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Marcha em defesa de indígenas da Amazônia boliviana ganhou apoio de trabalhadores, estudantes e professores, em La Paz | Aizar Raldes/AFP
Marcha em defesa de indígenas da Amazônia boliviana ganhou apoio de trabalhadores, estudantes e professores, em La Paz| Foto: Aizar Raldes/AFP

Projeto

Mudança em traçado de estrada encarece obra, diz diretor da OAS da Buenos Aires

Uma eventual mudança no traçado da estrada que liga Villa Tunari a San Ignacio de Moxos pode tornar a obra inviável economicamente, diz o diretor da Área Internacional da construtora OAS, César Uzêda. Ele explica que a estrada tem extensão total de cerca de 300 quilômetros. O trecho dois, que está em discussão na Bolívia, representa quase 47% da obra e metade dele passa por uma reserva indígena.

"Existe alternativa no trajeto, mas isso aumentaria muito o tamanho da estrada. Economicamente ela poderia se tornar inviável. Estamos falando de um parque de 1,1 milhão de hectares. Isso resultaria em mais 150 quilômetros de construção", observa.

Uzêda diz que a construção dos trechos um e três, que não passam pela reserva, continuam em andamento. Ele ressalta que o governo da Bolívia é soberano para decidir o futuro do projeto, com manutenção ou alteração do traçado. Atualmente, cerca de 1.200 pessoas trabalham na obra. A previsão de conclusão integral da estrada está prevista para 2014. O trecho que passa pela reserva ainda não tem licenciamento ambiental e tinha início de construção estimado em julho de 2012.

O empréstimo de US$ 332 milhões aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) representa cerca de 80% do custo total da obra e ainda não foi liberado. Caso o traçado seja alterado em decorrência do referendo popular, o projeto deverá ser reapresentado ao banco. O BNDES afirma que é cedo para comentar o episódio, mas esse é o procedimento normal em caso de alterações em obras de infraestrutura.

Para Emílio Telleria, diretor da Câmara de Comércio Brasil-Bolívia, a principal importância do projeto, que faz parte do Corredor Bioceânico, planejado para ligar o porto de Santos, no Atlântico ao de Iquique (Chile), no Pacífico, é a integração da economia boliviana.

Agência O Globo

A Bolívia viveu ontem mais um dia de protestos pró-indígenas amazônicos e contra o governo Evo Morales, numa crise que pode se converter em revés na inédita e controversa eleição para o Judi­­ciário, prevista para o dia 16.

Em La Paz, uma marcha convocada pela Central Operária Bo­­liviana (COB), a maior central sindical do país, reuniu também professores, médicos, grupos ecologistas, indígenas e estudantes. Em outras grandes cidades também houve mobilizações.

Foi um indício de que a repressão do governo, domingo passado, aos indígenas que se opõem a uma estrada financiada pelo Brasil acabou unindo vários grupos descontentes com Morales, a maioria de sua base política.

A COB cobra cumprimento de acordos salariais do semestre passado, e médicos e professores pedem aumento.

Suspensão

O governo tentou estancar a crise anunciando a suspensão da construção da estrada, a cargo da brasileira OAS e com financiamento do BNDES.

Até agora, porém, a paralisação tem efeito nulo, já que a empresa não recebeu notificação para interromper os trabalhos nos trechos 1 e 3 da estrada. O trecho 2, foco da polêmica, porque cortará uma reserva ecológica, não começou a ser feito nem tem ainda licença ambiental.

O temor dos governistas é que a crise contamine as eleições do dia 16, quando os bolivianos escolherão pela primeira vez os magistrados dos altos tribunais do país. Os candidatos foram pré-selecionados pelo Congresso, controlado pelo governo.

A oposição a Morales pede voto nulo. "Se os manifestantes alcançarem uma votação nula expressiva, a estratégia pode funcionar como questionamento da eleição", diz Gonzalo Chávez, da Uni­­versidade Católica da Bolívia.

A avaliação dos especialistas em política boliviana é que os protestos enfraquecem Evo, mas que o governo não deverá cair, uma vez que a oposição boliviana está muito dividida. "Evo foi um símbolo muito forte para vários bolivianos. Ele encarnava princípios da justiça e dos direitos humanos. Mas agora essas pessoas estão desencantadas", afirma Jim Schultz, do think tank The Democracy Center, dos EUA, que acompanha a política boliviana.

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