões. O país de Xi Jinping, porém, retaliou, criando uma reviravolta que deixou líderes e empresas nervosos. 

No final do ano, na cúpula do Grupo dos 20 na Argentina, Trump afirmou que ele e Xi Jinping haviam chegado a um acordo em relação ao comércio. No entanto, não está claro qual o teor do trato e nem se os dois países chegarão a um consenso definitivo sobre algo. 

Haiti, El Salvador e grande parte da África

Era para ser uma reunião fechada no Salão Oval, mas, como de costume na Casa Branca, as notícias vazaram. 

Em janeiro, Trump ficou frustrado com legisladores por causa de um acordo de proteção aos imigrantes do Haiti, El Salvador e de países africanos. Ele, então, atacou, perguntando: “Por que todas essas pessoas desses países de merda vêm parar aqui?”. O líder acrescentou que os Estados Unidos deveriam atrair mais pessoas de lugares como a Noruega ou de países asiáticos, porque, segundo ele, os imigrantes asiáticos ajudaram economicamente ao país. 

Os comentários provocaram uma rápida indignação ao redor do mundo. Representantes do Haiti, El Salvador e líderes de países africanos criticaram as declarações de Trump. 

O porta-voz do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, Rupert Colville, foi crítico e descreveu a declaração como ‘racista’. “Você não pode rebaixar países e continentes inteiros a ‘lugares de merda’, cujas populações, que não são brancas, não são bem-vindas”. 

Presidente do Irã, Hassan Rouhani 

As coisas nunca estiveram bem entre Trump e Rouhani. Este ano, porém, eles se superaram. 

Trump encheu seu gabinete com figuras notórias para ouvirem sua falácia quando o assunto era o Irã. Em maio, ele desistiu de um acordo nuclear de 2015 com o país, dizendo que "o principal patrocinador do terrorismo no mundo" fabricaria uma arma nuclear independentemente do trato. O presidente norte-americano também impôs sanções ao país, estrangulando-o economicamente. O Irã condenou a decisão de Trump de se retirar do acordo e decidiu manter o tratado, com a participação de outros aliados ocidentais. 

Em julho, Rouhani alertou Trump contra a imposição de mais sanções, o que acabou resultando neste tuíte presidencial: 

"Para o presidente iraniano Rouhani: Nunca, nunca ameace os Estados Unidos novamente ou você sofrerá consequências como poucos conheceram ao longo da história. Não somos mais um país que apoia suas palavras dementes de violência e morte. Cuidado!”. 

Em setembro, na Assembleia Geral das Nações Unidas, a tensão entre os dois líderes chegou ao auge quando eles trocaram farpas entre si. Trump usou seu discurso na ONU para condenar a "ditadura corrupta" do Irã, e Rouhani chamou a recusa de Trump de se envolver com seu país de um sintoma de "fraqueza intelectual". 

Primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan

Quando Khan assumiu o cargo de primeiro-ministro do Paquistão, muitos viram semelhanças entre Trump e o popular jogador de críquete que se tornou político e ganhou destaque ao protestar contra um establishment político corrupto. Mas a retórica antiamericana de Khan causou certa tensão na relação entre os dois países que, frequentemente, entraram em confronto em relação à guerra no Afeganistão e o apoio contínuo do Paquistão a militantes islâmicos na região. 

Em setembro, os Estados Unidos cortaram US$ 300 milhões em ajuda militar ao país, aumentando a pressão sobre o Paquistão para reprimir militantes. 

Tempo depois, em entrevista à Fox News, Trump acusou o Paquistão de "não fazer nada" para ajudar os EUA a capturar Osama bin Laden, apesar de todo o apoio financeiro que os norte-americanos deram ao país. 

Como Trump, Khan respondeu pelo Twitter. 

"Em vez de tornar o Paquistão um ‘bode expiatório’ para seus fracassos, os EUA deveriam avaliar seriamente por que, apesar de 140 mil soldados da OTAN, 250 mil soldados afegãos e 1 trilhão de dólares gastos na guerra no Afeganistão, os talibãs estão mais fortes do que antes", tuitou. 

Como deu para perceber, Trump brigou com muitos líderes mundiais e países este ano, mas houve alguns exemplos notáveis em que ele adotou uma abordagem muito mais tranquila. 

Cúpula entre Trump e Kim Jong-un em Cingapura

Ao mesmo tempo em que protestava contra o programa nuclear do Irã, Trump aqueceu as relações diplomáticas com o líder norte-coreano Kim Jong-un. No passado, o presidente chegou a ameaçar a Coreia do Norte com "fogo e fúria". Este ano, ele adotou uma abordagem mais suave, reunindo-se com o ditador do país em uma cúpula em Cingapura cheia de sorrisos e boas vibrações. 

Não está claro se essa reunião efetivamente impediu Kim de continuar se preparando para uma guerra nuclear. Relatórios indicam que Pyongyang continua a produzir e testar armas nucleares, fazendo com que alguns dentro do governo Trump se perguntem se o ditador enganou o líder dos EUA. 

Cúpula entre Trump e Putin em Helsinque

Trump pode ter criticado Merkel pelo que considera a dependência econômica da Alemanha em relação à Rússia, mas não assumiu uma posição tão forte contra o próprio presidente russo, Vladimir Putin. 

A administração Trump tomou certas medidas contra a Rússia neste ano, impondo sanções econômicas e visando os combatentes apoiados pela Rússia na Síria. Trump também disse que retiraria os Estados Unidos de um tratado de armas nucleares com o país que está em vigor desde 1984. 

Mas quando os dois se encontraram em Helsinque, em julho, nenhuma dessas preocupações parecia um problema. Ao lado de Putin, Trump questionou a conclusão das próprias agências americanas de inteligência de que a Rússia interferiu na eleição presidencial de 2016. Sua passividade diante do presidente russo foi criticada por legisladores e ex-funcionários. O diretor de Inteligência Nacional, Daniel Coats, se apresentou para defender a conclusão de que a Rússia interferiu, de fato, nas eleições dos EUA. 

Críticos do comportamento do presidente disseram que, ao não repreender Putin em Helsinque, Trump o empoderou. "Se Putin não se sentir encorajado agora, quando irá?", disse o ex-embaixador alemão nos Estados Unidos, Wolfgang Ischinger, ao New York Times. 

Príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman

A Arábia Saudita sempre teve um lugar especial no coração de Trump. Foi o primeiro país para o qual viajou como presidente e, desde então, manteve um relacionamento amigável com Mohammed. 

Essa relação foi testada em outubro, quando o jornalista saudita Jamal Khashoggi entrou no consulado saudita em Istambul e nunca mais saiu. A CIA acabou concluindo que Khashoggi, um crítico do governo, havia sido assassinado a pedidos do príncipe. O ocorrido provocou indignação na comunidade internacional e nos legisladores dos EUA. Alguns críticos pediram que o príncipe herdeiro fosse removido do poder. 

Trump, no entanto, tomou muito cuidado para retaliar o príncipe herdeiro em relação ao assassinato de Khashoggi, que era residente dos EUA e colunista colaborador do The Washington Post. Ele ainda não aceitou completamente a conclusão da CIA sobre o assunto. Trump citou um investimento planejado de US$ 450 bilhões da Arábia Saudita nos Estados Unidos como parte importante do relacionamento entre os países. Na realidade, os números são muito menores, e apenas US$ 14,5 bilhões em compras de armas pela Arábia Saudita foram reportados até agora.

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