A agência de notícias Reuters pediu neste domingo ao Exército dos EUA que investigue a morte de um de seus jornalistas, atingido por soldados americanos há um ano, em Bagdá. Uma investigação independente encomendada pela Reuters concluiu que a morte a tiros do técnico de som Waleed Khaled, em 28 de agosto do ano passado, teria sido "ilegal".
Mas o Pentágono não tem respondido aos pedidos para reexaminar as ordens do comandante local, que disse que os disparos contra o carro foram "apropriados".
Em abril, a Reuters entregou ao Departamento da Defesa dos Estados Unidos o relatório, que mostra que as provas apresentadas pelos próprios soldados não condizem com a conclusão do comandante.
O relatório também criticava o Exército por ter "perdido" imagens fundamentais para compreender o incidente gravadas pelo cinegrafista que viajava ao lado de Khaled no mesmo carro. Ele foi ferido no episódio e detido pelos soldados americanos.
- O Departamento da Defesa ignorou o relatório independente que concluiu que os soldados americanos violaram seu código de conduta e que a morte a tiros de Waleed era, à primeira vista, ilegal - disse Michael Lawrence, editor da Reuters para Europa, Oriente Médio e África. - A Reuters conclama o governo dos EUA a conduzir uma investigação completa e objetiva sobre a morte de Waleed Khaled.
O relatório apresentado por um ex-investigador militar britânico, que trabalha para a companhia The Risk Advisory Group (TRAG), disse que soldados dispararam de um telhado contra Khaled, 33, e o cinegrafista Haider Kadhem, 23, enquanto estavam sentados num carro estacionado.
Naquele momento, Kadhem filmava cenas ocorridas após um ataque a uma patrulha policial. Os disparos continuaram enquanto Khaled começou a andar de marcha ré para mostrar que não era uma ameaça aos militares.
Testemunhas e exames balísticos indicam que parte das 18 balas que atingiram o carro foi disparada após o veículo ter parado de se mover. Os soldados disseram ter acreditado, sem porém ter certeza disso, que a pequena câmera de Kadhem poderia ser um lança-granadas.
A TRAG afirmou que, daquela distância, os soldados não tinham como ver o que Kadhem estava segurando e que, por isso, os disparos não podem ser justificados de acordo com as regras militares do código de conduta dos EUA.
Em 11 de maio, Thomas Gimble, inspetor-geral em exercício do Departamento de Defesa dos EUA, disse que a questão havia sido passada aos comandantes no local. Desde então, a Reuters não tem conseguido identificar quem - ou se alguém - continua a lidar com o assunto.
Há um mês, o Comitê das Forças Armadas do Senado pediu a David Laufman, indicado pelo governo para o posto de inspetor-geral, se ele garantiria uma reavaliação do caso. Laufman não respondeu.
Khaled, ex-major do Exército iraquiano, deixou uma mulher e uma filha, além de um filho nascido dois meses após sua morte.
- Tudo o que queremos é que a investigação continue e que os soldados que mataram Waleed sejam punidos - disse o pai dele, Khaled Mohammed.
O aniversário da morte de Waleed Khaled acontece num momento em que comandantes americanos no Iraque tentam diminuir casos de violação do código de conduta que, eles reconhecem, podem alimentar o ódio dos iraquianos contra os americanos. Há atualmente quatro inquéritos de homicídio em andamento envolvendo as tropas americanas no Iraque.
Mais de cem jornalistas já morreram no Iraque desde 2003.
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